Karma individual e karma coletivo
O karma individual é o denominador comum entre os diversos karmas coletivos que atuam sobre nós o tempo todo, desde antes de nascermos até depois de morrermos.
Os karmas coletivos nos são impostos por herança, em função da família à qual pertençamos[1], do local em que nascemos, nossa nação, cidade, bairro, etnia, religião etc. Ou por opção, como esporte, profissão, arte, política, filosofia e outros.
Quantos karmas coletivos atuam sobre nós? Um número indeterminado, porém, certamente, incomensurável. E, como eles atuam sobre nós?
Atuam através de uma energia bem mais palpável, denominada egrégora.
As cápsulas de influência de cada karma coletivo.
Embora a ilustração acima nos sugira as órbitas em torno de um núcleo atômico, ela não representa órbitas e sim cápsulas que envolvem o indivíduo em um comprimento de onda que o induz a determinadas atitudes ou o subordina a ônus pertinentes àquele grupo.
Considere, agora, que cada karma coletivo possui um campo gravitacional que nos atrai para dentro dele. Como uma turma de amigos ou grupo de familiares que convidam e insistem para que participemos de suas atividades. Ou como o tomador de bebida alcoólica que convida e quase intima a bebermos juntos. Então, se um desses campos gravitacionais for incompatível com outro, a vida poderá se tornar mais difícil. Uma situação assim pode gerar até doenças ou predispor a acidentes e a crimes.
Para compreender isso melhor, imagine um indivíduo comum. Suponhamos que seu nome seja João. Ele é a figura que está no centro da ilustração com as cápsulas de influência dos karmas coletivos.
Se o João só se envolver com karmas coletivos compatíveis, sua vida fluirá harmoniosamente. Caso contrário, tudo dará mais trabalho, tudo será mais difícil, a sensação será o tempo todo de estar remando contra a correnteza e de que as pessoas não querem facilitar a sua vida.
Imaginemos primeiramente a situação favorável. João tem um karma de etnia que é muito difícil de mudar e em muitos casos, impossível. Portanto, comecemos por ele. João é mestiço. Pertence à família dos Sousas. Sua profissão é advogado. Sua religião é católica. Sua arte é a música. Sua filosofia é o Yôga. Seu esporte, o basquete. E o seu partido político ele não conta a ninguém. Como um não interfere no campo gravitacional do outro, João deve ser uma pessoa feliz, saudável e financeiramente estável.
Se quisermos alterar aleatóriamente o conteúdo de cada um desses oito universos, mas preservando suas naturezas, veremos que – salvo raríssimas exceções – eles continuam não entrando em choque uns com os outros. Em princípio, João poderia ser de qualquer etnia, ter qualquer profissão, qualquer religião etc. Um exemplo de exceção seria se João fosse negro e vivesse no Alabama. Nesse caso, a atitude mais sensata em termos kármicos seria sair imediatamente de lá.
No entanto, se João se envolvesse com dois karmas coletivos do mesmo comprimento de onda, poderia ficar em apuros, como por exemplo, ter uma família com mulher e filhos em São Paulo e outra, com mulher e filhos, no Rio de Janeiro. Ou se ele fosse judeu no sábado, católico no domingo (para aproveitar os dois feriados) e protestante na segunda-feira. No domingo, reza para a imagem de Nossa Senhora; na segunda-feira protesta contra a adoração de imagens. Ou se na quinta-feira fosse à convenção de um partido político de extrema direita e se filiasse; na sexta-feira assistisse à reunião de um partido de extrema esquerda e se filiasse; é bem provável que no sábado aparecesse boiando no Rio Tietê.
Acho que o estimado leitor compreendeu a dinâmica dos karmas coletivos, uns compatíveis, outros não, os quais em seu conjunto forjam o karma individual que será melhor ou pior de acordo com a química daquele coquetel.
Contudo, karma é uma lei, é algo subjetivo. Torna-se necessário que exista um agente, uma força que faça com que a lei seja cumprida. No caso da lei humana, o Legislativo, quem a faz cumprir é o Poder Judiciário. No caso do karma coletivo, a força que permite o bom funcionamento do mecanismo é um poder chamado egrégora.
[1] Foram divulgadas nos Estados Unidos estatísticas demonstrando que 70% dos sociopatas e desajustados de todos os naipes cresceram sem a presença do pai.
[2] Swá significa seu próprio. Também embute o sentido de bem ou bom. Sthya transmite a ideia de estabilidade (“sthira sukham ásanam”). Por isso, um dos significados de SwáSthya é auto-suficiência (self-dependence), ou seja, dependência de si próprio, estabilidade em si mesmo; e outro significado é bem-estar (sound state).