Desde o início, estabeleça gestos e sons de aprovação ou de reprovação. Sempre que o cãozinho acertar alguma coisa, faça o mesmo som e dê-lhe uma recompensa de carinho, palavras, tom de voz e… petiscos! Quando ele errar, ignore. Isso funciona mais do que repreendê-lo, pois a repreensão pode se transformar em uma recompensa, já que ele ganhou a sua atenção, mesmo que seja na forma de bronca.
No entanto, às vezes, será necessário avisar que determinada coisa não é para ser feita, como, por exemplo, ir atravessando a rua na frente dos carros. Então, ajuda muito criar alguns sinais sonoros e gestos, pois é possível que a sua voz não seja ouvida à distância, ou em lugares muito ruidosos.
Aplicamos três sons diferentes para a Jaya. Dizemos “shh-shh”, quando se trata de uma restrição simples e descontraída, especialmente de algo que ela ainda pretende fazer. “Ei!”, quando queremos que ela perceba que está fazendo ou em vias de fazer algo que sabe que não deve. E reservamos o “não!” para usar economicamente em situações mais drásticas.
É importante que o cão conheça outros cães (e até gatos, pássaros e outros bichos) desde bem cedo e que interaja com eles estando solto, não preso na guia. Os cães presos sentem-se indefesos e isso faz com que exacerbem a atitude defensiva, latindo e querendo atacar o animal que queira aproximar-se.
Sociabilizar desde cedo reduz sua agressividade. Sempre haverá a possibilidade de um indivíduo ser geneticamente mais agressivo ou até portador de alguma sociopatia. Mas não há nada que um bom adestrador profissional não possa solucionar. Se o treinador de cães declarar que o seu cão é caso perdido, o caso perdido é ele! Está na hora de dispensar seus serviços e contratar outro. O encantador de cães Cesar Milán reabilitou muitos cães que iam ser sacrificados por sua suposta ferocidade e hoje são uns anjinhos.
Se você não tem um cão, não sabe o que é acordar e ser recebido com tanto afeto de bom-dia. Nenhum ser humano é capaz de dizer:
“Posso lhe fazer um carinho? Desculpe se eu me descontrolei e lhe dei uma lambida no rosto, mas é que eu o amo tanto!… Sabe? Eu fiquei esta noite toda prestando atenção a cada movimento seu, para protegê-lo. E cada atitude sua para saber se já era a hora de lhe dar meu olharzinho de ternura e − quem sabe? − receber de você um pouco de atenção. Eu peço tão pouco! Se você apenas me olhar, eu já balanço minha cauda, para demonstrar a felicidade por ser sua e poder viver ao seu lado!”
Acordei. Abri a porta do meu quarto. Dei bom-dia à Jaya. Ela encostou a cabeça no meu colo, como sempre faz para pedir carinho. Olhou-me nos olhos com a meiguice de mil anjos e arrancou-me uma lágrima de gratidão. E, no entanto, devo-lhe mais do que ela a mim.
A Jaya, minha weimaraner vegetariana, obedece a comandos de:
1. Senta;
2. Dá a patinha;
3. A outra patinha;
4. Deita;
5. Fica;
6. Em pé (para ficar em duas patas);
7. Vai lá (para ir aonde eu estiver apontando);
8. Ali (para procurar alguma coisa aonde eu estiver apontando);
9. Aqui (para ela se colocar ao meu lado, no lugar em que estiver sendo apontado);
10. Junto (para vir para perto, quando estiver andando solta na rua);
11. Vem (para que ela venha correndo para onde nós estivermos);
12. Cama da Jaya (para ir deitar-se na caminha dela);
13. Entra (para entrar no automóvel);
14. Sai (para sair de onde quer que esteja);
15. Lá fora (para ir comer ou brincar fora do quarto);
16. Para trás (para ficar atrás no elevador ou no automóvel – este último ela não gosta de obedecer!);
17. Pra casa (para voltar à casa);
18. Comer (para só pegar o alimento quando ouvir este comando);
19. Acabou (para que ela não peça mais comida ou petiscos);
20. Vai com a Fée (para ir com a Fernanda);
21. O mesmo comando com o nome de várias pessoas e diversos cães – os cães são: Mauai, Wilson, Sampa, Fred – com quem ela gosta de brincar);
Jaya se alimenta da nossa comida; adora cenoura crua, fica alucinada por uma maçã, banana, queijo, iogurte, biscoitos caninos sem carne e uma grande variedade de alimentos que, na teoria, os cães não deveriam apreciar, como, por exemplo, hortaliças. E descobrimos o inusitado: com o sistema não-carnívoro, o pelo fica mais bonito, a pele livre de alergias produzidas pela carne, o hálito fica ótimo, os dentes ficam mais limpos, as fezes não cheiram tão mal, o organismo sofre menos riscos de contrair verminoses e outras doenças típicas da ingestão de carnes, o animal torna-se mais ágil, mais inteligente e vive mais tempo!
Em hipótese alguma deve-se bater no cão, assim como no filho.
Quando um educador parte para a agressão, ele está confessando sua incapacidade. Um líder não entra em desespero.
Já escutei pais e proprietários de cães declarando que “com este aqui só batendo, porque ele me tira do sério”. Se ele, cão ou filho, tira-o do sério, é ele quem está no controle. Você pode agredi-lo, torturá-lo, mas jamais vai conquistar a sua alma.
Quem educa através do medo e da dor não cativa a admiração, o afeto e o respeito. Isso significa que vai ser obedecido apenas enquanto estiver presente, mas quando sair de perto, os comandados vão fazer o que bem entenderem.
Além do mais, quem assistir a uma cena de agressão vai julgar você um neanderthal capaz de maltratar cães e crianças. Isso é péssimo para a sua imagem.
Considero mais efetivo derivar a atenção em lugar de reprimir, sempre que isso seja viável. Por exemplo, em vez de repreender a criança ou o cão com um “não”, é melhor, se possível, chamar-lhe a atenção para outra coisa. Até para evitar o cacoete do não-não-não.
Certa vez, levei a Jaya ao veterinário e ela, sempre muito sociável, foi logo conversar com um outro cãozinho que lá estava na sala de espera.
“Meu nome é Jaya” – disse ela, alegremente. – “Como você se chama?” E o cãozinho respondeu: “Acho que o meu nome é Não, porque o meu humano sempre que se dirige a mim, diz ‘Não!’. Aí, eu já sei que é comigo.”
Quando a Jaya começava a querer morder algum objeto que não lhe pertencia, em vez de dizer “Não!”, nós lhe oferecíamos um toy, gerando interesse com gestos e tons de voz. Se ela não quisesse trocar de objeto, bastava provocá-la, esfregando brincalhonamente o toy no seu focinho, até irritá-la. Aí ela passava a querer morder o objeto. Prosseguíamos tempo suficiente com o folguedo para que ela se esquecesse do que mordia antes. Obviamente, é preciso ter paciência para repetir a operação quantas vezes isso for necessário, até condicionar o animal.
Algumas pessoas argumentam comigo dizendo que isso consome tempo e que elas têm outros afazeres. Mas se você não tem tempo para educar o seu cão ou o seu filho, não tenha cães nem filhos!