Uma noite, Fernanda, Charles, Carla e eu, fomos jantar em um restaurante elegante nos Jardins, em São Paulo. O enólogo se aproximou e perguntou: “O senhor é o Mestre DeRose?”. Em seguida me disse: “Eu fui aluno de uma das suas academias.” Academias? A essa altura eu já queria morrer. O cidadão esteve dentro de uma escola filiada e não tinha noção de onde havia estado. Estivera em uma escola de filosofia e achava que havia estado em uma academia de ginástica! Talvez a culpa não fosse dele e sim do instrutor que não tomara o cuidado de esclarecer, fazer as perguntas de feed-back no final das aulas, dar livrinhos, aplicar testes mensais. Mas talvez fosse por causa da palavra mágica. Não é ióga? Ióga se faz em uma academia.
Então, o enólogo mudou a fisionomia e o tom de voz e me confidenciou com ar misterioso: “Eu sou budista.” A partir daí, ninguém mais na nossa mesa teve sossego. A cada cinco minutos ele voltava e dizia mais alguma coisa do gênero: “O senhor já esteve com o Dalai Lama?” E depois: “A sua espiritualidade não o faz sentir-se mal em um ambiente profano como este restaurante?” E mais uma porção de interferências inconvenientes ao nosso jantar, sempre com cara de louco. Charles perdeu a paciência e disse que iria chamar a atenção do funcionário invasivo. As meninas sugeriram irmos embora. O fato é que nunca mais voltamos àquele restaurante.
A pergunta que faço é: se eu fosse um economista, engenheiro ou advogado o empregado faria aquelas caras, aquele tom de voz e abordaria assuntos alucinados para com eles interferir na privacidade do cliente? Ah! Mas sendo a palavra mágica, tudo bem.
Tempos depois, fomos jantar em outro restaurante ainda mais chique, no Rio de Janeiro. O maître veio nos atender. Perguntou: “O senhor é o Mestre DeRose?” Parei tudo. Olhei para ele com vontade de me levantar dali e ir comer em casa. Mas, sem esperar pela resposta, ele disparou: “Eu faço ióga. Entro em contato espiritual com os mestres ascencionados dos templos de Kalashkanyapur do guru Mantovani Elevado e Excelso. Tenho muitos poderes. Eu posso, por exemplo, levitar e ir ao mundo espiritual e voltar enquanto estamos aqui conversando e faço isso tão rápido que ninguém em volta percebe, graças aos mestres ascencionados dos templos de Kalashkanyapur do guru Mantovani Elevado e Excelso.” E continuou falando coisas estranhas, indo e voltando, durante todo o jantar!
Eu me pergunto: por que será que as pessoas conseguem trabalhar como se fossem normais, mas quando entram na tônica da palavra mágica tem reações e comportamentos tão desequilibrados?
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