Estava com 16 anos de idade quando comecei a dar classes de Yôga. Isso foi bom, pois, dessa forma, nunca usei drogas, nunca fumei e nunca tomei bebida alcoólica como os demais jovens. Por outro lado, nem imaginava a encrenca em que estava me metendo. Encontrávamo-nos em meados do século passado! As pessoas não tinham cultura e, consequentemente, não sabiam o que era o Yôga (bem… não sabem, até hoje). Minha mãe, muito católica, pensava tratar-se de alguma religião ou seita; e o meu pai não se convencia de que era uma profissão bem remunerada, digna e promissora – melhor que a dele!
Não era só isso. Por aquela época, todos achavam que para ser um professor deste sistema era preciso ter cabelos brancos e eu era um simples adolescente. Comecei mal. Sem idade, sem padrinho e sem dinheiro eu estava dando o primeiro passo para que as pessoas não acreditassem em mim.
Contudo, o impulso para dedicar-me de corpo e alma a este life style era mais forte que eu. O Yôga fervilhava em minhas veias. Quando lia nos livros algum conceito, aquilo me era tão familiar que parecia não estar sendo assimilado pela primeira vez e sim apenas recordado. Quando aprendia algum termo sânscrito, ele me era perfeitamente íntimo, a pronúncia fluía como se fosse a minha própria língua e bastava lê-lo ou escutá-lo uma única vez para não o esquecer nunca mais. Quando executava alguma nova técnica, sentia uma facilidade tão grande que era como se sempre a tivesse praticado. Isso, para não mencionar os tantos procedimentos, conceitos e termos que eu já havia intuído antes de ler o primeiro livro desta filosofia indiana e que foram confirmados nos estudos posteriores.
Assim, superei todos os obstáculos e prossegui dedicando-me à minha grande vocação. Na época, eu era estudante, mas dava um jeito e só estudava os livros deste maravilhoso sistema durante o período escolar. Fora dele, lia mais ainda e praticava o tempo todo. Um dia, recebi o convite para começar a dar classes gratuitamente numa ordem filosófica. Isso desencadeou meu pendor natural. Aí, começou um novo tipo de problemas, bem maiores do que os que eu enfrentava em casa, com a incompreensão dos pais.
Os praticantes, naquele tempo, eram pessoas de mais de cinquenta anos de idade. Eu, com dezesseis, certamente não convencia muita gente. Alguns ficavam cativados pela profundidade das técnicas que eu ensinava e pela seriedade que sempre marcou minhas atitudes. Esses extrapolavam a meu favor, declarando que eu devia ser a reencarnação de algum monge hindu. Mas constituíam uma minoria. Os outros diziam que esperavam um professor mais velho e me aplicavam interrogatórios para Gestapo nenhuma botar defeito – sobre que vertente era aquela, sobre as minhas fontes, se eu tinha ido à Índia, se eu me lembrava das vidas passadas et reliqua.
Com isso, fui logo ganhando mansos admiradores por um lado e ferozes críticos por outro. Os admiradores declaravam que um jovem daquela idade já saber tanto era sinal inequívoco de que não estava começando tal caminhada pela primeira vez nesta encarnação. Afirmavam que o fato de eu não estar levando uma vida leviana, não fumar, não beber e não me entregar às loucuras normais da idade, mas ser tão austero era, no mínimo, elogiável.
O outro time censurava com um azedume cujo motivo eu não compreendia. Dizia que eu era muito jovem e que deveria estar aprendendo e não ensinando naquela idade. Que eu estava sendo muito orgulhoso ao posar de professor. Quem eu pensava que era?
Nessa pouca idade já comecei a observar que os que defendem fazem-no sem agressividade e não aparecem, mas os que atacam, agem com virulência e todos os escutam.
No entanto, ainda tinha alguns anos de estudo escolar pela frente e, depois, o serviço militar que eu queria prestar. Então, não dei muita importância às críticas. Prossegui lendo e praticando o máximo de tempo, até que cheguei à programação diária de 7 horas de leituras, 7 horas de prática e 7 horas de sono. As outras três horas diárias para completar 24 h eram para as refeições. Isso, naquela idade, teve um efeito bombástico na minha aceleração evolutiva. Em pouco tempo, eu estava experimentando estados de consciência expandida e dos 16 aos 18 já havia escrito vários livros. Infelizmente, não tinham nenhum interesse para o público, a não ser um deles que mais tarde, no final da década de 1960, foi ampliado e publicado com o título Prontuário de SwáSthya Yôga, o qual posteriormente virou o Tratado de Yôga. Ah! E um outro que só chegou a ser publicado mais de quarenta anos depois, em 2005, com o título Sútras – Máximas de lucidez e êxtase.
domingo, 12 de fevereiro de 2017 | Autor: DeRose
Categoria: Ser Forte
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