Esta é para nossos colegas d’além-mar. Você vai ler agora a letra de um sambinha (na verdade uma “marchinha”) do compositor Mario Lago. Delicie-se com a linguagem.
Aos brasileiros, um teste: tente traduzir a letra em linguagem atual.
Esta é a letra de um sambinha de antigamente. É inacreditável! Uma marchinha despretenciosa! Como a nossa língua mudou…
“Caluda, tamborins, caluda!
Um biltre meu amor arrebatou.
No paroxismo da paixão ignota
Supu-la um querubim, não era assim.
Caluda, tamborins, caluda…
Soai plangentemente, ai de mim.
Vimo-nos num ror de gente
E, sub-repticiamente,
O olhar seu me dardejou.
Cáspite, por suas nédias madeixas
Que suaves endechas
Em pré-delíquio o pobre peito meu trinou.
Fomo-nos de plaga em plaga.
Pedi-lhe a mão catita,
Em ais de êxtase m’a deu.
E o dealbar de um amor
Em sua pulcra mirada resplandeceu, olarila!
Caluda, tamborins, caluda!
Um biltre meu amor arrebatou.
No paroxismo da paixão ignota
Supu-la um querubim, não era assim.
Caluda, tamborins, caluda…
Soai plangentemente, ai de mim.
Férula, ignara sorte
Solerte a garra adunca
Em minha vida estendeu!
Trêfaga ia a minha Natércia,
Surge o biltre do demo,
Rendida à sua parlanda, ela se escafedeu.
Vórtice no imo trago.
São gritos avernais
Que no atro ódio exclamei.
Falena sou, desalada…
Ó numes ouvi-me: aqui del-rey!”
Meus agradecimentos ao colega Fernando Almeida, da Unidade Vila Mariana, que me conseguiu a música gravada em áudio.