terça-feira, 25 de maio de 2010 | Autor:

Fernando Salvio

Oi Mestre.

É tão bom postar um comentário e receber uma resposta online!

Eu entrei no Youtube esses dias e apareceram esses vídeos como recomendados. Achei bem interessantes pela idade que tem. São, segundo consta na legenda, de 1938.

Peguei até o Ser Forte para recordar a parte das viagens à Índia, e não parei.

Krisnamacharya Yoga Film

Esse aqui mostra uma mulher praticando, que acredito devia ser coisa rara na época, fora escolas Shaktas.

Namagiriammal, Wife of Krishnamacharya.

Iyengar Yoga

Iyengar Yoga 2

Finalmente, para efeito de comparação, vendo uma coreografia da Gi Correa, dá pra ver que estamos um pouco mais avançados nessa área.

Abraços,

Fernando Salvio
Al Campinas — São Paulo — SP — Brasil

______________

Não só vendo a coreografia da Gisele Correa, mas também a da Michele Hayashi, da Yael Barcesat, do Daniel Suassuna, do Rodrigo Vivas, do Artur Costi, do Guilherme Nunes e tantos outros virtuoses. Você encontra suas coreografias no YouTube.

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quinta-feira, 24 de setembro de 2009 | Autor:

A confusão gerada pelos livros

Para o leitor iniciante no tema, muitos livros mais fazem confusão do que esclarecem. Esperemos que este não contribua para piorar a babel, mas, ao contrário, possa desfazer essa barafunda.

O motivo dos livros em geral embaraçarem a compreensão é que a maior parte foi escrita por leigos e o panorama não está claro nem para eles próprios que os escreveram. Ao tentar explicar, confundem. Há uma parcela de autores que conhecem o assunto, no entanto, esses pecam por achar que todo o mundo tem algum conhecimento e falam indiscriminadamente de Vêdas, Puránas, Upanishads, Bhagavad Gítá, Yôga Sútra, Mahá Bhárata, com bastante intimidade, atabalhoando tudo, sem esclarecer o que é cada um desses textos e onde se localiza em relação aos demais. O presente capítulo vai organizar essa miscelânea.

A confusão gerada pela desinformação

No Ocidente, quando falamos de Yôga, sempre surge alguém com alguma pergunta ou declaração que o associe ao Budismo. Ora, para começar, Budismo é uma religião e o Yôga é filosofia. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Para piorar a gafe, na Índia, menos de 1% da população é budista. Finalmente, para desespero de quem faz esse tipo de embrulhada, o Yôga faz parte do Hinduísmo[1], enquanto o Budismo é tecnicamente uma heresia[2] do Hinduísmo!

No entanto, o leitor poderá argumentar que encontrou várias referências em livros, que estabeleciam associações entre Yôga e Budismo. De fato, isso existe. Na maior parte das vezes ocorre pelas razões expostas nos primeiros parágrafos deste capítulo. Ademais, o Hinduísmo é tão antigo, tão vasto e tão multifacetado que poderemos, eventualmente, encontrar situações insólitas e contraditórias. Registre-se, porém, que isso não é a regra: é a exceção.

Existe um Yôga Budista? Sabendo-se que Budismo é uma religião, falar de um Yôga Budista é o mesmo que mencionar um Yôga Católico, um Yôga Islâmico, um Yôga Judaico. Seria algo como afirmar a existência de um Golfe Católico, um Futebol Luterano, um Vôlei Adventista, diferentes dos seus homônimos praticados por outras religiões. Não que o Yôga seja esporte. Poderíamos fazer a mesma comparação com outras áreas. Imagine se seria possível uma Informática Judaica, uma Física Nuclear Evangélica ou uma Engenharia Umbandista, diferentes da Informática, da Física Nuclear ou da Engenharia praticadas por outras religiões!

Contudo, às vezes encontra-se no Ocidente propaganda oferecendo “Yôga Cristão” como se isso fosse alguma especialidade. O que o prestador de serviços quer dizer, nesse caso, é que os cristãos podem praticar suas aulas sem nenhum conflito com a religião, o que, afinal, é verdade. Mas Yôga Cristão não é um ramo de Yôga.

A confusão gerada pelo mercado

Tão incoerente quanto barafundar o Yôga com religiões é misturá-lo com nacionalidades. É comum encontrarmos oferta de Yôga Tibetano, Yôga Egípcio, Yôga Israelense. Ora, Tibet, Egito, Israel são países. “Yôga Tibetano” faz tanto sentido quanto “Yôga Brasileiro”, “Yôga Argentino”, “Yôga Português”. Se existe Yôga no Tibet ele tem que ser identificado pelo seu nome verdadeiro: Rája Yôga, Hatha Yôga, Karma Yôga, Bhakti Yôga etc.

Também ouve-se falar de Yôga Desportivo, Yôga Artístico, Yôga Fitness, Power Yôga e por aí vai. Trata-se de táticas modernas para tentar atingir o consumidor onde ele é mais vulnerável: no apelo da novidade. Yôga Desportivo será Hatha Yôga? Yôga Artístico não será Hatha Yôga também? Power Yôga e Yôga Fitness não serão igualmente Hatha Yôga? Mas, na opinião daqueles, Hatha Yôga está ultrapassado, démodé. Então, nada melhor que tentar outra denominação.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009 | Autor:

O que é o Yôga?

(Extrato de um capítulo do livro Tratado de Yôga)

Certa vez um famoso bailarino improvisou alguns movimentos instintivos, porém, extremamente sofisticados graças ao seu virtuosismo e, por isso mesmo, lindíssimos. Essa linguagem corporal não era propriamente um ballet, mas, inegavelmente, havia sido inspirada na dança.

A arrebatadora beleza da técnica emocionava a quantos assistiam à sua expressividade e as pessoas pediam que o bailarino lhes ensinasse sua arte. Ele assim o fez. No início, o método não tinha nome. Era algo espontâneo, que vinha de dentro, e só encontrava eco no coração da­queles que também haviam nascido com o galardão de uma sensibili­dade mais apurada.

Os anos foram-se passando e o grande bailarino conseguiu transmitir boa parte do seu conhecimento. Até que um dia, muito tempo depois, o Mestre passou para os planos invisíveis. Sua arte, no entanto, não morreu. Os discípulos mais leais preservaram-na intacta e assumiram a missão de retransmiti-la. Os pupilos dessa nova geração compreenderam a importância de tornar-se também instrutores e de não modificar, não alterar nada do ensinamento genial do primeiro Mentor.

Em algum momento na História essa arte ganhou o nome de integri­dade, integração, união: em sânscrito, Yôga! Seu fundador ingressou na mitologia com o nome de Shiva e com o título de Natarája, Rei dos Bailarinos.

Esses fatos ocorreram há mais de 5000 anos a Noroeste da Índia, no Vale do Indo, que era habitado pelo povo drávida. Portanto, vamos estudar as origens do Yôga nessa época e localizar sua proposta original para podermos identificar um ensinamento autêntico e distingui-lo de outros que estejam comprometidos pelo consumismo ou pela inter­ferência de modalidades alienígenas e incompatíveis.

Tanto o Yôga, quanto o Tantra e o Sámkhya[1] foram desenvolvidos por esse povo admirável. Sua civilização, uma das mais avançadas da anti­guidade, ficou perdida e soterrada durante milhares de anos, até que os arqueólogos do final do século xix encontraram evidências da sua existência e escavaram dois importantes sítios arqueológicos onde descobriram respectivamente as cidades de Harappá e Mohenjo-Daro. Depois, foram surgindo outros e outros. Hoje já são milhares de sítios, distribuídos por uma área maior que o Egito e a Mesopotâmia.

Ficaram impressionados com o que encontraram. Cidades com urba­nismo planejado. Ao invés de ruelas tortuosas, largas avenidas de até 14 metros de largura, cortando a cidade no sentido Norte-Sul e Leste-Oeste. Entre elas, ruas de pedestres, nas quais não passavam carros de boi. Nessas, as casas da classe média tinham dois andares, átrio interno, instalações sanitárias dentro de casa, água corrente! Não se esqueça de que estamos falando de uma civilização que floresceu 3000 anos antes de Cristo.

Não era só isso. Iluminação nas ruas e esgotos cobertos, brinquedos de crianças em que os carros tinham rodas que giravam, a cabeça dos bois articulada, bonecas com cabelos implantados, imponentes celeiros que possuíam um engenhoso sistema de ventilação, e plataformas elevadas para facilitar a carga e descarga das carroças.

Noutras culturas do mesmo período, as construções dos soberanos apresentavam opulentos palácios e majestosos túmulos reais, enquanto o povo subsistia em choupanas insalubres. Na cultura dravídica, ao contrário, o povo vivia bem e a arquitetura da administração pública era despojada.

Outra curiosidade foi expressada por Gaston Courtillier em seu livro Antigas Civilizações, Editions Ferni, página 24, quando declarou: “Ficamos verdadeiramente admirados de, nesses tempos profundamente religiosos, não encontrarmos templos ou vestígios da estatuária que os povoaria, como foi regra noutros lugares durante toda a antiguidade, nem sequer estatuetas de adoradores em atitude de oração diante de sua divindade”. Para nós isso faz sentido, afinal, sabemos que na Índia Antiga, o Sámkhya teve seu momento de esplendor. E na Índia pré-clássica, a variedade Niríshwarasámkhya, foi ainda mais fortemente naturalista que o Sámkhya Clássico.

Sua sociedade foi identificada como matriarcal, o que também está coerente com as nossas fontes, segundo as quais o Yôga surgiu numa cultura tântrica.

Cavando mais, os arqueólogos descobriram outra cidade sob os escombros da primeira. Para sua surpresa, mais abaixo, outra cidade, bem mais antiga. Cavaram mais e encontraram outra cidade embaixo dessa. E mais outra. E outra mais. O que chamava a atenção era o fato de que, quanto mais profundamente cavavam, mais avançada era sua tecnologia, tanto de arquitetura quanto de utensílios. Até que deram com um lençol d’água e precisaram parar de cavar mais fundo. O que nos perguntamos é: quantas outras cidades haveria lá por baixo e quão mais evoluídas seriam elas?[2]

Bem, foi nessa civilização que o Yôga surgiu. Uma civilização tântrica (matriarcal) e sámkhya (naturalista).

Cerca de mil e quinhentos anos depois, a Civilização do Vale do Indo foi invadida por um povo sub-bárbaro proveniente da Europa Central, os áryas ou arianos. Consta, na História atual, que estes subjugaram os drávidas, destruíram sua civilização, absorveram parte da sua cultura, exterminaram quase todos os vencidos e escravizaram os poucos sobreviventes. Outros fugiram, migrando para o extremo sul da Índia e Srí Lanka, onde vivem seus descendentes até hoje, constituindo a etnia Tamil[3].

O Yôga foi produto de uma civilização não guerreira, naturalista e matriarcal. A partir de mais ou menos 1500 a.C. foi absorvido por um outro povo que era o seu oposto: guerreiro, místico e patriarcal. Cerca de mil e duzentos anos após a invasão (o que não é pouco), esse acervo cultural foi formalmente arianizado mediante a célebre obra de Pátañjali, o Yôga Sútra. Estava inaugurada uma releitura desta filosofia que, a partir de então, passaria a ser conhecida como Yôga Darshana, ou Yôga Clássico, a qual propunha nada menos que o oposto da proposta comportamental do verdadeiro Yôga em suas origens dravidianas. O Yôga dos drávidas era matriarcal, sensorial e desrepressor, numa palavra, ele era tântrico. Essa nova interpretação arianizada era patriarcal, antissensorial e repressora, ou seja, brahmáchárya.

O mais interessante nesse processo de deturpação é que se não fosse Pátañjali, o Yôga teria desaparecido dos registros históricos. Graças a ele, que obviamente era bem intencionado e sábio, hoje sabemos da existência de sua codificação do Yôga Clássico. Os arianos discriminavam tudo o que fosse tipicamente dravídico devido à característica matriarcal considerada subversiva pela sociedade, estritamente patriarcal dos áryas. Adaptando o Yôga para a realidade ariana então vigente, Pátañjali conseguiu que a sociedade e os poderes constituídos da época o aceitassem. Com isso, tal tradição foi preservada e pôde chegar até os nossos dias.

Na Idade Média, o Yôga sofreu outra grave deformação, quando o grande Mestre de filosofia Vêdánta, Shankaráchárya, converteu grande parte da população. Esse fato se refletiu no Yôga, pois, uma vez que a maioria dos indianos tornara-se vêdánta[4], ao exercer o Yôga a opinião pública e suas lideranças passaram a conferir um formato espiritualista[5] ao Yôga que, desde as origens e mesmo no período clássico, era fundamentado na filosofia Sámkhya, naturalista.

No século XX o Yôga sofreu mais um duro golpe: foi descoberto pelo Ocidente e… ocidentalizado, é claro. Tornou-se utilitário, consumista, algo amorfo, feio e maçante.

A um Yôga legítimo é lindo de se assistir, é fascinante de se praticar e é excelente como filosofia de vida. É dinâmico, é forte, é para gente jovem[6]. Todos os que nos visitam e assistem ao vídeo de apresentação do método ficam boquiabertos e comentam a mesma coisa: imaginavam que o Yôga fosse algo parado, a ponto de requerer paciência, ou algo supostamente indicado para a terceira idade! Ora, se alguém na terceira idade resolver iniciar a prática de um Yôga verdadeiro corre o risco de ter uma síncope. E se for um Yôga inautêntico, fruto de sucessivas simplificações, adaptações acumulativas e ocidentalizações inescrupulosas, então não vale a pena denominar de Yôga essa anomalia.

O problema é que muita gente sem certificado de instrutor atirou-se a lecionar e, como não possui repertório de técnicas, mistura um pouco de ginástica, outro tanto de esoterismo, um quê de hipnose, uma pitada de espiritismo, algo da linguagem do tai-chi, uns conceitos macrobióticos, tudo isso temperado com atmosfera de terapias alternativas e embalado para consumo em voz macia, com música new-age. Para o leigo, que não tem a mínima ideia do que seja o Yôga, a não ser uma visão estereotipada e falsa, aquela miscelânea inverossímil satisfaz. Só que ela, de Yôga mesmo que é bom, não tem nada.

Não devemos esquecer de que a palavra Yôga significa integridade. É preciso que seus representantes sejam íntegros. Por isso, nos próximos capítulos você vai ter a satisfação de conhecer uma modalidade fascinante, lindíssima, extremamente agradável de se praticar e com uma carga de resultados capaz de deixar qualquer um perplexo. É o SwáSthya, o próprio Tronco Pré-Clássico, pré-ariano, pré-vêdico, proto-histórico, o Yôga de Shiva, ultra-integral, com todas as suas características Tántrika e Sámkhya preservadas e mais: sua execução lembrando uma dança, resgatada das camadas mais remotas do inconsciente coletivo!

Evidências da existência do Yôga Primitivo

Nada nasce já clássico

Em nossos estudos e mais de 20 anos de viagens à Índia detectamos um erro gravíssimo cometido pela maior parte dos autores de livros e pela maioria dos professores. Declaram eles com frequência que o mais antigo é o Yôga Clássico, do qual ter-se-iam originado todos os demais. É muito fácil provar que estão sofrendo de cegueira paradigmática. Para começo de conversa, nada nasce já clássico. A música não surgiu como música clássica. Primeiro nasceu a música primitiva que foi origem de todas as outras até que, muito tempo depois, apareceu a música clássica. A dança é outro exemplo eloquente. Primeiro surgiu a dança primitiva que deu origem a todas as outras modalidades e precisou consumir milhares de anos até chegar a um tipo chamado dança clássica. Nada nasce já clássico. E assim foi com a nossa tradição ancestral. Inicialmente, nasceu o Yôga Primitivo, Pré-Clássico, pré-ariano, pré-vêdico, proto-histórico. Ele precisou se transformar durante milhares de anos para chegar a ser considerado Clássico. Provado está que o Yôga Clássico não é o mais antigo, consequentemente, não nasceram dele todos os demais – o Pré-Clássico, por exemplo, não nasceu dele.

Além dessa demonstração, nas escavações em diversos sítios arqueológicos foram encontradas gravações em selos de pedra com posições de Yôga muito anteriores ao período clássico. Textos que precederam essa época já citavam o Yôga.

É interessante porque, ao mesmo tempo em que todos os autores afirmam que o Yôga tem mais de 5000 anos de existência, a maioria declara que o mais antigo é o Clássico, o qual foi surgir apenas no século terceiro antes da Era Cristã, criando uma lacuna de 3000 anos, o que constitui incoerência, no mínimo, em termos de matemática!

Mas como doutos escritores e Mestres honestos puderam cometer um erro tão primário?

Acontece que a Índia foi ocupada pelos áryas, cujas últimas vagas de ocupação ocorreram a cerca de 1500 a.C. Isso foi o golpe de misericórdia na Civilização do Vale do Indo, de etnia dravídica. Conforme registraram muitos historiadores, os áryas eram na época um povo nômade guerreiro sub-bárbaro. Precisou evoluir mil e quinhentos anos para ascender à categoria de bárbaro durante o Império Romano. A Índia foi o único país que, depois de haver conquistado a arte da arquitetura, após a ocupação ariana passou séculos sem arquitetura alguma, pois seus dominadores sabiam destruir, mas não sabiam construir, já que eram nômades e viviam em tendas de peles de animais.

Como sempre, “ai dos vencidos”. Os arianos aclamaram-se raça superior (isto lembra-nos algum evento mais recente envolvendo os mesmos arianos?) promoveram uma “limpeza étnica” e destruíram todas as evidências da civilização anterior. Essa eliminação de evidências foi tão eficiente que ninguém na Índia e no mundo inteiro sabia da existência da Civilização do Vale do Indo, até o final do século XIX, quando o arqueólogo inglês Alexander Cunningham decidiu investigar umas ruínas em 1873. Por isso, as Escrituras hindus ignoram o Yôga Primitivo e começam a História no meio do caminho, quando esse nobre sistema já havia sido arianizado.

Tudo o que fosse dravídico era considerado inferior, assim como o fizeram nossos antepassados europeus ao dizimar os aborígines das Américas e usurpar suas terras. O que era da cultura indígena passou a ser considerado selvagem, inferior, primitivo, indigno e, até mesmo, pecaminoso e sacrílego. Faz pouco menos de quinhentos anos que a cultura européia destruiu as Civilizações Pré-Colombianas e já quase não há vestígio das línguas (a maioria foi extinta), assim como da sua medicina, das suas crenças e da sua engenharia que construiu Machu Picchu, as pirâmides da América Latina, os templos e as fortalezas, cortando a rocha com tanta perfeição sem o conhecimento do ferro e movendo-as sem o conhecimento da roda.

Da mesma forma, na Índia, após 3500 anos da ocupação ariana, não restara vestígio algum da extinta Civilização Dravídica. O Yôga mais antigo? “Só podia ser ariano!” Descoberto o erro histórico há mais de cem anos, já era hora de os autores de livros sobre o assunto pararem de simplesmente repetir o que outros escreveram antes dessa descoberta e admitirem que existira, sim, um Yôga arcaico, Pré-Clássico, pré-vêdico, pré-ariano, que era muito mais completo, mais forte e mais autêntico, justamente por ser o original.

De fato, uma vez que a opinião tinha um bom número de vozes que a aceitavam, os que vieram depois supuseram que só podia ter tantos seguidores pelo peso concludente de seus argumentos. Os demais, para não passar por espíritos inquietos que se rebelam contra opiniões universalmente aceitas, são obrigados a admitir o que todo o mundo já aceitava. Daí para a frente, os poucos que forem capazes de julgar por si mesmos se calarão. Só poderão falar aqueles que sejam o eco das opiniões alheias, por serem totalmente incapazes de ter um juízo próprio. Estes, aliás, são os mais intransigentes defensores dessas opiniões. Estes odeiam aquele que pensa de modo diferente, não tanto por terem opinião diversa da dele, mas pela sua audácia de querer julgar por si mesmo, coisa que eles nunca conseguirão fazer e estão conscientes disso. Em suma, são muito poucos os que podem pensar, mas todos querem dar palpite. E que outra coisa lhes resta senão tomar as opiniões de outros em lugar de formá-las por conta própria? Como isto é o que sempre acontece, que valor pode ter a voz de centenas de milhões de pessoas? Valem tanto quanto um fato histórico que se encontre registrado por cem historiadores, quando, na verdade, todos se copiaram uns aos outros, e tudo se resume, em última análise, a um só testemunho.”

Schopenhauer,
citando Bayle em Pensées sus* les Comètes (o negrito é nosso).

* Como alguns leitores corrigiram sus para sur, inserimos aqui a explicação do dicionário Petit Robert de la langue française: Sus [sy(s)] adv. Xe; du latin susum, variante de sursum “en haut” 1. vx Courrir sus à l’enemi, l’ataquer

quarta-feira, 9 de setembro de 2009 | Autor:

Certa vez, os saddhus (os yôgis que vivem isolados, solipsistas) sentiram muita raiva de Shiva e conspiraram para assassiná-lo. Acenderam uma fogueira sacrificial de magia. De dentro do fogo mágico surgiu um tigre furioso ao qual ordenaram que fosse matar o Mestre Shiva. Mas Shiva matou a besta, arrancando sua pele e vestindo-se com ela.

Do fogo saiu, em seguida, um trishúla (lança de guerra em forma de tridente) para matá-lo, porém Shiva se apoderou dele e passou a usar como arma para sua defesa. Depois, serpentes peçonhentas para picá-lo, entretanto o Mestre as usou como braceletes e colares com os quais se enfeitou.

Uma horda de demônios surgiu logo depois. Shiva com um mudrá aplacou sua fúria. Ele ordenou que formassem um exército para servi-lo, e eles obedeceram docilmente.

Em seguida, os saddhus atiraram uma caveira contra o Senhor Shiva. Ele a agarrou no ar e colocou-a para enfeitar os cabelos.

Os saddhus, indignados com seus fracassos, tentaram usar seus mantras maléficos para destruí-lo. No entanto, eles se agruparam e tomaram a forma de um som terrificante que saía de uma concha (shank). O Mestre apoderou-se da concha e a conservou em sua mão, pelo que passou a ser chamado de Shankar.

Os saddhus, que pareciam nunca desistir de destruir o grande Mestre Shiva, fizeram um novo trabalho de magia negra, acendendo outro grande fogo do qual saiu um poderoso gênio denominado Avidyá ou Muyalakan. Ordenaram-lhe que usasse o fogo e matasse o Mestre. No entanto, Shiva apanhou o fogo com a mão, derrubou o gênio e pisoteou-o.

Os saddhus lançaram maldições e injúrias contra o Mestre. Nenhuma foi eficaz. Muyalakan, esmagado pelos pés de Shiva, debatia-se mas não conseguia pôr-se de pé. Shiva começou a dançar sobre ele e o Universo tremeu.

Quando a dança parou, os saddhus prostraram-se aos pés do Mestre e cantaram-lhe louvores. Shiva ordenou-lhes que, daquele momento em diante observassem os sádhanas e passassem a seguir uma vida piedosa. Depois disso, voltou para a sua morada no Monte Kailash, casou-se com sua Shaktí e viveu feliz por toda a eternidade. Até hoje, em todo o mundo, pratica-se a arte de força, poder e energia criada por Shiva e com a qual ele venceu todos os obstáculos. Leia mais »

quarta-feira, 2 de setembro de 2009 | Autor:

Entrevista realizada com o jornalista António Mateus

transcrita por Alexandre Montagna e simultaneamente por Renata Coura e Maicon, com a colaboração de Caio, 
Priscila Ramos, Raffa Loffredo, Taline Mendes, Rômulo 
Justa, Alessandra Filipini (e faltou alguém, por favor, avise-me.)

A sua cultura promove um indivíduo mais lúcido, mais consciente, mais interventivo na sociedade. É isso?

A proposta é esta. A proposta é que através de um conjunto de técnicas e um conjunto de conceitos nós possamos levar uma pessoa comum a um estado de consciência expandida. Agora se isso vai ser obtido ou não, vai depender de uma quantidade de fatores. Entre eles, a própria genética do indivíduo. E, da parte controlável, a dedicação, o investimento de tempo na prática dessa filosofia. E também o ambiente onde a pessoa vive. Porque vai depender muito da bagagem cultural que ela traz, da profissão que ela exerce, da idade com a qual ela começou. Então é uma constelação de fatores.

É possível esculpir um indivíduo diferente, mais interventivo na sociedade?

Cada indivíduo é uma realidade diferente. Então, as próprias técnicas, por exemplo, de oxigenação cerebral, vão reagir diferentemente de um indivíduo para o outro.

Mas o senhor tem uma intenção, tem um destino que quer cumprir no esculpir desse indivíduo?

Sim. A meta que nós queremos alcançar é conceder a essa pessoa um estado de hiperconsciência, um estado de megalucidez. Que, na verdade, é a direção na qual a humanidade esta caminhando.

Quando as sociedades dos nossos dias não têm um perfil nem de indivíduo nem de sociedade em si, a sua cultura pode ser a proposta que falta. Esse indivíduo, obviamente diferente, mais lúcido, mais consciente, que impacto real é que ele tem na sociedade? Em que ele pode fazer a diferença?

Quando a pessoa tem mais lucidez, a primeira coisa que ocorre é que ela vai exercer melhor o seu trabalho, a sua posição na família, o seu engajamento em qualquer ideal, seja ele político, humanitário, filantrópico, artístico, seja lá qual for. E, além do mais, ele se sente integrado. Porque quando o indivíduo ainda não tem uma consciência plena, ele acha que o mundo se divide entre eu e os outros. No momento em que a consciência se expande, ele percebe que não existe essa coisa de eu e os outros. Somos todos uma só coisa, estamos todos interligados, não apenas dentro da espécie humana, mas entre todas as espécies e com o próprio planeta, com o próprio cosmos. E esse estado de consciência expandida é alcançável. Mas, normalmente, quando a pessoa menciona a sua pretensão, a sua intenção de conseguir tal estado de consciência, uma outra pessoa que não imagine o que é isso, que não tenha lido a respeito, que não tenha estudado, que não tenha se esclarecido, pode supor um ideal inalcançável, pode supor uma fantasia. Acontece que muita gente já logrou esse estado de consciência. Então é realidade.

Esse estado de hiperconsciência, de lucidez, traduz-se em quê no dia-a-dia?

No dia-a-dia, traduz-se em uma participação objetiva, que nós chamamos de ação efetiva. Porque muita gente tem iniciativas, mas poucas têm acabativas. Então, uma das coisas que uma consciência maior, que uma lucidez maior, nos concede, é perceber que não adianta apenas o discurso, não basta a intenção, é preciso levar a cabo. É necessário ter a iniciativa, a acabativa, o resultado final, para a vida deste indivíduo, para a sua família, para os seus amigos, para os seus desamigos, para toda a sociedade, para a responsabilidade social, para responsabilidade ambiental, ou seja, ele vai expandido o seu campo de atuação, ele deixa de ser um indigente, ele deixa de ser um indivíduo que não é ouvido, que não tem voz, nem voto. Ele passa a ser uma pessoa que atua e que modifica o mundo em que vive. E como essa pessoa, em geral, é uma pessoa que tem nobres ideais, ao modificar o mundo em que vive, modifica-o para melhor.

Como é que a sua cultura faz isso sobre o indivíduo? Que instrumentos, que ferramentas é que dispõe para fazer isso?

A Nossa Cultura. Eu chamo de “Nossa Cultura” com N maiúsculo e C maiúsculo, porque é um conjunto de conceitos, é uma filosofia, é um sistema de vida. Essa Nossa Filosofia, essa Nossa Cultura, propõe isso através de uma reeducação comportamental progressiva e espontânea. Não somos a favor de doutrinação, portanto, doutrinação está excluído. Não somos também a favor de repressão. Sem doutrinação e sem repressão, o melhor caminho é o exemplo. É a convivência. É o que nós chamamos de egrégora. É conviver com o poder gregário, de um grupo que já está dedicado a esses ideais. E, a partir daí, os conceitos são incorporados com muito mais facilidade. E as técnicas, isso aí já é uma questão de dedicação individual, de praticar, de executar tais técnicas.

Pode-se comparar esse tipo de intervenção como quem afina uma orquestra? Vamos reunir os violinos, as flautas, e pô-los todos a prestarem um comportamento numa mesma direção?

Certamente que é. Nós vamos criar uma sincronia entre todos os elementos que nos constituem um ser humano. Não apenas corpo e mente, mas corpo, energia (bioenergia), emocional, a mente, o intuicional. Enfim todos os elementos que vão funcionar, como você muito bem exemplificou, como uma orquestra. E depois, nós vamos extrapolar para além do indivíduo, que é o ideal. Não ficar dentro do seu pequeno mundinho, do seu universo pessoal. Então, extrapolando, essa orquestra passa a ser também a orquestra da família, a orquestra do trabalho que ele executa, a orquestra da sua arte, de todos os elementos, pessoas, indivíduos, circunstâncias, daquele ambiente. E quando você vai ampliando seu campo de atuação, você chega a considerar que o mundo é muito pequeno, porque você alcança as pessoas, através de veículos diversos. Outrora, era através da escrita, era através de livros, antes deles, os pergaminhos. E hoje, nós conseguimos atingir as pessoas por veículos eletrônicos, nós conseguimos estar num momento escrevendo no nosso computador e ao mesmo tempo sendo lidos, sendo acessados, por pessoas em todo planeta e brevemente até fora dele.

Carl Sagan defende, pelo oposto, um sujeito que é contaminado pela sociedade, que é poluído pela sociedade. A Sua Cultura promove o oposto. Promove um indivíduo ativo, consciente, interventivo.

Eu concordo com ele. A sociedade corrompe o indivíduo. Mas, se o indivíduo tiver o poder de descorromper a sociedade e isso parte da proposta de você realmente perceber que a sociedade tem esse poder, que todo o ambiente cultural em que uma pessoa vive, esse ambiente tem poder sobre. Nós somos produtos, nós somos frutos do ambiente. Somos frutos da cultura em que fomos educados, na qual vivemos. Se tivermos consciência disso, desse poder, do ambiente nos corromper e nos recusarmos a aceitar passivamente essa corrupção, então aí nós invertemos o processo.

Essa contra-corrente do sujeito ativo, e não passivo, entronca naquilo que referi ao princípio, que é a perspectiva do indivíduo mais lúcido, mais consciente. Essa lucidez também tem a ver com o indivíduo aperceber-se de como a influência exterior lhe pode ser danosa, é isso?

Sim. Mas é preciso lembrar que essa proposta, embora revolucionária em termos comportamentais, não é agressiva. Agressiva, no mal sentido. Não é violenta. Ou seja, nós não estamos indo contra o que já está estabelecido, nós não queremos que as pessoas simplesmente mudem e adotem a Nossa Filosofia. A proposta é que alguns indivíduos, que já estão pensando dessa forma, não se sintam um avis rara. Que esses indivíduos sintam que há outros que pensam da mesma forma. E, então, nós podemos nos reunir, comungando de um mesmo ideal e compartilhar as idéias, os conceitos, as práticas, a maneira de viver, a maneira de constituir amizades, constituir relações afetivas, de uma forma que nós chamamos, que nós consideramos, mais civilizada, que é muito mais amorosa, que é muito mais tolerante.

Porque Vossa Cultura não traz só uma proposta interior, do indivíduo, é também na forma como ele se relaciona com os seres humanos a sua volta, com o mundo físico a sua volta. Há uma nova estética e uma nova ética?

Sim, porque o conceito de um interior pressupõe que haja uma dicotomia entre interior e exterior. E a Nossa Cultura não entende o indivíduo, nem o mundo, como uma coisa separada. Um corpo e alma, por exemplo. Um antagonismo entre o espiritual e o natural, o físico, o corporal. Então, nós entendemos que é uma coisa só. Que estando integrados, nos conseguimos realizar muito mais e muito melhor, muito mais bem feito o nosso trabalho.

Quando os governos dos nossos dias pouco ou nada se preocupam com o perfil de indivíduo a definir, com o perfil de sociedade a alcançar, a não ser no plano puramente material, do acerto de contas financeiras, é preciso haver um novo olhar sobre a qualidade do indivíduo. E a sua proposta de Cultura responde exatamente a isso. É um sujeito mais lúcido, mais ativo, e que sabe para onde ele quer caminhar?

Exatamente. E sempre sob a égide da tolerância. Porque, se não for assim, nós estamos correndo o risco de inventar uma religião nova, que não é absolutamente a proposta. É uma proposta educacional, uma proposta cultural, uma proposta de levar o indivíduo a um patamar mais elevado de civilidade, de cultura, de educação, de senso artístico, de sensibilidade, e, como você disse antes, de ética e de etiqueta também. A etiqueta é uma pequena ética. Quer dizer, nós temos a grande ética, e nós temos aquela ética, aquela etiqueta aplicada ao dia-a-dia, no relacionamento dentro de uma sociedade específica, na qual nós temos que nos adaptar. Porque quando nós fazemos uma proposta abrangente como esta, nós temos que considerar que existe uma cultura cristã, mas existe uma cultura hindu, existe uma cultura judaica, existe uma cultura islâmica, e nós não podemos criar uma proposta que se adapte apenas a uma dessas culturas.

Mestre, isso muda completamente a dinâmica do mundo a nossa volta. Que possibilidades é que se abrem?

A possibilidade, eu vejo que é grande. Agora, a realização é sempre lenta, porque a mudança de paradigmas é muito difícil para o ser humano. Nós fomos construídos, nós fomos projetados, de uma forma que, a partir do momento em que aprendemos um determinado conceito, um determinado código de procedimento, depois nós não conseguimos mudar. É muito difícil mudar. Então, quando nós transmitimos esse ensinamento, temos que nos lembrar que é um ensinamento basicamente para um público jovem, adulto jovem. Adulto jovem, que é aquele que está na ativa, que é aquele que está na dinâmica empresarial, política, artística, enfim, em qualquer área. E essa pessoa tem condições ainda de processar uma transmutação na sua maneira de ser.

Martin Luther King legou-nos um sonho que ele tinha – “I have a dream”. O John Lennon pintou com música – “Imagine all the people”. Nelson Mandela trocou a sua liberdade por esse sonho. O visionário DeRose, como é que configura esse sonho?

Eu não sei se diria visionário. Porque o nosso trabalho é muito terra-terra, é muito objetivo, vai diretamente ao indivíduo no mundo em que ele vive. Ou seja, sem subjetividades, sem teorizações, sem suposições. Ideais, sim. Mas dentro de um cuidado muito grande, como eu disse antes, para que esses ideais não se tornem radicais. Radicais, até certo ponto, está bem. Provém de raízes. Nós temos raízes. Radical, até certo ponto. Mas um fanatismo tem que ser evitado. Daí o meu cuidado com a palavra visionário. Mas a intenção é justamente conduzir estes conceitos a que o indivíduo possa aplicá-los realmente. Que não seja apenas uma linda proposta, um lindo discurso, mas que ele realmente chegue lá na sua empresa e faça isso funcionar, modificando a estrutura da empresa, modificando a administração da empresa, tornando cada funcionário, cada colaborador seu, um indivíduo que tem um valor, que tem um potencial, que tem uma criatividade e que é um ser humano. Não no sentido apenas de colocar o funcionário e o empresário como forças oponentes num cabo de guerra, mas colocando todos puxando na mesma direção, que é o progresso individual e, em seguida, o progresso da sociedade.

Quando o senhor imagina, vamos pegar no “Imagine” do John Lennon, quando o senhor sonha um futuro, sonha o quê? Vê o que no fim dessa viagem?

No “Imagine” eu vejo um credo. Porque aquilo que ele propõe é realmente revolucionário. Até me causa espécie que não tenha havido reações mais virulentas contra aquelas propostas, porque aquilo é lindo, mas ao mesmo tempo, ele fala com relação ao indivíduo superar as limitações de pátria, as limitações de fronteiras. Isso obviamente não agrada nada a maior parte da população, dos governantes, dos poderes constituídos. Querer que todos sejamos um só povo, uma única humanidade. E “no religion too”. Também todas as religiões, provavelmente reagiriam de uma forma um tanto quanto reservada. Mas não aconteceu isso. A música é linda e o que nós vemos é que a sua letra é aceita pela população em geral, inclusive pelos governantes, pelos poderes constituídos, pelas religiões em geral. As pessoas gostaram daquilo porque ele soube dizê-lo. E também provavelmente gostaram antes do John Lennon estar mais ativista. Quando ele chegou em Nova York, a coisa ficou mais agressiva.

Mas o senhor quando mobiliza os seus instrutores, a sua família, a sua egrégora DeRose, está a configurar um futuro. Onde é que é o horizonte que configura para esta sua passagem pela vida?

Eu vejo, a curto prazo, pessoas mais felizes e mais saudáveis, com uma qualidade de vida melhor. Porque isto é o que realmente as nossas técnicas proporcionam. Em primeiro lugar, maior qualidade de vida. A médio prazo, eu vejo prosperidade. Porque uma pessoa que tem melhor qualidade de vida, uma pessoa que tem mais tolerância, que sabe lidar com o ser humano, que sabe lidar com seus superiores hierárquicos ou com seus comandados, sabe lidar com seus clientes, com seus fornecedores, sabe lidar com seus amigos e com a sua família, com as suas relações afetivas. Essa pessoa está no controle. Essa pessoa converte-se em um líder. Um líder sereno, carismático dentro do seu ambiente, do seu respectivo ambiente. Então, a médio prazo, isso proporciona estabilidade. Estabilidade na relação afetiva, estabilidade na família, estabilidade no trabalho. A conseqüência é prosperidade. Então, a médio prazo, eu vejo essa nossa família, ou seja, esses nossos praticantes, e isso já tem acontecido, nós já estamos nessa caminhada há meio século, há 49 anos. Ano que vem (2010), 50 anos, portanto, eu vejo, acompanhando o que de fato tem acontecido. As pessoas começam a conquistar a estabilidade, a prosperidade, mais felicidade, maior expectativa de vida.

Essa expectativa de vida, conferida, inclusive, pelos bons hábitos que são propostos. Porque essa Nossa Filosofia ensina a não utilizar drogas, a não utilizar álcool, não utilizar fumo. E buscar hábitos saudáveis. Isto, muito longe de tornar a vida sem graça, torna a vida muito mais interessante, porque aumentando a sua lucidez, se você não está sob influência de droga alguma, inclusive o álcool é uma droga, droga legal, mas é droga, é o mais poderoso dos psicotrópicos. Então se você não esta sob o julgo de nenhuma dessas substâncias tóxicas, que interferem com a consciência, essa pessoa tem mais felicidade, mais lucidez, ela percebe o mundo de uma outra maneira e, consequentemente, o mundo e a vida ficam muito mais divertidos. Essa pessoa fica mais feliz de fato. E, a longo prazo, a proposta é aquele estado de consciência expandida que nos conduzirá ao autoconhecimento.

Esse é o objetivo a nível individual?

No âmbito individual o autoconhecimento. E, se um dia, a humanidade conseguir, toda a humanidade, chegar a esse estado, nós vamos ter uma humanidade muito diferente da que temos hoje, porque hoje nós partimos para soluções drásticas. Nós sempre observamos que, em um mesmo momento, N nações estão em conflitos armados. Então se nós conseguíssemos que, pelo menos, senão toda a humanidade, pelo menos, aqueles que têm o poder de decisão, aqueles que podem criar leis, aqueles que podem declarar guerras, se todos esses estivessem em um estado de consciência melhor, mais expandido, essa hiperconsciência, nós teríamos um mundo muito mais harmonioso. Porque hoje, nós vemos que, muitas vezes, em muitos países, o governante não quer o bem-estar e a evolução do povo. Até porque, se o povo ficar mais lúcido, é capaz de tirá-lo do poder. Então, nós estamos num momento que, considerando o nosso ideal, que é para o futuro, nos não estamos em um momento bom, e a demonstração disso justamente são esses conflitos que nos observamos em várias regiões do globo. Mas se, passo a passo, gradualmente, sem nenhuma intenção de converter pessoa alguma, mas se, aos poucos, isso der certo, no sentido de uma expansão para a população em geral, eu acredito que realmente nós vamos ter, num futuro, um mundo muito diferente. Hoje já está diferente se nós pensarmos, se nós compararmos a qualidade de vida e o nível de consciência, não apenas de cultura, não apenas de informação, não apenas de ilustração, mas o nível de consciência mesmo da maior parte da população comparada com 200 anos, 500 anos atrás, 800 anos atrás, nós estamos numa curva ascendente.

O senhor regride aos alicerces do nosso existir no (livro) “Eu me lembro”, como quem ganha balanço em recuo para um salto. Esse salto leva-nos para onde?

Bem, em primeiro lugar, essa volta às origens vai nos levar a uma época em que, uma civilização, esse (livro) “Eu me lembro” é um conto, é uma ficção, mas que é ambientada num local, num período, numa civilização em que, até onde nos consta, pela história, pela arqueologia, essa civilização, esse povo, vivia em harmonia. O povo tinha qualidade de vida, o cidadão era respeitado. Não se encontraram construções faraônicas para o monarca, nem para o clero, mas encontraram-se casas muito confortáveis para a população. Nós estamos falando de um período proto-histórico. Um período que está imediatamente antes do surgimento dos registros históricos. E os historiadores recorreram, muitas vezes à arqueologia, para poder montar um pouco da história daquele povo. Essa época, imagine, são 5000 anos atrás, são 3000 antes de Cristo. E nessa época, nessa civilização, chamada civilização do Vale do Indo, já havia cidades extremamente bem urbanizadas, saneadas, havia as casas do povo, casas com dois andares, e mais, com átrio para ventilação interna, com a casa de banho dentro da casa, com água corrente. Mas isto, 3000 antes de Cristo, é qualquer coisa de inacreditável. Os próprios arqueólogos quando encontraram, recearam comunicar aquilo às academias de ciências, porque iam ser tidos por mentirosos. Então aquilo foi sendo comunicado muito aos poucos. Foram convidando outros arqueólogos, de outros países, a que fossem lá constatar. Porque era realmente uma civilização excepcional para a época e até comparada com algumas regiões hoje, do nosso planeta. Então, você imagina que, aquela ambientação na qual essa história, esse conto, essa ficção (o livro Eu me lembro…), se baseia, é a de um povo feliz, é de um povo saudável, é de um povo estável, é de um povo próspero, dentro dos limites do período histórico. E recuando para essas origens, são, diríamos muito próximo das origens da civilização mesma, nós aprendemos alguma coisa com eles. Coisa que foi perdida depois. Com a introdução da civilização patriarcal, aquela que era matriarcal, essa original, vamos considerar, inclusive, fazer aqui um parêntesis, as sociedades primitivas, não-guerreiras, todas elas tenderam ao matriarcalismo e as sociedades patriarcais, todas foram guerreiras. Então, só isso já estabelece parâmetros, para que nós saibamos que a sociedade patriarcal, ela precisa da guerra. Até porque, a própria estrutura patriarcal, a estrutura do macho, do homem é baseada em testosterona e isso é um perigo. Testosterona devia ser posto nas bombas que jogam na cabeça dos inimigos, porque isto é muito explosivo. Agora, a sociedade matriarcal, ela já privilegia a mãe, privilegia o carinho, privilegia o ventre, privilegia o seio, já é uma outra forma de ver o mundo, uma outra forma de administrar a família, uma outra forma de administrar o Estado. E, sem guerras, esse povo obviamente consegue dedicar seu tempo e os seus recursos econômicos, à arte, por exemplo. À dança, à pintura, à escultura. E sem repressão, porque a sociedade matriarcal, em geral, não é repressora. A sociedade patriarcal, em geral, é. Então, sem repressão, imagine para onde vão esses impulsos artísticos e culturais desse povo.

No “Eu me lembro”, o senhor recua há um passado onírico e depois transporta-nos por uma realidade mais palpável, onde aspectos tangíveis, como os instrumentos de escrita, a própria linguagem, já são mensuráveis. É quase como se fosse uma visão antropológica. Como o senhor não dá um ponto sem nó, quer nos levar para onde com esse transporte?

Aquilo ali é uma fantasia, porque nesse livro, “Eu me lembro”, o autor, que sou eu, eu conto sobre memórias de um passado, mas esse passado não é nada espiritual, é uma história. Então, levando o leitor até aquela realidade cultural, até aquela civilização, até aquela maneira de ser, eu estou propondo, estou sugerindo até mesmo um debate do indivíduo com ele mesmo, a respeito da validade daquela maneira de se relacionar com os filhos, com os pais, com os amigos, com os inimigos, com o relacionamento afetivo, com a pessoa que a gente ama. Então, talvez aquilo ali possa fazer uma contribuição. Agora, onde está a fronteira entre a fantasia, a ficção, o mito, e a realidade, isso eu deixo para que o leitor descubra.

No entanto, a segunda parte do livro, já tem um cariz quase antropológico, já não é uma ficção pura?

É. É baseada em fatos reais, porque a ficção a que eu me refiro é a historia, aquela coisa toda. Agora, o máximo possível de elementos palpáveis, de elementos reais, elementos históricos, eu utilizei para dar o alicerce, a fundamentação daquilo lá. Eu estou vendo a possibilidade de que a pessoa, primeiro seja conquistada pelo coração, porque o início do livro é muito doce, muito meigo, depois ele é romântico, e depois ele é, digamos, mais filosófico. Ele perde um pouco aquela doçura. Porque é a historia de uma pessoa que cresce. Primeiro é criança, então tem uma visão mais romântica do mundo. Depois torna-se adulto, naquela época adulto era 15 anos de idade, era a idade em que já estava apto a reproduzir, constituir família. E depois já estava um senhor de 30 anos de idade. Então aí ele já vê o mundo de uma maneira mais consistente, de uma maneira mais cuidadosa, mais prudente. E eu tento transmitir ali um pouco da Nossa Filosofia. Um pouco, porque o livro é fininho. É um dos menores livros que eu escrevi.

Pode ser menor em espessura, mas é também para nós, os leigos, que olhamos para essa Cultura, eu senti pessoalmente, que era o elemento mais provocativo, porque há varias leituras a fazer por trás.

Sim, inclusive uma leitura subversiva, no bom sentido. Uma leitura que subverte os maus hábitos e que subverte a estrutura da nossa sociedade. Não na intenção de demolir nada, mas no sentido da pessoa parar e pensar – afinal essa maneira de ser parece mais interessante! Quem sabe nós podemos adotá-la? Vamos experimentar, vamos usar isso na família, vamos usar isso com os nossos amigos.

Quando o senhor, por exemplo, promove, em um dos sútras, dos seus sútras, defender a liberdade como primeiro pilar da nossa existência e quando ela choca com a disciplina primar sempre pela liberdade.

Esse sútra bate bem nessa tecla, ele é bem categórico, veemente, com relação a isso, que a liberdade é o nosso bem mais precioso.

Mestre, no entanto, pela oposição, nós precisamos ter uma disciplina interior e existencial para defender os valores. Onde é que as duas fronteiras se cruzam?

E a continuação desse sútra, desse pensamento, é quando ele diz que se a disciplina violentar a liberdade, opte pela liberdade. Então, como é que nós vamos temperar essas duas forças, essas duas propostas? É que, a disciplina é fundamental, mas, se a disciplina deste grupo especifico, qualquer grupo que seja, um grupo político, um grupo de esporte, um clube de futebol, não importa o quê, se este grupo tem normas e estas normas, estas regras, esta disciplina me violenta, eu tenho que valorizar a liberdade, eu tenho que colocar a liberdade em primeiro lugar. Fazendo o que? Brigando contra? Não, me afastando. Não serviu para mim. Esta empresa, este colégio, este liceu, esta faculdade, este clube, não serve, porque estas normas me violentam. Então eu saio e vou procurar a minha turma. Se nós fizermos isso, ao invés de querer bater de frente, vamos conseguir ter uma vida muito melhor. E é claro que eu respeito quem pensa o contrário, porque há a opinião de que nos precisamos lutar contra. Está bem. É um outro grupo. São os dois grupos.

O senhor, por exemplo, defende a disciplina, o rigor, a farda, o vestir da camisola (da camiseta, como se diz no Brasil), e esse coletivo pressupõe uma secundarização do indivíduo. É correto isso?

Não. Isto pressupõe que isto tudo que você disse é verdade, mas não pode violentar o indivíduo. Não pode violentar a liberdade dele e tem que estar bem assentado sobre a tolerância. Se nós conseguirmos esse amálgama, que é alquímico, se nós conseguirmos isso, encontramos o equilíbrio ali do fio da navalha. Porque realmente é um equilíbrio sobre um caminho muito estreito. Uma brisa faz com que você caia para o lado, para o extremismo da intolerância, da disciplina que tem que ser cumprida a todo custo, ou para o outro lado, da tolerância excessiva, da complacência, da magnanimidade, no mal sentido. Então é o caminho mesmo do centro, é o caminho do meio que é muito estreito.

Sua Cultura trabalha, por outro lado, sobre os extremos. Nós devemos trabalhar sobre aquilo que são as nossas dificuldades, os pontos menos bons, ou os pontos que são mais positivos?

Não sei se eu colocaria dessa forma. Porque colocando assim nós, de uma certa forma, cristianizamos um pouco essa coisa do bem e do mal. E a nossa proposta é a de que tenhamos sempre a consciência de que bem e mal são sempre relativos. Você esta fazendo errado. Mas errado em relação a que? Com relação a que momento? Richelieu disse certa vez que ser ou não ser um traidor é uma questão de datas. Então é um pouco isso, do certo e do errado. Em que sociedade, em que religião isto é certo ou isto é errado? Você entra numa igreja católica e tira o chapéu em sinal de respeito. Aí você entra numa sinagoga e coloca-o, em sinal de respeito. Eu me lembro de que uma vez nós fomos visitar um templo sikh, na Índia, e eles pediram para cobrirmos a cabeça. Até a câmera que eles mesmos usavam para gravar o ritual, a câmera era coberta em sinal de respeito, era coberta com um tecido branco. Então tudo é convenção. E nós temos que estar conscientes disso cada vez que nos deixarmos seduzir, ou enfim, escorregar um pouco para o lado da cultura que nós recebemos que é a do bem e do mal. “Este é o seu lado mal”. “Isto foi um erro cometido”. Calma, não é bem assim. É melhor colocar: isto talvez não tenha sido conveniente, neste momento, ou neste grupo. Mas não que seja mal, ou que seja errado. E outro sútra diz que mal é o nome que se da à semente do bem. Porque tudo o que você passou na vida de “mau”, você pode observar que, em seguida, ou já, ou logo depois, produziu um fruto muito bom.

Realizando a lucidez do cidadão consciente, o indivíduo lúcido, na viagem para o estado de hiperlucidez, nem que seja no patamar, esse sujeito tem que ter uma visão para onde é que caminha. Como quem vai fazer uma corrida de fundo, ele tem que saber, para se auto-motivar, para onde é que ele caminha. A Sua Cultura, como é que o impregna desse sentido objetivo?

Nós procuramos ver como se fosse uma viagem linda que você está fazendo de comboio e que sabe que aquilo vai a um determinado ponto. Vai a um determinado destino. Mas você olha a paisagem linda do lado de fora, você conversa com um amigo do lado de dentro, você vai até o vagão refeitório, restaurante, delicia-se com uma comidinha, recosta, dorme um pouquinho. Você usufrui. Você desfruta do prazer da viagem. E, assim, chega mais rápido. E se o indivíduo ficar só pensando: eu tenho que chegar; o meu destino, o meu destino, o meu destino. A viagem fica desagradável e parece mais longa. Então, com relação a nossa meta, a recomendação é: não se preocupe com a meta. Vamos usufruir da comunidade, das pessoas. As pessoas que, em geral, seguem este sistema, são pessoas interessantes, são pessoas bonitas, por dentro e por fora, são pessoas educadas, são pessoas sensíveis, são pessoas que tem assunto para conversar com qualquer pessoa.

No entanto, Mestre, quando nós vemos, por exemplo, uma sociedade conservadora, que vamos imaginar, por exemplo, defende que a mulher deve ter um papel na sociedade, que deve viver para o marido, para os filhos, para as aparências, o estado de lucidez permite a ela derrubar essa fronteira. A sociedade conservadora não hostiliza imediatamente essa lucidez?

Não, porque nós não criticamos essa postura tradicional em muitas sociedades hoje vigentes no mundo. E como a Nossa Filosofia, ela não tem intenção de catequizar, não é uma coisa que queira se expandir e, enfim, tomar simpatizantes de outros sistemas filosóficos, muito menos religiosos, então a reação nunca foi negativa, nunca houve uma oposição, uma resistência.

Mas pode haver a nível das células familiares. Por exemplo, se eu desconheço determinada luz, sinto-me perdido no meu corredor, no meu túnel de sombra e, de repente, aparece uma luz no fundo desse corredor, que pode ser, suponhamos, a Sua Proposta, e eu, de repente, passo a caminhar com outro alento nessa direção. E se o túnel de sombra é criado pela estrutura conservadora que a sociedade foi montando a minha volta, eu torno-me rebelde. Pelo menos caminho numa direção oposta. Essa cisão não cria anticorpos?

Normalmente ocorre o seguinte. Quando num casal, numa estrutura familiar, um dos dois, só um, adota esta filosofia, é como se só um dos dois adotasse um partido político, contrário ao do outro cônjuge, ou um time contrário ao time do outro cônjuge. E pode gerar um momento de dificuldade de comunicação. Então o que nós recomendamos é o seguinte: se você evoluiu, se você adotou uma filosofia que tem uma pretensão a uma evolução maior, uma civilidade maior e tudo, uma lucidez maior, quem está errado é você. Porque os dois se casaram dentro de uma determinada visão que um tinha do outro, e cada um gostava do outro como ele era. Criou-se uma regra, criaram-se regras neste jogo, e você mudou as regras do jogo, no meio do jogo. Quem está errado não é o cônjuge, que está reagindo mal, quem está errado é você. Então você tem que ter mais paciência com o outro, tem que ter mais tolerância, tem que tentar içá-lo sem forçá-lo a isso. Talvez pelo exemplo, talvez pela sua forma de agir, mostrando que hoje você é uma pessoa muito melhor pra ele ou pra ela.

E se a outra pessoa preferir viver em outro tipo de referências. Por exemplo, quiser viver para as aparências, e não para o conteúdo do bolo?

Tem sido raro. Normalmente, se houver esse processo que eu mencionei, de tolerância, de paciência e de sedução, cativando a outra pessoa ao invés de cobrando dela uma postura, pelo que nós temos observado nestes anos, nestas décadas, é que, no geral, o cônjuge acompanha. Porque ele gosta do que ele está vendo. Seja marido, seja mulher, nota que o outro melhorou. Melhorou como pai ou mãe, melhorou como marido ou esposa, melhorou como amante, melhorou como companheiro, como amigo. Então, em geral, ele acaba vindo junto.

No (livro) “Encontro com o Mestre”, o pós-imberbe DeRose encontra-se com o DeRose já maduro, já Mestre, já consciente. O que é que o Mestre já consciente diria hoje ao DeRose pós-imberbe? Seria a mesma coisa que disse no livro?

Iria dar o mesmo desencontro do que eu expus no livro, porque ali era o autor com 58 anos, conversando com o mesmo aos 18. Foi assim, também, mais um conto, mais uma ficção, em que o DeRose de 18 anos aparece na vida do DeRose de 58. E ele então discorda, ele discute, ele debate. Ele diz: mas não pode ser assim; eu não concordo com isso; isto não pode ser. E o diálogo entre os dois, entre o jovem idealista de 18 e o homem vivido de 58, aquilo ali pretende dar ao leitor um equilíbrio entre as duas opiniões, porque muitos dos nossos leitores têm 18 e 20 e 25 e 30, e muitos dos nossos leitores têm 58 e 60 e 70 e 80. Então são dois universos completamente diferentes, e o livro procura casar esses dois universos, mostrando que ambos estão corretos, e que é muito uma questão de ótica.

Os dois equilibram-se? São uma mesma coisa? São dois olhares sobre a mesma coisa? Ou um é uma evolução sobre o outro?

Eu diria que, na verdade, os dois têm seus preconceitos, seus pré-conceitos. Ambos discriminam e ambos procuram não discriminar. Ambos tentam não ter preconceitos e aí, este mais velho aprende com o mais novo, e o mais novo aprende com o mais velho. A idéia básica desse livro é essa.

Nós tendemos a acrescentarmos na diferença. Normalmente as pessoas lidam muito mal com o que lhes é diferente, defendem-se, rejeitam, oprimem, suprimem, em vez de somarem-se na diferença.

É. E essas diferenças são muito importantes. Porque, imagine o seguinte: se todos os meus amigos só me fizessem elogios, eu estaria cercado por bajuladores, como alguns monarcas no passado. O que eu vou aprender com isso? Eu vou estar errando e todos vão estar dizendo que eu estou acertando. Não vão me ajudar em nada. Mas o meu crítico, os críticos de plantão, eu ainda nem cheguei a errar e eles já estão me apontando o dedo. Então, quem está me ajudando mais? Quem está me ajudando mais é aquele que se considera inimigo, mas que na verdade, é mais amigo do que os meus amigos, porque ele me mostra o lado sombrio que eu estou cometendo ou estou prestes a cometer. Ele aponta o erro e eu posso corrigir esse erro. Eu sempre comparo o amigo e o inimigo a uma árvore, em que as raízes, que estão nas trevas, que crescem pra baixo, são os inimigos, porque estão nas sombras, mas sem os quais a árvore não fica em pé. A árvore precisa das raízes, e os inimigos são as raízes. E os amigos são as flores, são os frutos lindos, maravilhosos, mas sem as raízes, não existiriam.

O senhor, neste “Tratado de Yôga”, que acabou de ser lançado em Lisboa dá logo o exemplo até na dedicatória do livro, porque ele dedica não só a pessoas que o senhor admira pela luz, mas também por uma pessoa em particular, que o obrigou… Pode nos falar um pouco disso?

Pessoas que às vezes, por implicância, até por não conhecer bem o outro lado, a outra verdade, atacam, difamam, agridem, injuriam, excluem. Então, o que acontece: você pode se considerar um perseguido, você pode se considerar uma pessoa infeliz, pode ficar ressentido. Ou você pode perceber, numa visão de grande angular, que aquilo ali foi extremamente importante e você pode ser grato àquela pessoa, mas com sinceridade. Não adianta ser grato com hipocrisia. “Não, sou muito agradecido aos meus inimigos”, mas aqui dentro… não é. Então, não. Tem que ser uma coisa, obviamente, tem que ser uma coisa autêntica. E ali é muito sincero. Se aquele senhor não tivesse desencadeado toda aquela implicância, que ainda ocorre hoje, e não tivesse gerado todo um fã clube dele contra o nosso trabalho, hoje o nosso trabalho seria imperceptível. O cristianismo só ficou conhecido porque foi perseguido, senão teria sido uma pequena seita judaica ou essênica, que teria desaparecido logo depois. Mas a perseguição deu visibilidade e, a partir daí, pessoas que concordavam com aquele ponto de vista, fizeram com que se estruturasse e se eternizasse.

Isso não é o que nós entendemos ou que a Sua Cultura descreve como ahimsá? Não é o trocar o fel por mel, é algo muito mais profundo?

Eu acho que é mais profundo. Agora, nesse conceito, do ahimsá, que é a não agressão proposta por Gandhi. Ahimsá, nós aplicamos não exatamente da forma como Jesus propôs, que era oferecer a outra face, não é exatamente assim, mas é de uma outra maneira. Por exemplo, quando uma pessoa tem uma atitude agressiva. Nós precisamos ter consciência. Se você tiver maturidade e auto-estima, você tem condições de compreender que aquela pessoa está sendo agressiva porque ela tem medo. Uma pessoa é agressiva quando teme.

Se aqui entrar a minha cachorrinha, a Jaya, que é a minha weimaraner vegetariana, abanando o rabinho, nós vamos dizer: “que bonitinha, vem cá, deixa eu fazer um carinhozinho.” Mas, se entrar aqui, rosnando, mostrando os dentes, você logo diz: “tira esse bicho daqui senão eu dou uma pedrada nele.” Porque você ficou agressivo? Ficou agressivo porque sentiu medo. E assim é em todas as situações. Se você prestar atenção, analisar com imparcialidade, você vai notar que, todos os momentos em que uma pessoa ficou agressiva é porque ela sentiu medo, ela se sentiu ameaçada, ela entrou em defensiva.

Então alguém foi agressivo com você, você pode, ou ter uma reação imatura, que é assim: você foi agressivo comigo, devolvo-lhe a agressividade. Ou você pode ter uma reação ponderada, uma reação da pessoa que tem auto-estima e que tem maturidade. Você foi agressivo comigo, eu tenho que compreender que você se sentiu agredido por mim, mas eu não tive a intenção de agredi-lo; você se sentiu ameaçado por mim, mas eu não tive a intenção de ameaçá-lo; você talvez tenha tido um péssimo dia; você talvez tenha um péssimo casamento; não sei, talvez você tenha dificuldades, problemas na sua vida. E eu vou devolver mais agressividade? Isso não vai me ajudar. Não vai ajudar a nossa relação. Se for uma relação de negócios, se for uma relação de amizade, não importa o que. Devolver agressividade é tentar combater o ódio com mais ódio. Tentar combater fogo com gasolina. Então isso não ajuda.

Eu gostei muito da sua frase que é devolver fel com mel. É interessante, porque é mais ou menos isso. De fato, é mais ou menos. Porque se a pessoa agrediu e você lhe dá um sorriso, um sorriso sincero, porque a pessoa percebe no seu olhar, na sua expressão facial, o cinismo é detectável, instintivamente, por qualquer pessoa. Se você realmente lhe ofereceu um semblante descontraído, um sorriso sincero, aquela agressividade se reduz. Mas se reduz drasticamente.

Eu me lembro de uma situação em que houve encontro de duas linhas filosóficas de nomes quase idênticos, mas que são antagônicas, e até por isso mesmo são antagônicas, porque quanto mais semelhantes são, mais elas têm dessintonias. Então, nesse encontro, entre as duas filosofias, uma senhora, professora da outra linha veio caminhando na minha direção, com o dedo em riste e disse: “DeRose, você isso, você aquilo!” E começou a me insultar em altos brados, com a intenção mesmo de que todos escutassem. E todos pararam no evento, no congresso, para ver qual seria a minha reação. Afinal será que tudo isso que ele diz, afinal é mentira? Como será que ele vai reagir? Ele vai dizer umas boas a essa senhora? Vai gritar com ela? Talvez agredi-la? Vai virar-lhe as costas e sair andando como um mal educado? Ou vai ficar parado ouvindo, deixando que ela agrida, fale,fale, fale, insulte, insulte, insulte? Qual será a reação?

E aí, que reação eu teria tido? Imagine lá. Tempo para pensar.

Pronto. A reação foi: agarrei a velinha, abracei a velhinha, e quando eu soltei, ela já não tinha mais agressão nenhuma, não tinha insulto nenhum pra dizer. Quando eu soltei, ela olhou para mim e disse: “Ai DeRose, você hein?” Pronto, tirou o fel com o mel do abraço, sem dar a outra face, sem ficar simplesmente, passivamente, escutando as agressões dela, e sem devolver as agressões que, afinal, não ajudaria nada a minha relação com ela, não ajudaria nada minha imagem com os outros que estavam assistindo. E também não me ajudaria comigo mesmo, porque naquela noite eu não teria dormido tão bem.

Isso pressupõe o tal indivíduo que a Sua Cultura, o Método DeRose, pretende esculpir, do tal indivíduo lúcido, que se apercebe de uma forma como quem vê um filme o que está a acontecer a sua volta, e reage de uma forma atuante, consciente e lúcida, e não de uma forma primária.

Exatamente. Vamos trazer isso para a realidade de um casal, de um casamento, enfim, qualquer relacionamento afetivo. Num casal, ambos sabem exatamente qual é a fisionomia, qual é o tom de voz e qual é a frase que irrita o outro. Sabem perfeitamente, pois vivem juntos. Estão tão próximos. E num conflito, de casal, se este disse aquela palavra ou fez aquela cara, o outro sabe exatamente qual é a fisionomia, qual é o tom de voz e qual é a palavra que vai agradá-lo, que vai atenuar aquela situação. Mas por que não diz? Porque eu não vou me dobrar, não vou ceder, senão o outro pisa em mim.

Aí depende da sua atitude, ao dar essa palavra, interromper o conflito conjugal que vai surgir ali e depois estabelecer limites. E se essa relação pode ser mantida, ela vai ser mantida com respeito, com consideração, com carinho, com companheirismo. Se não puder ser mantida, é uma pena. Porque toda relação que se rompe tem um custo emocional muito caro, um custo sobre a saúde muito alto. Mas, paciência. Há um momento mágico em que as relações precisam mesmo terminar, porque aí terminam como amigos. E se ultrapassar o momento mágico, e as pessoas insistirem que tem que permanecer juntas, aí talvez na hora em que romperem, rompam como inimigos, com ressentimentos.

Então, às vezes é apenas a questão de hoje eu cedo e amanhã essa outra pessoa vai ceder. Porque há uma reciprocidade natural dos seres humanos, quando você tem uma atitude cavalheiresca, uma atitude fidalga com relação a uma pessoa, mesmo que íntima, mesmo que seja um irmão, mesmo que seja um cônjuge, a tendência é que a outra pessoa reaja de uma forma semelhante numa circunstância imediata ou futura. Uma vez, eu estava sendo conduzido num veículo, o meu amigo estava conduzindo e conduzia muito mal. E fez uma conversão péssima e o outro motorista quase bateu no carro dele, botou a cabeça para fora e já ia dizer uns impropérios. E esse meu amigo abriu um sorriso para ele, como quem diz: desculpe, eu errei. Mas com um sorriso, muito simpático. O outro motorista botou a cabeça para dentro e disse: vai, meu filho, vai! E não deu briga. O que evitou a briga? Foi só um sorriso.

A importância do indivíduo mais consciente, mais lúcido, mais atuante a todos os níveis. É isso que a Sua Cultura quer a relançar dentro da sociedade?

Precisamente. Porque a tendência é colocar um rótulo nessa Cultura, e eu prefiro chamar de Nossa Cultura ou Nosso Sistema, Nossa Filosofia, evitando colocar rotulo; o Nosso Método, evitando o rótulo. Por quê? Porque na hora em que as pessoas colocam rótulos, elas engessam a coisa. E aí começam todas as intolerâncias, até com relação a quem está fora. E uma das confusões que eu procuro corrigir, uma das visões distorcidas, é que a pessoa pratique o Método dentro da sala de aula na qual ela aprende o Método. Só que ali é para aprender, não é para praticar. Não é para pôr em pratica. Por exemplo, se dentro de uma sala de classe, nós ensinamos a respirar corretamente, na hora em que a pessoa sai por aquela porta e vai embora, ela não há de sair respirando errado. Então não adiantou nada. Então, ela aprendeu a respirar certo aqui dentro, agora ela sai respirando certo e vai caminhando respirando certo até o seu carro, senta-se e vai conduzindo o carro, respirando corretamente. Chega no seu escritório e vai trabalhar, ou chega no seu ginásio e vai fazer esporte, respirando corretamente. Vai respirar corretamente, de forma mais produtiva, sempre, porque foi isso que ele aprendeu aqui. Eu usei respiração, podia usar qualquer outra técnica para exemplificar. Esse conjunto de técnicas e conceitos que ele aprende na nossa instituição, ele sai e deve aplicar, como você disse, em todas as situações da vida. Como nós tentamos explicar, tentamos expor. Que ele vai transmitir isso, ele vai irradiar isso, para toda a sociedade, porque ele vai irradiar pra família, ele vai irradiar para os amigos, ele vai irradiar para os seus colegas de trabalho. Então aquilo vai criando ondas de choque e, aquilo ali vai contagiando de uma forma positiva, todas as pessoas que travam contato com o nosso praticante.

Se o Carl Sagan dizia que a sociedade corrompe o indivíduo, esse efeito impregnador também pode funcionar, e deve, e o senhor pretende que funcione em sentido contrário?

Nós sabemos que funciona de lá pra cá. Façamos funcionar então, também, daqui pra lá.

Se o senhor escrevesse agora não o “Eu me lembro”, mas o “Eu sonho”, que sonho é que se escreveria?

Na verdade, do “Eu me lembro” eu não conseguiria acrescentar mais nada, porque aquele livro me saiu numa arrancada só. Às sete da noite eu comecei a escrever. Às sete da manhã, eu disse: vou descansar um pouquinho. E pronto, estava terminado. Não consegui acrescentar nem uma linha.

E o “Eu sonho”, o que é que tinha lá dentro?

Ali, não sei. Ali tem muita coisa! Tem muita coisa!

Podemos pegar-lhe por uma ponta, por um pé?

Que eu espero um dia poder expressar.

Mas vê com certeza. Nós sonhamos que os nossos filhos cresçam num mundo numa determinada direção. E nós configuramos qual é essa direção. O senhor não “hipotecou”, não investiu 50 anos de investigação, em procura de saberes, sem sentir dentro de si onde é que queria chegar? Onde é que quer chegar?

Eu gostaria de chegar a um ponto em que as pessoas, minimamente, escutassem o que nos temos a dizer. Que nos permitissem falar. Que não nos amordaçassem. Porque o grande problema que eu tenho sentido, é que nós temos coisas muito boas para dizer, não propondo um debate, mas propondo uma reflexão. O que ocorre é que os que não gostam do sistema, ou pensam que não gostam, não escutaram. Eles não conversaram comigo, não conversaram conosco, não conheceram a nossa gente, não leram nossos livros. Então, essa mordaça, eu gostaria, o meu sonho seria poder arrancar essa mordaça.

Eu me sinto sob aquela punição antiga, punição eclesiástica, do silêncio obsequioso. “Disse o que não devia, não falará mais.” E realmente eu sinto muito isso. Não querem que eu fale. Mas você observa que o que eu falo não é polêmico. Não considero polêmico, porque nós não estamos polemizando, nós não estamos discordando dos outros. Não é agressivo, acho que não é, não tenho intenção de que seja. Não quero agredir ninguém. E a proposta é boa, a proposta é uma juventude saudável. Nós trabalhamos essencialmente com adultos jovens. Portanto, produzir uma juventude saudável, juventude longe das drogas, do álcool e do fumo, se mais nada prestasse, pelo menos isso seria uma contribuição a ser reconhecida, que o nosso trabalho já esta há meio século proporcionando à sociedade.

Para nós que de fora visitamos a Sua Cultura, vamos fazer um exercício de flash. A sua visão ou a sua missão aponta pra onde? Onde é que é o horizonte que configura para esta sua passagem pela vida?

Eu tenho conhecido gente muito interessante, realmente exemplos de seres humanos. Pessoas com quem eu tenho o privilégio de conviver. Algumas há mais de 30 anos, outras há mais de 20 anos, outras que eu estou conhecendo agora, como é o seu caso, e que pra mim constitui um privilégio. Essa profissão nossa, esse nosso ideal, nos permite isso: conhecer pessoas. Nós não somos head hunters, nós somos heart hunters.

Obrigado!

Thiago

Entrevista sensacional!!!!

Como gravar a entrevista com o Educador DeRose, em Portugal, em mídia de CD-Rom (que permite reprodução em aparelho DVD).

Olá Mestre,
Segue o passo a passo para gravar a entrevista em CD-Rom no formato de vídeo para reprodução na maioria dos aparelhos de DVD:

1° Fazer o download da entrevista (salvar em um local que você lembre no computador);

2° Abrir o programa Nero;(utilizei a versão 4 : Nero vision 4 (Essentials SE)

3° Clicar na aba CD;

4° Selecione o ícone foto e vídeo;

5° E na sequência, criar CD de vídeo;

6° Abrirá uma janela chamada Meu CD de Vídeo, nela clique no botão adicionar e escolha o arquivo da entrevista. (Importante: caso não visualize o arquivo, escolha a pasta onde foi salva a entrevista e na parte inferior em Tipos de arquivo, altere para Todos os arquivos (*.*). Dessa forma a entrevista aparecerá para escolha);

7° Insira a mídia de CD-Rom para gravação.

8º. Pronto. Agora você pode promover uma atividade cultural ou deixar a entrevista rodando na sala de espera . Pode fazer uma cópia para todos seus alunos, amigos e familiares.

Se houver alguma dúvida, me coloco a disposição. [Contatá-lo pelo nosso blog.]

That’s all!

Um abraço a todos.

Thiago Ferreira
Instrutor do Método DeRose
Unidade Tatuapé – São Paulo

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domingo, 10 de maio de 2009 | Autor:

Durante quase cinquenta anos, nós nos esforçamos por corrigir falsos estereótipos (para mim, todos os estereótipos são falsos) sobre a nossa filosofia e sobre o nosso trabalho. Fomos bem-sucedidos sob um certo aspecto, pois conseguimos definir muito bem o que não somos. Não somos terapia, não somos seita, não somos ginástica, não somos zen, não somos auto-ajuda, não somos esoterismo…

Mas não conseguimos dizer de maneira resumida, simples e clara o que somos. Talvez com mais cabeças pensantes consigamos uma definição do Método DeRose que seja facilmente compreendido pelo público leigo e possa mobilizar as pessoas certas a visitar uma escola do Método.

Para ajudar você na elaboração da sua sugestão, vou-lhe fornecer alguns dados. Não é para mencioná-los, mas apenas para que você se situe:

1) Método DeRose é constituído por técnicas e conceitos.

2) Nenhum dos dois é moderno. As técnicas e os conceitos são inspirados em um período muito antigo.

3) Sabemos que a meta dessa Cultura é o estado de consciência expandida que nos proporcione o autoconhecimento; sabemos que durante o percurso ocorrem consequências benéficas para o organismo e psiquismo do praticante; sabemos que não trabalhamos com foco nos benefícios. Como explicar isso em uma frase de até dez palavras?

4) Quem está dentro sabe que o mais importante é a coisa em si, Nossa Cultura, nossa belíssima proposta de revolução comportamental que torna as pessoas melhores e mais felizes. Fazemo-lo por que nos dá prazer, não para receber qualquer tipo de benefício. Mas como classificar ou resumir isso aos nossos amigos e familiares?

5) Queremos compartilhar nossa descoberta com os entes queridos, mas não desejamos doutrinar nem convencer ninguém de coisa alguma. Como expor isso em uma pequena definição que seja cativante, mas não queira vender nada?

Pelos itens acima, você percebeu que é muito mais simples agarrar um rótulo que já tenha seus estereótipos, seu fã-clube, como é o caso do Yôga, aceitar oferecer benefícios e não questionar os mitos, as farsas e o mesmismo. No entanto, esse ônus seria muito pesado para a nossa consciência. Teríamos que abrir mão daquilo em que acreditamos e nos prostituir à sociedade de consumo. Queremos prosseguir – e cada vez mais – fazendo um trabalho sério, digno, elegante, ensinando uma filosofia de vida.

Aguardo as suas sugestões de definição daquilo que somos e do que propomos. Mas lembre-se: tem que ser abrangente, clara, simples, curta. E, é claro, que não escorregue no paradigma: não mencione o rótulo que queremos evitar. Lembre-se de que essa frase não é para ser um slogan e sim uma definição curta que tenha o poder de motivar uma pessoa que pertença ao nosso público alvo a se mobilizar, levantar-se e ir até uma escola do Método DeRose para experimentar. Nosso público alvo é aquele que não gosta de “ióga”. Nosso público alvo é adulto-jovem, dinâmico, saudável e descomplicado. Não está doente, não está deprimido, não precisa de terapia, não quer uma seita, não admite doutrinação nem manipulação. E vai adorar o ambiente!

Ao elaborar uma explicação curta, mostre a algumas pessoas que não praticam e pergunte-lhes se essa definição teria o poder de mobilizá-las a sair de casa e procurar uma escola do Método.

Leia também as respostas que dei aos primeiros que enviaram comentários com suas sugestões.

 

 

Veja abaixo a opinião enviada pelo companheiro Juliano Paganini:

 

Juliano Paganini

Mestrão,

Refletindo sobre este tópico, gostaria de compartilhar uma experiência pessoal…

Infelizmente, já conclui que o termo “Yôga” gera uma rotulagem estereotipada quase impossível de ser revertida, e, para o intelecto popular, representa exatamente aquilo que não somos: naturebas, pseudo-hindus, místicos, “espiritualizadíssimos”, etc.

Contudo, acredito que com os termos “SwáSthya”, “DeRose”, e “Uni-Yôga”, ocorre coisa diversa: por conta de sua perpetuação pelas pessoas integrantes desta poderosa egrégora, através de um exemplo cotidiano de virtuosidade, levado a cabo pelos representantes fiéis daquilo que o SwáSthya significa (dinamismo, saúde, alegria sincera, companheirismo, apreço pelo conhecimento, etc.), o público em geral pode construir uma opinião mais fiel a respeito da Nossa Cultura, ainda que dela não participe diretamente. Tanto pode como já o vem fazendo! (Pelo que posso observar…)

Por isso, pessoalmente, sempre faço questão de deixar claro ao público leigo que tudo isso de bom tem nome (Swásthya!), e que aquelas “Pessoas” se unem por um ideal em comum (são alunos do DeRose e dos professores por ele formados, que estudam e trabalham na Universidade de Yôga!).

Grande abraço! Aguardamos sua vinda a Curitiba !

Juliano Paganini
(Aluno do Ricardo Poli)

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domingo, 5 de abril de 2009 | Autor:

Esta semana, dei uma palestra sobre a Índia, juntamente com o jornalista Arthur Veríssimo, em um respeitado centro cultural de São Paulo. Enquanto explanávamos, rodava o DVD Índia Exótica, do Veríssimo. Foi bastante instrutivo e também divertido. Tivemos, inclusive, a presença de representantes da própria Índia, que nos ajudaram com dados e informações sobre línguas, sobre castas, sobre o casamento indiano etc. Como é nosso costume, não divulguei antes. No entanto, compareceu tanta gente que os organizadores precisaram recorrer a mais cadeiras e deixar algumas pessoas na sala adjacente, vestíbulo do salão. Da Uni-Yôga, só convidei os membros do Conselho Administrativo, dos quais compareceram quase todos. Concederam-me a honra da sua presença várias autoridades militares, eclasiásticas, políticas, humanitárias e jornalísticas. A todos, muito obrigado pelo privilégio de sua presença.

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