A prática da caça estimulou algumas tribos a migrar atrás das manadas e, assim, muitos humanos tornaram-se nômades e exploradores. Com isso, essa bactéria planetária espalhou-se por todo o globo.
No entanto, nós não fomos projetados para comer carnes. Animais vegetarianos quando comem carnes adoecem mais e morrem mais cedo. Não dispomos de sucos gástricos nem intestinos para processar carne. A maior demonstração de que não nascemos para caçar é a nossa virtual falta de ferramentas naturais para abater outro animal. Não temos garras, nem presas, nem veneno, nada.
Para mim, o fato de não ingerir carnes nunca trouxe dificuldade alguma de relacionamento. Estudei em colégio interno, pratiquei esportes, servi o exército na tropa, sempre fazendo muitos amigos. Incursionei por esse Brasil imenso dando cursos no interior de vários estados, depois viajei por outros países e jamais tive qualquer problema para me alimentar nem para cultivar as atividades sociais. Em alguns lugares o problema para comer era a diferença de paladar, mas não o fato de eu ser não-carnívoro.
Vegetariano é aquele que não come carnes. Nem vermelhas, nem brancas, nem azuis, nem furta-cor. Carne alguma. E é só isso.
O vegetarianismo divide-se em três grupos:
a) vegetarianismo propriamente dito (também chamado lacto-ovovegetarianismo), que consiste em alimentar-se com absolutamente tudo o que é usado na alimentação comum, menos as carnes de qualquer espécie;
b) vegetalianismo (também denominado lacto-vegetarianismo), que consiste no mesmo que a modalidade anterior, menos os ovos;
c) Vegetarismo (também chamado vegetarianismo puro ou veganismo), que não aceita as carnes, nem os ovos, nem os laticínios.
O sistema mais comum no Ocidente é o primeiro. Quando alguém se declara vegetariano, em noventa por cento dos casos, está querendo dizer que apenas não ingere carnes, de espécie alguma. Quem alardeia que é vegetariano, mas come peixe ou frango não está sendo honesto.
A Índia, que é o berço do vegetarianismo e a maior nação vegetariana do mundo, quando lá fui por 25 anos, não tinha arroz integral. Essa foi minha pasmada constatação quando morei num mosteiro dos Himálayas. A comida não tinha nada de marrom, não era integral e não tinha gosto naturéba. Era colorida, aromática e temperadíssima.
Sugestões de pratos sem carnes de qualquer espécie (nem carne de frango, nem carne de peixe, nem carne de crustáceo etc.).
Todas as nossas sugestões de pratos devem ser bem temperadas com as especiarias já citadas: orégano, cominho, coentro, noz-moscada, tomilho, gengibre, cardamomo, açafrão, curry, páprica, louro, salsa, cravo, canela, manjericão, manjerona, masala, kummel, sem mencionar a cebola e o alho. Usar azeite de oliva virgem ao invés de manteiga. Evitar sal, pimenta-do-reino e vinagre.
SOPAS, SOUFFLÉS E ASSADOS: de ervilhas, palmito, aspargos, legumes em geral, cebola, couve-flor, milho, champignon, queijo, beterraba com creme de leite, lentilha com batata cortada etc.
LEGUMES À MILANESA, EMPANADOS, DORÉ, AU GRATIN: couve-flor, palmito, cenoura, enfim, todos os legumes (sempre orgânicos) separadamente ou em combinações tais como batata com cebola, aspargo com champignon e todas as possibilidades imagináveis.
FAROFAS: brasileira autêntica (cebola, azeitona, pimentão, tomate, salsa), ou de ovo com azeitonas, passas com ovos, só com cebola, ou azeitonas com cebolas refogadas, ou ainda de banana etc.
FEIJÕES (desde que cozidos sem carne-seca, torresmo/bacon, paio nem caldo de carne de galinha, de boi, de peixe ou de qualquer outro bicho morto): preto, manteiga, fradinho, azuki, lentilha e tantos outros.
ARROZ (BRANCO OU INTEGRAL): com ervilhas, com cenoura, com palmito, com azeitonas, com passas, com queijo.
MASSAS: ao pesto, ao alho e óleo, ao suco de tomate, ao catupiry, ao tahine, ao creme de leite com cebolas refogadas, molho rosé com pal- mitos tenros, molho branco com champignons, ou com os molhos mais variados, ou com queijos diversos ao forno.
BOLINHOS FRITOS OU ASSADOS: de arroz, milho, couve-flor, aipim, petit-pois, cenoura, batata, e mais uma infinidade de legumes, cereais, raízes etc. sempre orgânicos. Mas evite as frituras.
QUIBE SEM CARNE: de triguilho com abóbora, com cenoura, com grão-de-bico, com espinafre, com ervilha e tudo que se queira experimentar. Podem também ser recheados com queijo, com cebola etc.
EMPADAS, CROQUETES, BARQUETES, PASTÉIS E EMPADÕES: de cebo- la, de cenoura, de palmito, de champignon, de aspargos, de legumes em geral, do que você tiver em casa!
OMELETES: usamos pouco ovo, mas se não houver mais nada no hotel ou restaurante ou se o cozinheiro não tiver tempo, apelamos para uma omelete de cebola, palmito, queijo, azeitonas, legumes diversos, couve-flor, salsa com cebola, tomate com qualquer outra coisa, milho, fines herbes, espanhola sem carne (azeitona, pimentão, salsa, tomate e legumes) etc.
PIZZAS: o que você quiser colocar sobre a massa da pizza fica sempre muito bom. Vamos, dê asas à imaginação!
SANDUÍCHES: com ciabata torrada (imbatível), baguete, croissant, brioche, focaccia, pão árabe, pão italiano, de milho, com um, dois ou três andares de pasta de ovo e azeitonas; alface e tomate; tomate e queijo; pasta de cebola com creme de leite; cenoura cozida com tahine; saladas diversas com maionese; algum legume batido no liquidificador com salsa, azeitona, cebola e creme de leite; e todas as experiências que você quiser fazer. Menos aquele famigerado sanduíche natural que de natural só tem o nome.
SALADAS DIVERSAS: bom, você já sabe que última coisa a oferecer a um vegetariano é salada, não sabe? Então, se fizer uma salada, esmere-se para arquitetar algo realmente saboroso, colorido, bonito, cheiroso e bem decorado. Jogar umas verduras em cima da travessa não é maneira de servir uma salada. E nada de temperá-la com limão e vinagre sem consultar os comensais.
A resposta que o maître poderá lhe dar é a de que não tem nada para vegetarianos. Então você lhe contrapõe:
– Tem batata frita? Tem couve-flor? Tem queijo? Tem farofa? Tem palmito? Tem espaguete? Tem champignon? Tem pizza? Se tem tudo isso e muito mais, porque o senhor declara que não tem nada para vegetarianos?
Aí, ele lhe serve uma sopa de cebola com caldo de carne.
Vamos, portanto, tentar esclarecer alguns equívocos consagrados pela opinião pública leiga sobre a alimentação vegetariana, incluídos aqui os nutricionistas, especialmente os das companhias aéreas e os chefs de cuisine de restaurantes e hotéis – e, certamente, as tias-avós de todos nós.
Vegetariano é aquele que não come carnes. Nem vermelhas, nem brancas, nem azuis, nem furta-cor. Carne alguma. E é só isso.