Ter um cão dá trabalho e dá despesas. Para ter um cachorro, você precisa de maturidade e estrutura. É necessário pagar veterinário e alimentos de boa qualidade, brinquedos, caminha (que ele vai destruir logo, logo), mantinhas e mais uma infinidade de coisas. Ter um cão é como ter um filho, só que não cresce nunca. Você tem de cuidar dele pela vida toda.
E precisa ter paciência, muita. E amor, um montão. E tempo, bastante tempo. É preciso caminhar com ele uma hora por dia. É preciso levá-lo várias vezes por dia lá fora para fazer suas necessidades (e recolher seus cocôs).
Ter um cão só para suprir as suas carências e não ligar a mínima para as dele é inadmissível. Deixar o bichinho trancado, sozinho no apartamento durante o dia todo, é uma maldade. Os cães são serezinhos amorosos que precisam desesperadamente de companhia ou de gente ou de outros cães. Para um cão, ficar só, confinado, o dia todo é uma tortura psicológica.
E se ele ficar apertado? A maior parte dos humanos não prevê isso na organização da sua vida com o cão e o animal só pode se aliviar na rua, de manhã e à noite. Você não fica apertado no meio do dia? Já imaginou você querendo fazer um xixi ou com dor de barriga e não podendo ir ao banheiro porque o seu dono deixou-o preso em um lugar sem banheiro?
Mas se não conseguir segurar e fizer um xixi – ou pior – na sala ou no quarto! O resto do dia pareceria uma eternidade, enquanto esperaria horas sem fim passarem-se arrastadas, antevendo a chegada do seu tutor e o constrangimento que viria a seguir. Mesmo que ele não brigue. Mesmo que não grite. Mesmo que não bata. O animal fica envergonhado pelo ar de chateação do humano.
É aí que eu discordo dos treinadores. Eles são quase todos da opinião de que cão não é gente e precisa ser tratado como cão. Eu trato a Jaya como pessoa da família. Trato-a como filha.
Obviamente, não é para achar que o cão é um ser humano, mas sim para tratá-lo como uma “pessoa” de quatro patinhas. Só assim vamos conseguir respeitar o cachorro em sua natureza de ser vivo que sente dor, frio, fome, amor, medo, felicidade e tristeza, tal como os humanos.
Ao longo da História, os homens sempre discriminaram a tudo e a todos para que lhes fosse justificado o direito de superioridade e de exploração. No início do Cristianismo, foi debatido se mulher deveria ter alma ou não. Por poucos votos, decidiu-se que sim. Já os negros e o índios não tiveram a mesma sorte. A fim de contar com o beneplácito divino para poder explorar, escravizar, torturar, matar, afastar os filhos das mães e vendê-los para lucro próprio, todos os que não pertencessem à etnia do vencedor eram declarados seres sem alma, isto é, não eram gente. (“Diferente não é gente.”) Agora compare e confira se não é o que fazemos com os animais.
Quando tratamos cão como bicho, não investimos no desenvolvimento da sua inteligência. No entanto, os cães têm uma inteligência muito sofisticada. Só não aprendem mais porque não lhes ensinamos. Não obstante, quantos anos investimos para ensinar um ser humano a falar, a comer, a andar, a vestir-se? E vamos continuar a lhe ensinar coisas por muito tempo. Por que não podemos investir um pouco de cultivo aos nossos cães?
Você é uma pessoa bondosa e de forma alguma cruel. Então, pense bem antes de colocar em sua casa um ser que é todo emoção, que é todo amor.
Muita gente adota um cachorro só para depois jogá-lo na rua na primeira dificuldade econômica, doença, problema para educá-lo ou sob qualquer outro pretexto. Isso é uma desumanidade! Um conhecido meu encontrou um weimaraner sozinho. Tinha sido abandonado por seu des-humano por ter cado doente! Você já imaginou se os seus pais tivessem jogado você fora quando teve as doenças infantis? Todas elas deram trabalho e despesas. Mas você não foi posto na rua.
Em alguns países, é comum que, na época de férias, as ruas se encham de cãezinhos abandonados, porque as famílias querem viajar e não têm com quem deixar o cachorro. Eu mesmo já recolhi dois anjinhos que foram abandonados no aeroporto e eram pessoinhas tão especiais que o fato nos partiu o coração.
Certa vez, chegando ao Brasil de uma viagem ao exterior, encontramos, no aeroporto internacional, um serzinho pequeno que ia de passante em passante, pedindo para ser adotado. Saltava como uma molinha, como se quisesse se aboletar no colo das pessoas, o rabinho abanando incessantemente e um olhar suplicante; não havia como ignorá-lo. Quando veio pulando em mim, fiz-lhe carinho e senti receptividade. Dei-lhe comida. Olhei nos seus olhinhos negros e não consegui deixá-lo lá.
Não caberia mais um ente querido de quatro (nem mesmo de duas) patas no nosso apartamento. Ainda assim, trouxemo-lo conosco. Deixamo-lo durante alguns dias numa clínica, em observação, tomando todas as vacinas. Quando fomos buscá-lo no veterinário, sua alegria por nos rever era inacreditável. Minha amiga Virgínia se apaixonou por ele e adotou-o.
Quando perguntam sua raça, digo que é street terrier. Mas é bem possível que tenha mesmo algum ascendente com pedigree. Ele tem uma índole ótima, é ultra-educado, logo tornou-se vegetariano com prazer e parece estar nos dizendo o tempo todo “Obrigado, obrigado por me darem um larzinho!”. Quando fomos viajar para passar o Ano Novo no Rio, Vivi teve que deixá-lo na casa da treinadora. Ao retornarmos para buscá-lo, soubemos que ele ficou sentado diante do portão até as onze da noite esperando que sua “mãe” humana voltasse.
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Fora o cuidado de não escolher o cão mais hiperativo, deve-se conhecer bem os espécimens que o canil fornece e checar os ancestrais, para que não haja antecedentes de enfermidades genéticas. Verifique, também, se o canil não explora de forma cruel as fêmeas, fazendo-as engravidar seguidamente.
Por outro lado, não há nada mais lindo que salvar da morte certa os “focinhos carentes” que estão esperando por adoção nos abrigos. Se ninguém os adotar, serão abatidos sem dó nem piedade. Procure nos sites de adoção e poderá conhecer o seu futuro pet pela foto e pelo perfil que geralmente é descrito.
Lembre-se de que nunca deve separar o filhote da mãe com menos de 45 dias. Eu acho um absurdo separá-lo da mãe com qualquer tempo. Mas, pensando racionalmente, cada casa ficaria com mais de dez cães quando alguma cadelinha desse cria, o que é impraticável. Dessa forma, com dor no coração, preciso aceitar o fato de que a praxe é separar os filhotes em algum momento.
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Coleira, sempre. Guia (trela), quando for indispensável. A coleira é um acessório que embeleza e dá personalidade ao cão. Jaya tem uma coleira da Louis Vuitton lindíssima! Nela, convém ter sempre uma plaquinha com o nome do seu baby e os números de telefone. Caso se perca, será localizado. Se roubado e conseguir escapar antes de que lhe tirem a coleira, com a plaquinha será mais fácil o seu resgate. Convém implantar um chip subcutâneo com os dados do anjinho. É claro que a Jaya tem um! Quando for lançado um chip com GPS para localizá-lo onde o cão estiver, coloque-o sem perda de tempo. Fica muito mais fácil controlar um cão rebelde com o uso da coleira e da guia. Mas não com violência nem com histeria. Basta serenidade e firmeza. Se o cão é teimoso, desobediente, malcriado, o fato de colocar uma coleira e trela já dá uma baixada na crista do galinho. Por outro lado, não gosto de usar guia. Andar com ele sendo arrastado para lá e para cá por uma trela é muito ruim para a autoestima do animal. Imagine se você fosse levado para passear com uma corda no pescoço e o seu dono decidisse se você pode ou não cumprimentar um amigo ou cheirar uma sirigaita. Onde as leis e regulamentos permitirem, mais vale que o seu amiguinho aprenda a andar solto. Jaya passeia comigo pela Oscar Freire, em São Paulo, e pelas ruas do Leblon, no Rio de Janeiro, sempre solta. Nos shoppings que permitem a entrada de cães, como os chiquérrimos Cidade Jardim e Higienópolis, de São Paulo, é preciso colocá-la na guia. Paciência!
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É claro que estas instruções não são infalíveis e recomendamos que você, podendo evitar, não as ponha em prática. O melhor é desviar-se de casas que tenham cães perigosos. Mas, se o ataque já começou, talvez estas medidas possam salvar a sua vida. Os cães e os tigres preferem atacar pelas costas. Se o cão for pequeno é mais fácil. Fique de frente para o pequerrucho, olhe-o nos olhos e faça um movimento lento e corajoso na direção dele. Não faça movimentos bruscos, pois isso o assustaria. É importante que ele não se sinta ameaçado, mas perceba que você também não está intimidado. A tendência é a de que ele recue e não lhe aplique uma mordida. Talvez fique só latindo. Talvez até pare de latir. Porém, se o bicho for grande é melhor usar outra estratégia. Quando eu tinha dezesseis anos de idade, um pastor alemão, que morava na mesma rua, entrou na nossa casa. Minha cachorrinha foi defender o território e levou uma mordida feia, que atingiu uma artéria. Residíamos em uma rua sem saída. Eu era garotão e não possuía automóvel. A única maneira de levar a cachorrinha ao veterinário era passar em frente à casa do cão agressor. Quando passamos, o animal saiu para terminar o serviço. Naquele momento, por puro instinto, senti que não conseguiria correr mais do que o atacante, ainda por cima com a minha cadelinha se esvaindo em sangue. Embora se tratasse de um pastor alemão, a melhor estratégia seria enfrentá-lo. Assim que me virei de frente para o cão, ele estancou! Aproveitei a aparente vantagem e avancei. Ele retrocedeu. Depois de alguns minutos latindo para mim, ele concluiu que não me intimidava. Desistiu e entrou em sua casa. Naquele dia aprendi uma importante lição, que me serviu para o relacionamento com animais de todas as espécies, inclusive com os humanos: se você não se comportar como presa, os outros não se comportarão como predadores.
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