domingo, 11 de março de 2012 | Autor:

Prána, a energia vital

Prána é o nome genérico que se dá a qualquer forma de energia manifestada biologicamente. Logo, calor e eletricidade são formas de prána, desde que manifestadas por um ser vivo. Após os mantras e as palmas que os acompanham ocorre uma intensa irradiação de prána pelas palmas das mãos e podemos aplicá-las sobre um chakra que queiramos desenvolver, sobre uma articulação que desejemos melhorar ou sobre um órgão que precise de algum reforço de vitalidade ou regeneração.

Prána, no sentido genérico, é uma síntese de energia de origem solar e que encontra-se em toda parte: no ar, na água, nos alimentos, nos organismos vivos. Assim, nossas fontes de reabastecimento pránico são o Sol, o ar que respiramos, o ar livre tocando nosso corpo, a água que bebemos, os alimentos que ingerimos. Podemos aumentar ou reduzir a quantidade de prána dos alimentos. O cozimento, por exemplo, reduz o prána[1]. Já a pranificação trocando a água várias vezes de um copo para o outro pode enriquecê-la de energia vital.

O prána pode ser visto e fotografado. Para vê-lo a olho nu, basta dirigir o olhar para o céu azul num dia de sol. Divise o infinito azul do céu. Pouco a pouco, começará a perceber miríades de pontos luminosos, extremamente dinâmicos, que realizam trajetórias curvas e sinuosas, com grande velocidade e brilho. Não confunda isso com fenômenos óticos, os quais também ocorrem, mas não guardam semelhança alguma com a percepção do prána. Quanto a fotografá-lo, a kirliangrafia já vem sendo estudada há quase meio século e conta com um acervo bastante eloquente.

Prána (genérico) divide-se em cinco pránas específicos:

 

prána

– localizado no peito

apána

– localizado no ânus

samána

– localizado na região gástrica

udána

– localizado na garganta

vyána

– localizado no corpo todo

Os mais importantes são prána e apána, pelo fato de terem polaridades opostas. Prána é positivo e apána é negativo. Dessa forma, quando conseguimos fazer com que se encontrem, (por exemplo, levantando apána por meio do múla bandha) os dois polos opostos resultam numa faísca que é o início do despertamento da kundaliní[2].

Além dos pránas, há também o conhecimento dos sub-pránas que exercem funções muito particulares, tais como o piscar dos olhos, o bocejo e outros. Esses sub-pránas denominam-se krikára, kúrma etc.

Ilustração das bifurcações das nádís e a formação dos redemoinhos que são pequenos chakras secundários os quais regulam a energia que será distribuída para os órgãos, plexos e glândulas. Esses chakras secundários são chamados de “pontos” pela acupuntura, pelo shiatsu e pelo do-in.

Podemos influenciar a quantidade de prána que flui pelos respectivos canais, atuando sobre os chakras principais e sobre os secundários. Os principais, na verdade, controlam toda a malha de chakras secundários, regulando-os. No entanto, podemos proceder a uma sintonia fina, estimulando ou sedando os chakras secundários, que são mais ligados às funções dos órgãos físicos. Nisto, a acupuntura, o shiatsu, a mosha e o do-in são muito eficientes.



[1] Consulte o capítulo Alimentação Vegetariana: chega de abobrinha!.

[2] Sobre a importância de respeitar o gênero feminino do termo kundaliní, daremos mais elementos no sub-título A kundaliní é feminina, no final deste capítulo.

sábado, 10 de março de 2012 | Autor:

Chakras

O ocidental tem um interesse muito grande pelo tema chakras e kundaliní. No entanto, as informações erradas por falta de fontes sérias de estudo e as versões fantasiosas por questões de mero devaneio são as mais popularizadas. Então, esqueça tudo o que você leu a respeito. Vamos começar de novo.

O que são os chakras

Chakra[1] significa roda ou círculo. Chakras são centros de captação, armazenamento e distribuição do prána, a energia vital. Chamam-se de rodas ou círculos por serem vórtices de energia – e, como tal, circulares – localizados nas confluências e bifurcações das nádís ou meridianos. Os chakras são redemoinhos, como os que se formam nos rios. Talvez não por coincidência, nádí signifique rio, corrente ou torrente. Os chakras também podem ser chamados poeticamente de padmas, ou lótus. Geralmente, essa segunda denominação é utilizada também para evitar a excessiva repetição da palavra chakra.

Existem chakras principais e secundários

Os chakras principais são representados, esquematicamente, por desenhos de lótus vistos de cima, com um número variável de pétalas abertas. Essas pétalas são representações simbólicas do número de nádís primárias que partem de cada respectivo chakra para distribuir sua energia por outros chakras e por todo o corpo.

 

No entanto, se observarmos um compact disc com suas refrações luminosas, teremos uma imagem muito mais próxima da aparência que o chakra teria se pudesse ser registrado pela retina humana.

 

Os chakras básicos dão origem a todos os demais chakras, denominados secundários, através da rede de vascularização pránica, que são as nádís ou canais. De cada chakra principal, partem algumas correntes (nádís) para distribuir o prána pelos chakras secundários. Há um número indeterminado de chakras secundários no corpo humano. Só nas palmas das mãos temos cerca de 35 em cada. Assim, quando procedemos aos mantras, marcando o ritmo com palmas, estamos estimulando nada menos que 70 pequenos chakras através do atrito. O atrito gera energia térmica e eletricidade estática, manifestações de prána.



[1] Jamais pronuncie “shakra”, pois isso denuncia os leigos no assunto. A pronúncia correta é “tchakra”. Consulte o CD Sânscrito – Treinamento de Pronúncia, gravado na Índia.

 

quinta-feira, 8 de março de 2012 | Autor:


Extraído do livro “Yôga, Mitos e Verdades”, 1992.

Ele existe, sim! E, por incrível que pareça, é mesmo a maioria. Alguns dos exemplos anteriores é que são as exceções. Felizmente!

O discípulo ideal é simpático, gosta de colaborar, compreende nossas razões e tem satisfação em cumprir todas as determinações.

Leu todos os textos com uma disposição positiva, compreendeu e não comete erros, pois considera tudo tão simples, claro e óbvio, que ele não entende a confusão que alguns fazem.

Ao ler Um Tranco do Mestre procurou pensar bem se alguma daquelas advertências podia servir para ele. E, honestamente, concluiu que não. Mesmo assim, consultou seu Mestre, só para confirmar!

Paga tudo irrepreensivelmente, quantias corretas nas datas certas. Revalida pontualmente, prepara novos instrutores todos os anos, seus alunos são disciplinados e, pelo olhar deles, percebe-se que gostam da gente.

Comparece a todos os cursos, congressos, festivais, estágios, seminários, convocações. Divulga tudo e traz mais gente, promove cursos e eventos, convida o Mestre para ministrar cursos e nunca deixa a egrégora de fora quando realiza algo.

Não mistura o Método DeRose com nenhuma outra disciplina, arte, ciência ou filosofia. Não participa de cursos apócrifos. Não frequenta instituições concorrentes. Não confraterniza com nossos detratores nem com os dissidentes. É leal, disciplinado, amoroso e ético.

Consulta sempre seu Mestre. Dá sugestões, mas sem críticas nem cobranças. Quer servir e ajudar. Por outro lado, aceita críticas sem se ofender, e até mesmo as pede. Aliás, não se ofende nunca, uma vez que o amor em seu coração pelo Mestre é tanto que não sobra lugar para suscetibilidades.

Pela frente, trata o Mestre com carinho; por trás, defende-o com lealdade. Para este, está tudo certo e perfeito: os cursos, as normas, as revalidações, a supervisão, o Swásthya, o Método DeRose, até mesmo as guinadas do Mestre.

Reencontrá-lo é sempre uma festa, conversar com ele, uma descontração. É uma pessoa que queremos como nosso amigo pessoal.

Ao ler esta descrição ele se identifica, reconhece o seu valor e fica feliz por saber que nós o valorizamos pelo que ele é.

quarta-feira, 7 de março de 2012 | Autor:

Extraído do livro “Yôga, Mitos e Verdades”, 1992.

O discípulo leal ao Mestre é fiel, independentemente da mensagem. Não está com o Mestre por concordar com o que ele diz e sim concorda com o que o Mestre diz porque está com ele!

Se o Mestre evolui, esse segundo tipo de discípulo leal evolui junto. Se o Mestre muda, o discípulo muda junto. Confia no Mestre, acata sua ascendência, oferta-lhe um voto de confiança pelos anos de estrada ou simplesmente segue-o por amor, pela satisfação em estar junto.

Se o Mestre para de ensinar Yôga e passa a ensinar ping-pong, o discípulo leal ao Mestre vai junto, por amor, por confiança, por prazer de permanecer ao seu lado. “Se uma pessoa da estatura do meu Mestre mudou – deduz – é porque já descobriu algo que ainda não compreendi. Então, vou segui-lo, afinal é meu Mestre”.

 

terça-feira, 6 de março de 2012 | Autor:

Extraído do livro “Yôga, Mitos e Verdades”, 1992.

Há dois tipos de discípulo leal: um que é leal às coisas que o Mestre preconiza; outro que é leal ao Mestre. O primeiro defende as ideias do Preceptor, mas não defende o próprio gerador das ideias. Pelos ensinamentos do Mestre é capaz de brigar com os outros e até com o próprio Mestre!

Elegeu o Mentor apenas pela constatação de que aquilo que ele propunha se enquadrava nas suas conveniências. No dia em que o Mestre disser alguma coisa com a qual não concorde, ao invés de adaptar-se e incorporar essa nova ótica, o aprendiz rejeitará o Mestre. Ele usa o Mestre enquanto útil, depois cospe fora.

O discípulo leal apenas aos ensinamentos do Mestre acaba tornando-se seu inimigo. Artrosa-se naquilo que o Mestre ensinara e não consegue evoluir junto com ele. Com o passar dos anos, o Mestre cresce, aperfeiçoa-se e vê o Universo cada vez com mais amplitude e mais clareza. Aí tal discípulo questiona que o Supervisor não está sendo coerente com seus próprios ensinamentos, que está traindo o que sempre pregou, que está enlouquecendo… e vira-lhe as costas, não raro difamando-o e instigando os outros discípulos a que também lhe façam oposição.

segunda-feira, 5 de março de 2012 | Autor:

Olá mestre querido!

Quero aproveitar para divulgar um assunto muito importante: o I Seminário sobre merenda escolar vegetariana que acontecerá em São Paulo no dia 16 de Abril na Câmara municipal. É gratuito e é um grande passo dentro da nossa política pública brasileira… informações nesse link: http://svb.org.br/merendavegetariana/

Bjm,

quinta-feira, 1 de março de 2012 | Autor:

Na verdade, tem. Se alguém declarar que a palavra Yôga (Yoga) não tem acento, peça-lhe para mostrar como se escreve o ô-ki-matra (ô-ki-matra é um termo hindi utilizado atualmente na Índia para sinalizar a sílaba forte). Depois, peça-lhe para indicar onde o ô-ki-matra aparece na palavra Yôga (Yoga) [ele aparece logo depois da letra y]. Em seguida, pergunte-lhe o que significa o termo ô-ki-matra. Ele deverá responder que ô-ki-matra traduz-se como “acento do o”. Então, mais uma vez, provado está que a palavra Yôga (Yoga) tem acento.

O acento no sânscrito transliterado deve aparecer sempre que no original, em alfabeto dêvanágarí, houver uma letra longa. A letra longa, via de regra, é representada por um traço vertical a mais, logo após a sílaba que deve ser alongada. Para indicar isso em alfabeto latino, na convenção que adotamos usa-se acento agudo quando tratar-se dos fonemas a, i, u; ou circunflexo quando for o ou e.

O acento circunflexo na palavra Yôga (Yoga) é tão importante que mesmo em livros publicados em inglês e castelhano, línguas que não possuem o circunflexo, ele é usado para grafar este vocábulo.

Bibliografia para o idioma espanhol:

  • Léxico de Filosofía Hindú, de Kastberger, Editorial Kier, Buenos Aires.

Bibliografia para o idioma inglês:

  • Pátañjali Aphorisms of Yôga (Yoga), de Srí Purôhit Swámi, Faber and Faber, Londres.
  • Encyclopædia Britannica, no verbete Sanskrit language and literature, volume XIX, edição de 1954.

Bibliografia para o idioma português:

  • Poema do Senhor (Bhagavad Gítá), de Vyasa, Editora Assírio e Alvim, Lisboa.

A convenção que utilizo
para transliteração do sânscrito

Minha convenção para a transliteração do sânscrito é mais lógica e mais prática para o uso na nossa profissão. Portanto, não vou abrir mão de uma convenção melhor só porque existe uma outra, acadêmica, que não nos satisfaz.

Esta não é uma convenção acadêmica. É a convenção que eu adotei. Querer discutir ou comparar a minha convenção com a convenção acadêmica é o mesmo que querer somar elefantes com tangerinas.

A linguagem acadêmica de um advogado (o advoguês) ou de um economista (o economês) pode ser muito boa dentro do círculo acadêmico, mas para uso fora da profissão mostra-se inadequada, incompreensível e, em alguns casos, até caricata.

Da mesma forma, a transliteração acadêmica do sânscrito pode ser muito boa no ambiente acadêmico, mas não fora dele, por exemplo, quando determina usar o ç para escrever a o nome de Shiva (Çiva). Ora, o som do primeiro fonema é levemente chiado. O leitor que não tenha sido informado que para a transliteração acadêmica çi tem o som aproximado de shi, instintivamente pronunciará errado e dirá “ssiva” Na escrita que aprendi na Índia, o sh sugere a pronúncia correta mesmo para leigos em sânscrito. Além do mais, utilizar o ç para escrever o nome de Shiva agride não apenas uma, mas duas regras da nossa língua. Em português, não se usa ç antes de i; e não se aplica ç no início de palavras.

Outro exemplo contundente é quando a transliteração acadêmica impõe grafar Yôga (Yoga)  com i. No curso de sânscrito que tive o privilégio de fazer em 1976 com um ilustre professor da USP – Universidade de São Paulo, um dia perguntei por que eu deveria transliterar “ioga”, se a letra y é diferente da letra i, tem outro formato e outro som, e está claramente indicada na palavra Yôga (Yoga)? Pior: quando eu transliterasse “Layá Ioga”, por que eu deveria respeitar a exatidão ao transliterar o y de Layá, mas deveria não respeitar essa exatidão ao substituir o y de Yôga (Yoga)  por uma letra i?

Meu ex-professor, por quem eu guardo muito carinho e profundo respeito, me esclareceu com toda a paciência. Disse-me que eu estava com a razão, mas que ele, como professor universitário, precisava obedecer à norma acadêmica, caso contrário poderia até perder o emprego. E que norma seria essa? “Termos sânscritos que já tenham sido dicionarizados, um professor universitário precisa transliterar da forma como constarem nos dicionários de português.”

Desculpe, mas isso não está certo. Respeito que os professores acadêmicos precisem se dobrar a essa norma, mas eu não preciso e não o farei. Até porque a palavra Yôga (Yoga)  aparece grafada com y em vários dicionários de português, como o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa; o Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora; a Enciclopédia Verbo; et reliqua, aceitam a grafia de Yôga (Yoga)  com y e no gênero masculino.

Muito interessante é observar que mesmo naquela época recuada na qual esta escritura hindu foi elaborada (mais ou menos no século sexto antes de Cristo), o texto da Gítá declara solenemente:

  1. que o Yôga (Yoga)  Antigo fora recebido por revelação pelos, assim chamados, “videntes reais”;
  2. que, após muito tempo, o Yôga (Yoga)  “proclamado antigamente” havia sido perdido. Imagine que no século VI a.C. ele já era considerado antigo e, mais, já havia sido perdido!

A que Yôga (Yoga)  o texto ancestral se referia? Obviamente, o Yôga (Yoga)  Pré-Clássico, pré-vêdico, pré-ariano, dravídico, que fora perdido com a ocupação ariana. Sabe-se que sua fundamentação era matriarcal e não-mística. Com a arianização, tornou-se patriarcal e, depois, mística. Logo, a estrutura original e antiga havia sido perdida, já nos tempos da elaboração da Bhagavad Gítá.

Palavra é mantra:
pronuncie corretamente com ô fechado

Pronunciar Yôga (Yoga)  (com ô fechado) é tão pedante
quanto pronunciar problema, para quem habitualmente diz “pobrema”.

Pronunciar um mantra erradamente pode desencadear forças desconhecidas com efeitos imprevisíveis. Recordemos o caso daquele professor de “yóga” do Rio de Janeiro (Vayuánanda, aliás, Carlos Ovídio Trota) que ensinava o bíjá mantra errado para o chakra do coração usava pam no lugar de yam e morreu de ataque cardíaco. Uma coincidência, certamente!

Se o mantra que designa esta filosofia de poder, saúde, amor e união, pronuncia-se Yôga (Yoga) , com ô fechado, quem pronunciar erradamente “a yóga”, com ó aberto, não conseguirá entrar em sintonia com o seu clichê arquivado no inconsciente coletivo ou registro akáshiko. Por isso, tais pessoas que pronunciam “a yóga” não conseguem poder, saúde, amor nem união, mas fraqueza, enfermidade, intolerância e desunião.

Quando os Mestres ancestrais determinaram o som mântrico Yôga (Yoga) , com ô fechado, para designar a nossa filosofia, eles sabiam muito bem o que estavam fazendo e a ninguém mais cabe a arrogância de achar que pode adulterar impunemente o nome do Yôga (Yoga) .

Muito da força que os mantras possuem deve-se ao conhecimento dos Mestres que souberam elaborá-lo numa alquimia de vibrações. Mas outro tanto do seu poder é adquirido com o passar dos séculos, cujo tempo impregna-o cada vez mais profundamente no inconsciente coletivo da humanidade. E, ainda, um outro tanto é gerado pela multiplicação quantitativa de pessoas que usam e veneram tais mantras, imantando-os com o poder dos seus próprios inconscientes individuais, prána, mente e ānima. No caso da palavra Yôga (Yoga) , com ô fechado, temos todos esses três fatores:

a) foi criado pelos Mestres ancestrais;

b) tem milhares de anos de antiguidade;

c) vem sendo utilizado e venerado por milhões de pessoas em cada geração, há milênios.

Tudo isso, porém, só se aplica à pronúncia correta do mantra Yôga (Yoga)  com ô fechado. Depois destas explicações, você ainda acha justificável o argumento evasivo de que “estamos no Brasil e aqui se fala a yóga“? Além do mais, essa premissa é falsa: no nosso país pronuncia-se o Yôga (Yoga) , sim senhor, numa percentagem bem elevada, especialmente entre os que mais entendem do assunto. E por estarmos no Brasil, acaso pronunciamos “Vachínguitom” o nome da capital dos Estados Unidos?

Não se trata de uma simples filigrana sem valor. Trata-se de um detalhe da mais alta importância, que utilizamos para separar o joio do trigo. Uma pessoa que entenda do assunto pronunciará o Yôga (Yoga) , enquanto que um ensinante sem boa formação pronunciará “a yóga“.

Por isso, quando alguém diz que está fazendo “yóga“, é exatamente isso o que está fazendo. Noutras palavras, não está praticando aquela filosofia que na antiguidade recebeu o nome de Yôga (Yoga)  e assim tem sido chamada durante milênios, no mundo inteiro.

Quem diz que faz ou ensina “yóga“, está se referindo a uma outra modalidade totalmente distinta, que teve origem no século vinte, aqui mesmo no Brasil. A “yóga” tem outra finalidade. Não pode ser confundida com o Yôga (Yoga) .

Ainda há aqueles que argumentam:

Yôga (Yoga) , yóga, tanto faz; com acento, sem acento, não faz diferença.

Quer dizer que não há diferença entre sábia, sabia e sabiá? Pois as diferenças entre uma pessoa sábia e um sabiá são as mesmas que existem entre o Yôga (Yoga)  e a “yóga“. Não sabia?

Quando pronunciamos corretamente os fonemas abertos ou fechados, isso estabelece distinções de significado. Veja, por exemplo, a frase: “Meu molho (mólho) de chaves caiu dentro do molho (môlho) de tomate.” Imaginou inverter para um “môlho” de chaves e um “mólho” de tomates? As chaves teriam que ser deixadas dentro da panela com água, e os tomates estariam em um feixe. Considere agora este outro exemplo: “Aquela menina travessa quebrou a travessa de comida.” E mais este: “Segure a fôrma desta forma.” Em todas as frases, a pronúncia, fechada em um vocábulo e aberta em outro de grafia idêntica, determina significados totalmente diferentes.

A grafia com Y

Quanto à escrita, o y e o i no sânscrito têm valores fonéticos, semânticos, ortográficos e vibratórios totalmente diferentes. O i é uma letra que não se usa antes de vogais, enquanto que o y é fluido e rápido para se associar harmoniosamente com a vogal seguinte. Tal fenômeno fonético pode ser ilustrado com a palavra eu, em espanhol (yo, que se pronuncia mais ou menos “”; em Buenos Aires “”) e em italiano (io, que se pronuncia “ío”). Mesmo as palavras sânscritas terminadas em i, frequentemente têm-na substituída pelo y se a palavra seguinte iniciar por vogal, a fim de obter fluidez na linguagem. Esse é o caso do termo ádi que, acompanhado da palavra ashtánga, fica ády ashtánga.

Vamos encontrar a palavra “ioga” sem o y no Dicionário Aurélio, com a justificativa de que o y “não existe” no português! Só que no mesmo dicionário constam as palavras baby, play-boy, playground, office-boy, spray, show, water polo, watt, wind surf, W.C., sweepstake, cow-boy, black-tie, black-out, back-ground, slack, sexy, bye-bye, railway, milady e muitas outras, respeitando a grafia original com k, w e y, letras que “não existem”. Por que será? Por que usar dois pesos e duas medidas? (Aliás, eu gostaria de saber para que queremos o termo railway! Não utilizamos estrada de ferro?). Palavras tão corriqueiras quanto baby, playboy etc., deveriam então, com muito mais razão, ter sido aportuguesadas para beibi e pleibói. Por que não o foram e “a ioga”, sim? E o que é que você, leitor, acha disso? Não lhe parece covardia dos linguistas perante seus patrões anglo-saxônicos?

É, no mínimo, curioso que o Dicionário Michaelis da língua portuguesa, registre as palavras yin e yang com y, ao mesmo tempo em que declara que o y não podia ser usado na palavra Yôga (Yoga) , porque “não existia na nossa língua”![1]

Pior: no Dicionário Houaiss encontra-se registrado até yacht (iate), yachting (iatismo), yanomami [do tupi-guarani], yen [do japonês], yeti [do nepalês], yom kippur [do hebraico], yama, yantra, yoni [do sânscrito], todos com y, mas o Yôga (Yoga) , não. Isso é uma arbitrariedade.

O próprio Governo do Brasil nunca admitiu que as letras y, k e w não existissem, pois sempre as colocou nas placas dos automóveis! Em Brasília, desde 1960, existe a Avenida W3 (W de West!!!). E se é o povo que faz a língua, nosso povo jamais aceitou que quilo fosse escrito sem k, como no resto do mundo, assim como recusa-se a acatar que a palavra Yôga (Yoga)  não seja grafada com y, como no país de origem (Índia) e nos países de onde recebemos nossa herança cultural (França, Espanha, Itália, Alemanha e Inglaterra). Basta fazer uma consulta popular para constatar que a vox populi manda grafar Yôga (Yoga)  com y.

Se tivéssemos que nos submeter à truculência do aportuguesamento compulsivo, deveríamos grafar assim o texto abaixo, de acordo com as normas atuais da nossa ortografia, palavras estas citadas pelo Prof. Luiz Antonio Sacconi, autor de vários livros sobre a nossa língua:

Declarar que a palavra ioga deve ser escrita com i por ter sido aportuguesada, está virando eslogã. Mas basta um flexe com uma amostragem de opinião pública para nos dar ideia do absurdo perpetrado. Podemos utilizar o nourrau de um frilâncer e entrar num trole para realizar a enquete. Perguntemos a um ripe, um panque, um estudante, um desportista e um empresário, como é que se escreve a palavra Yôga (Yoga) . Todos dirão que é com y . Isso não é um suipsteique. É muito mais um checape. Se, passado o râxi, você pedir uma píteça igual à que está no autedor, e ela vier sem muçarela e com excesso de quetechupe, não entre em estresse. A vida na jângal de uma megalópole tem que passar mesmo por um runimol de tensões. Por isso é que aconselhamos a prática de algum róbi, tal como jujutso, ioga ou mesmo a leitura de um bom livro cujo copirráite seja de autor confiável e o leiaute da capa sugira uma obra séria. Em último caso, ouvir um longuiplei em equipamento estéreo com uótes suficientes de saída. Se você não possuir tal equipamento, sempre poderá ir a um xópingue comprá-lo ou tentar um lísingue. Caso nada disso dê certo, console-se com um milque xeque e com a leitura de um livro brasileiro sobre o aportuguesamento de palavras estrangeiras. Garanto que você vai rir bastante e será um excelente márquetingue a favor da minha tese que reivindica a manutenção do y na palavra Yôga (Yoga) . (Texto composto seguindo rigorosamente o vocabulário corrigido de acordo com as normas de aportuguesamento vigentes em 1996.)

Se um tal texto não parece adequado, também não o é grafar Yôga (Yoga)  com i, nem colocá-lo no feminino (“a ioga“). Recordemos ainda a norma da língua: “os vocábulos estrangeiros devem ser pronunciados de acordo com seu idioma de origem”. Por isso watt virou uóte e não váte; e rush virou râxi e não rúxi. Demonstrado está que deve-se pronunciar o Yôga (Yoga)  com ô fechado, como na sua origem.

O Yôga (Yoga)  é termo masculino

Quanto ao aportuguesamento da palavra, isto é, passando a grafá-la com i e convertendo-a para o gênero feminino, não podemos ignorar a regra para o uso de estrangeirismos incorporados à nossa língua a qual manda preservar, sempre que possível, a pronúncia e o gênero do idioma de origem. Por exemplo: le chateau, resulta em português o chatô e não a xateáu, e la mousse resulta em português a musse, e não o musse.

Ao mudar o gênero, altera-se o sentido de muitas palavras que passam a significar coisas completamente diferentes. Por exemplo: a moral significa código de princípios e o moral refere-se a um estado de espírito, auto-estima, fibra; meu micro designa um equipamento e minha micro é um tipo de empresa. O mesmo ocorre com a capital e o capital; a papa e o Papa; etc. Portanto, aceitemos que no Brasil o Yôga (Yoga)  tem um significado diferente de “a yoga” ou, pior, “a ioga”.

Além do mais, declarar que Yôga (Yoga)  precisa ser feminino só por terminar com a, é uma desculpa esfarrapada, pois estamos cheios de exemplos de palavras masculinas de origem portuguesa ou incorporadas à nossa língua, e todas terminadas em a[2]. Duvida? Então lá vai:

o idiota, o canalha, o crápula, o pateta, o trouxa, o hipócrita, o careta, o facínora, o nazista, o fascista, o chauvinista, o sofisma, o anátema, o estigma, o tapa, o estratagema, o drama, o grama, o cisma, o crisma, o prisma, o tema, o trema, o samba, o bamba, o dilema, o sistema, o fonema, o esquema, o panorama, o clima, o puma, o profeta, o cosmopolita, o plasma, o mioma, o miasma, o fibroma, o diadema, o sósia, o soma, o telegrama, o telefonema, o cinema, o aroma, o altruísta, o homeopata, o sintoma, o careca, o carioca, o arataca, o capixaba, o caipira, o caiçara, o caipora, o coroa, o cara, o janota, o agiota, o planeta, o jornalista, o poeta, o ciclista, o judôca, o karatêca, o acrobata, o motorista, o atalaia, o sentinela, o pirata, o fantasma, o teorema, o problema… et cætera.

Para reforçar nosso argumento, invocamos o fato de que todos os cursos de formação de instrutores de Yôga (Yoga)  em todas as Universidades Federais, Estaduais e Católicas, onde ele vem sendo realizado desde a década de 70, a grafia adotada foi com y, o gênero foi o masculino e a pronúncia foi a universal, com ô fechado. Por recomendação da Confederação Nacional de Federações de Yôga (Yoga)  do Brasil, a partir de 1990 todos esses cursos passaram a adotar o acento circunflexo.

Adotamos o circunflexo pelo fato de o acento já existir na grafia original em alfabeto dêvanágarí.

No inglês não há acentos. Como foram os ingleses que primeiramente propuseram uma transliteração para o sânscrito, a prática de não acentuar essa língua universalizou-se. Tal limitação do idioma britânico não deve servir de pretexto para que continuemos em erro. Mesmo porque, na própria Inglaterra esse erro está começando a ser corrigido.

Sempre que no sânscrito o fonema for longo, já que no português dispomos de acentos para indicar o fenômeno fonético, devemos sinalizar isso, acentuando. Um excelente exemplo é o precedente do termo Judô. Em língua alguma ele tem acento. Nem mesmo em português de Portugal![3] Não obstante, no Brasil, tem. Assim, quando alguém quiser usar como argumento a suposição de que a palavra Yôga (Yoga)  não levaria acento em outras línguas, basta invocar o precedente da palavra Judô. Com a vantagem de que o dêvanágarí, ao contrário do japonês, é alfabeto fonético, logo, o acento é claramente indicado.

Esse acento é tão importante que mesmo em livros publicados em inglês e castelhano, línguas que não possuem o circunflexo, ele é usado na palavra Yôga (Yoga)  (vide Aphorisms of Yôga (Yoga) , de Srí Purôhit Swami, Editora Faber & Faber, de Londres; Léxico de Filosofía Hindú, de F. Kastberger, Editorial Kier, de Buenos Aires; a utilização do acento é ratificada pela Encyclopædia Britannica, no verbete Sanskrit language and literature, volume XIX, pag. 954, edição de 1954.).

Uma gravação ensinando a pronúncia correta

A fim de pôr termo na eterna discussão sobre a pronúncia correta dos vocábulos sânscritos, numa das viagens à Índia entrevistamos os Swámis Vibhodánanda e Turyánanda Saraswatí, em Rishikêsh, e o professor de sânscrito Dr. Muralitha, em Nova Delhi.

A entrevista com o Swámi Turyánanda foi muito interessante, uma vez que ele é natural de Goa, região da Índia que fala português e, assim, a conversação transcorreu de forma bem compreensível. E também pitoresca, pois Turyánandaji, além do sotaque característico e de ser bem idoso, misturava português, inglês, hindi e sânscrito em cada frase que pronunciava. Mesmo assim, não ficou confuso. É uma delícia ouvir o velhinho ficar indignado com a pronúncia “yóga”. Ao perguntar-lhe se isso estava certo, respondeu zangado:

– Yóga, não. Yóga não está certo. Yôga (Yoga) . Yôga (Yoga)  é que está certo.

Quanto ao Dr. Muralitha, este teve a gentileza de ensinar sob a forma de exercício fonético com repetição, todos os termos sânscritos constantes do glossário do nosso livro Tratado de Yôga (Yoga) . Confirmamos, então, que não se diz múdra e sim mudrá; não se diz kundalíni e sim kundaliní; não se diz AUM e sim ÔM, não se diz yóga e sim Yôga (Yoga) ; e muitas outras correções.

Recomendamos veementemente que o leitor escute e estude essa gravação. Se tratar-se de instrutor de Yôga (Yoga) , é aconselhável tê-la sempre à mão para documentar sua opinião e encurtar as discussões quando os indefectíveis sabichões quiserem impor seus disparates habituais.

 



[1] Com o novo acordo ortográfico, o y foi reintegrado à nossa língua. Quer apostar como vão conseguir uma desculpa para que o Yôga (Yoga)  continue desfigurado, escrito com i ?

[2] Algumas destas palavras podem ser usadas nos dois gêneros, pormenor que não invalida a força do exemplo.

[3] A falta do acento na palavra Judô (Judo) faz com que em Portugal seja pronunciada Júdo. Talvez devido a um fenômeno linguístico semelhante, alguns brasileiros pronunciem yóga, pela falta do circunflexo. No entanto, repetimos que o acento circunflexo não é utilizado para fechar a pronúncia e sim para indicar crase de vogais diferentes (a + u = ô).