Tivemos a noite de autógrafos do meu livro Viagens à Índia dos yôgis, hoje dia 7 de agosto de 2009, na Sede Central de São Paulo. Não avisamos com mais antecedência aqui no blog, nem enviamos convites, porque costuma comparecer tanta gente que chega a quase parar o trânsito na frente da escola e muita gente não consegue sequer subir para o Salão Nobre. Por isso, para não deixarmos as pessoas entristecidas por terem comparecido e não haverem conseguido entrar na casa, preferimos só divulgar depois que o evento já terminou.
Tivemos, ontem à noite, o lançamento no Rio de Janeiro do livro Viagens à Índia dos yôgis, com grande participação de público. Nossos lançamentos, ao contrário dos da maioria dos autores, é um show, um espetáculo. Tivemos um simpático coquetel (obviamente, sem álcool), seguido de demonstração de várias coreografias de instrutores e de alunos. Depois, uma palestra sobre a Índia. No final, noite de autógrafos com alunos, parentes e amigos das diversas escolas do Rio.
Pelo que temos sentido, este livro vai fazer mais sucesso do que era previsto. Será o poder do apelo do nome Índia, ou será a força da novela da Globo?
Nossos agradecimentos aos instrutores que divulgaram e trouxeram seus alunos. Mas especialmente, nosso agradecimento à organizadora do evento, Profa. Vanessa de Holanda, que também posou para a capa, em frente a um templo da cidade de Khajuraho, na Índia.
Lembro-me do meu pai. Era um homem simples, mas, como toda a gente da aldeia, vivia feliz. Devia ter uns trinta anos de idade e já estava bem consumido pelo trabalho na lavoura, pelo sol inclemente e por alguns acidentes. Havia perdido um dedo cortando lenha. Por sorte, a ferramenta era de cobre e partiu-se antes de decepar os outros dedos. Mancava um pouco por ter sido mordido no pé por um bicho peçonhento que ele não chegou a ver. Só sentiu a dor da picada e ficou dias de cama com febre. Quando se recuperou, seu pé estava endurecido como uma pedra e havia perdido o tato. Contudo, os dentes fortes constituíam seu orgulho. Gostava de sorrir por qualquer razão, pois era pretexto para mostrar que não havia perdido nenhum dente, coisa rara naquela idade avançada. Os únicos que passavam muito dessa idade eram os sábios que viviam e se alimentavam de outra forma e jamais executavam trabalhos braçais sob o sol e a chuva, nem estavam sujeitos aos ataques dos animais selvagens. Certa vez, conheci um sábio ancião com suas longas barbas brancas, símbolo da sabedoria que lhe permitira atingir tão dilatada longevidade. Acho que tinha o dobro da idade do meu pai.
Nunca vi meu pai zangado com coisa alguma. A única vez em que ele começou a ficar mais sério por causa de uma disputa com um vizinho sobre a propriedade de umas frutas, minha mãe colocou a cabeça dele em seus seios, acariciou seus longos cabelos muito negros e disse-lhe:
– A árvore está plantada fora do nosso terreno e fora do dele. Você plantou a árvore quando nosso primeiro filho nasceu. Mas quando ele faleceu, você não cuidou mais dela. O vizinho cuidou da árvore a partir de então e acha que tem direito sobre ela. Nós temos sido muito amigos desde que nos conhecemos, e ele nos ajudou e nós o ajudamos muitas vezes. As frutas que caem da árvore não podem ser motivo de conflito. Percebi que ele aprecia nossas flores. Amanhã vou me oferecer para plantar umas mudas no terreno dele e vocês fazem as pazes.
Meu pai começou a sorrir e beijar o colo da minha mãe. Logo estavam se amando como duas crianças. É que no lugar onde passei minha infância, os adultos não escondiam dos filhos os seus atos de amor. Por outro lado, meninos e meninas brincavam livremente e faziam suas descobertas sob o olhar benevolente e carinhoso dos mais velhos. Nossa civilização era alicerçada na liberdade e achávamos que todas as experiências prazerosas deveriam ser saudáveis, e nós as cultivávamos. As dolorosas deveriam ser prejudiciais e nós as evitávamos. Nós e todos os animais à nossa volta tínhamos a mesma opinião.
Comíamos muitos cereais, raízes, frutas e hortaliças, ovos, leite, coalhada, queijo e manteiga. Algumas tribos do noroeste alimentavam-se também de peixes, mas na nossa região considerávamos primitivismo agarrar um animal, ave ou peixe, matá-lo brutalmente e devorá-lo como fazem os mais selvagens predadores.
Nós nos afeiçoávamos às cabras e búfalos, mas não conseguíamos sentir afeição pelos tigres que matavam e dilaceravam nossos animais e parentes. A maior parte das famílias já havia perdido pelo menos um ente querido morto por algum animal carnívoro. Não podíamos descer ao mesmo nível animalesco dessas feras.
Como observávamos muito a natureza à nossa volta, percebíamos que os animais vegetarianos eram amistosos e podiam ser amansados a ponto de trabalhar conosco; e os deixávamos dormir ao nosso lado sem perigo de sermos atacados por eles no meio da noite. Nenhum animal carnívoro pôde ser domesticado para trabalhar para nós, para ser montado ou para puxar uma carroça. Somente o cão se afeiçoou ao homem e, mesmo assim, não nos dava leite nem puxava nossos arados e só servia para a guarda, muitas vezes representando perigo para nossos vizinhos.
Notamos também diferenças entre as tribos, que podiam ser atribuídas aos hábitos alimentares. O corpo dos que não abatiam animais para se alimentar de suas carnes mortas era mais saudável, a pele bonita e macia, o semblante apaziguado e amistoso. Os do noroeste, além de serem fisicamente mais rudes, quando algo os desagradava aceitavam tranqüilamente sangrar o desafeto, pois estavam habituados a derramar sangue dos animais.
Nossas comidas também eram mais saborosas e aromáticas. Certa vez provamos da comida feita por um clã nômade que nos visitara. Às carnes, é claro, tivemos repulsa e não admitimos colocá-las na boca, até por uma questão de higiene. Mas alguns vegetais que as acompanhavam, aceitamos. Não tinham gosto de nada. Era como se eles achassem que comida era a carne, e que esta não precisava de temperos. O resto não merecia nenhum cuidado especial. Quando lhes oferecemos nossos vegetais preparados em fornos, com leite e manteiga, condimentados com ervas e sementes aromáticas, largaram de lado a deles e preferiram a nossa comida. Também nos pareceu que não conheciam a arte de fazer pão, pois, sendo nômades, não plantavam os cereais e, assim, davam preferência à caça e à pesca.
Tínhamos vários tipos de pão, cada qual com uma seleção de grãos e ervas, e com um formato diferente. Porém, era sempre pesado e duro. Quando perguntei à minha mãe se não podia ser mais macio, ela riu, fez uma careta e não me respondeu. Fiz-lhe outra careta e continuei mastigando meu pedaço de pão. Mais tarde, descobri que podia deixá-lo um pouco no leite e conseguia a maciez desejada.
Uma iguaria que preparávamos era uma combinação de grãos, deixados de molho em água e ervas aromáticas durante a noite. No verão, comíamos esse prato cru, acompanhado de coalhada. No inverno, o cozinhávamos e nos servíamos dele ainda fumegando.
Nossa família tinha um carinho especial por um arbusto que dava umas sementes redondas, escuras e brilhantes, que eram moídas e guardadas para serem adicionadas a algumas receitas. Além de perfumar o alimento e enriquecer o sabor, dizia-se que tinha a propriedade de aumentar a energia para o trabalho e evitar doenças.
Olá a todos
Para reflectir um pouco mais…muito comovente…
http://www.youtube.com/watch?v=4PdqD3AbQmg
Muitos beijinhos
Lila
Chêla – Unidade Carvallhido – Porto – Portugal
Recebi um CD gravado por um colega muito querido para aprovação do material gráfico. Com indescritível tristeza, observei que o sânscrito estava grafado em uma transliteração que não é a que adotamos. Fiquei chocado!
Se nossa sistematização adotou uma determinada convenção e TODOS os nossos livros seguem essa coerência, por que algum dos nossos discordaria e aplicaria outra convenção? Se você pesquisar na internet vai descobrir que existem diversas convenções diferentes e divergentes. Mas há muitas outras que não encontrei nem mesmo na internet. Por exemplo, as transliterações para o chinês, para o grego, para o russo, para o japonês e mais uns oitenta alfabetos. Mesmo a que se usa corriqueiramente na Índia, não encontrei entre aquelas que lograram conquistar a simpatia dos acadêmicos.
A pergunta que não quer calar é: você que usa outra convenção diferente da que nós adotamos, não percebe que isso é anti-didático? Não percebe que confunde os alunos e até os próprios instrutores?
Não percebe que, além de semear confusão, transmite falta de sintonia com o sistematizador do Método?
Não percebe que gera para você uma imagem de que está discordando da linha de conduta adotada por nós?
A percepção comprometedora é a de que você está mais de acordo com outra orientação, com outro grupo ou com outro Mestre que não os seus.
E eu fico particularmente entristecido, pois se eu ensino uma convenção e você a rejeita para adotar a que outro Mestre ensina, nesse caso você está rejeitando a mim e o meu ensinamento.