segunda-feira, 22 de junho de 2009 | Autor:

Uma iniciativa que me deu muita satisfação foi marcar almoços em várias cidades com professores de diferentes linhas de Yoga. Em muitos casos, nem nos conhecíamos pessoalmente. Noutros, conhecíamo-nos, mas nunca havíamos tido oportunidade de sentar e conversar. Foi uma experiência muito gratificante para ambas as partes. Todos os que aceitaram meu convite foram muito cordiais e pudemos desfazer alguma imagem equivocada que ambos pudéssemos ter alimentado, um em relação ao outro. Em todos os almoços trocamos presentes, palavras sinceras de carinho e admiração recíproca, e longos abraços emocionados. Atos de conciliação fazem muito bem a todas as pessoas de boa-fé. As de má-fé recusam.

Num dos casos, tive a honra de almoçar em Curitiba com o Prof. Ulyssea e sua muito querida esposa. Depois da refeição, ficamos conversando longamente de mãos dadas, como velhos amigos que de fato somos. Num arroubo de humildade, aquele gigante de sabedoria e de espiritualidade beijou a minha mão como a me abençoar. Retribui da mesma forma, só que a pedir sua bênção, e muito comovido com o gesto daquele grande homem que tinha idade para ser meu pai.

Ontem fui informado de que o Prof. Ulyssea acaba de falecer. Nosso almoço teve um valor ainda maior, porque foi um reencontro, depois de trinta anos afastados, e uma despedida condigna. Interessante que o meu amigo Ulyssea me perguntou por que eu havia marcado o almoço com ele e se por acaso eu estava doente. Correu a notícia em Curitiba de que eu estava almoçando com os professores de outras linhas porque eu me encontrava mal e estaria querendo me despedir antes de partir. Na verdade, como, apesar da minha idade, eu ainda sou menos idoso do que alguns que já comemoram mais de oitenta primaveras, minha intenção, além da simples cortesia, era revê-los e abraçá-los enquanto ainda estamos todos por aqui.

Que o irmão Ulyssea seja conduzido aos mais elevados planos da espiritualidade que ele bem merece pela obra imortal que realizou no estado do Paraná, pela Universidade por cuja edificação e reconhecimento lutou durante toda a sua vida. Que nos planos celestiais, o Grande Arquiteto do Universo lhe conceda a reitoria da mais excelsa Universidade do Espírito.

segunda-feira, 22 de junho de 2009 | Autor:

Lembro-me do meu pai. Era um homem simples, mas, como toda a gente da aldeia, vivia feliz. Devia ter uns trinta anos de idade e já estava bem consumido pelo trabalho na lavoura, pelo sol inclemente e por alguns acidentes. Havia perdido um dedo cortando lenha. Por sorte, a ferramenta era de cobre e partiu-se antes de decepar os outros dedos. Mancava um pouco por ter sido mordido no pé por um bicho peçonhento que ele não chegou a ver. Só sentiu a dor da picada e ficou dias de cama com febre. Quando se recuperou, seu pé estava endurecido como uma pedra e havia perdido o tato. Contudo, os dentes fortes constituíam seu orgulho. Gostava de sorrir por qualquer razão, pois era pretexto para mostrar que não havia perdido nenhum dente, coisa rara naquela idade avançada. Os únicos que passavam muito dessa idade eram os sábios que viviam e se alimentavam de outra forma e jamais executavam trabalhos braçais sob o sol e a chuva, nem estavam sujeitos aos ataques dos animais selvagens. Certa vez, conheci um sábio ancião com suas longas barbas brancas, símbolo da sabedoria que lhe permitira atingir tão dilatada longevidade. Acho que tinha o dobro da idade do meu pai.

Nunca vi meu pai zangado com coisa alguma. A única vez em que ele começou a ficar mais sério por causa de uma disputa com um vizinho sobre a propriedade de umas frutas, minha mãe colocou a cabeça dele em seus seios, acariciou seus longos cabelos muito negros e disse-lhe:

– A árvore está plantada fora do nosso terreno e fora do dele. Você plantou a árvore quando nosso primeiro filho nasceu. Mas quando ele faleceu, você não cuidou mais dela. O vizinho cuidou da árvore a partir de então e acha que tem direito sobre ela. Nós temos sido muito amigos desde que nos conhecemos, e ele nos ajudou e nós o ajudamos muitas vezes. As frutas que caem da árvore não podem ser motivo de conflito. Percebi que ele aprecia nossas flores. Amanhã vou me oferecer para plantar umas mudas no terreno dele e vocês fazem as pazes.

Meu pai começou a sorrir e beijar o colo da minha mãe. Logo estavam se amando como duas crianças. É que no lugar onde passei minha infância, os adultos não escondiam dos filhos os seus atos de amor. Por outro lado, meninos e meninas brincavam livremente e faziam suas descobertas sob o olhar benevolente e carinhoso dos mais velhos. Nossa civilização era alicerçada na liberdade e achávamos que todas as experiências prazerosas deveriam ser saudáveis, e nós as cultivávamos. As dolorosas deveriam ser prejudiciais e nós as evitávamos. Nós e todos os animais à nossa volta tínhamos a mesma opinião.

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sábado, 20 de junho de 2009 | Autor:

Em 1974, antes de fundar a Uni-Yôga, eu andava muito entristecido com minha equipe de trabalho. Tenho uma política de não descartar pessoas. Gosto de equipes antigas, amigos antigos, roupas velhas e sapatos que já façam parte da história da minha vida. Não gosto de mudar de casa, nem de mudar os móveis de lugar. Nesse aspecto sou conservador. Acontece que, às vezes, quando os comandados percebem isso, abusam. É como se pensassem: “faça eu o que fizer, ele não vai me afastar, então, farei o que bem entender e não o que ele determinar.” O fato é que naquela época eu tinha uma equipe de sete jovens instrutores e quando viajava para dar cursos, ao retornar a casa estava de pernas para o ar. Alunos me telefonavam para reclamar que vieram praticar e a Unidade Copacabana estava fechada. Outros queixavam-se que o instrutor sistematicamente atrasava-se e, quando aparecia, estava em trajes de praia e cheio de areia, o que demonstrava sua irresponsabilidade. Com isso, perdíamos alunos aos borbotões e a minha equipe cultivava uma péssima imagem para o meu nome.

Uma certa quantidade de livros era deixada para que fossem fornecidos a quem os procurasse. Quando eu voltava de viagem e perguntava por eles, ninguém sabia. E o dinheiro da venda? Sumira! Ninguém assumia a responsabilidade. E sob tal panorama desolador, ainda ocorria um clima de insatisfação e insubordinação!

Pelos padrões atuais, você já deve estar se perguntando como é que alguém podia admitir um comportamento daqueles. Pois leve em consideração que eu era quase quarenta anos mais jovem, menos experiente e ainda passávamos pela fase lisérgica em que a humanidade estava protestando paz e amor, a anarquia era modismo no mundo ocidental e a autoridade execrada. Ainda mais no Brasil, pois vivíamos a nefanda ditadura militar. Eu achava que não tinha o direito de mandar em ninguém, nem o de afastar um instrutor e muito menos selecionar os candidatos à prática do Yôga.

Um dia em que eu estava muito acabrunhado com o comportamento de instrutores e alunos, precisei ir ao banco fazer um depósito (na época era o Diretor quem o fazia). Ao entrar, tive um insight. Vi todos os funcionários trabalhando felizes e competentes. Sorriam e gracejavam uns com os outros, eram cordiais com os clientes, pontuais na chegada, jamais sumia dinheiro, raramente faltavam e, se precisavam faltar, eram descontados nos honorários. Se cometiam algum erro, eram humilhantemente repreendidos e, se reincidissem, eram demitidos com a justificativa desabonadora na carteira de trabalho. E estavam todos lá, lutando pelo empreguinho, ganhando um salário de fome, com patrão intolerante, relógio de ponto, responsabilidade exasperante e liberdade zero.

Por outro lado, na minha instituição ninguém era empregado, todos eram membros da diretoria, todos eram tratados com carinho e com respeito, tinham liberdade máxima, flexibilidade de horários, ganhavam bem e retribuíam agindo mal… e ainda estavam descontentes!

Fiquei tão triste que não prossegui no objetivo da minha visita ao banco. Sentei-me numa poltrona e fiquei observando o trabalho dos funcionários. Pouco a pouco fui me concentrando tanto no objeto da minha observação que entrei em meditação. No processo da meditação podem ocorrer percepções de diferentes manifestações. Naquele dia, tive a percepção de um Jardineiro cuidando do seu jardim e arrancando as ervas daninhas, deixando que ficassem somente as flores que plantara.

Ao presenciar aquilo, questionei a cena. Com que direito ele estava decidindo qual podia e qual não podia viver? Algumas daquelas ervas daninhas podiam ser muito úteis na cura de enfermidades! Nisso o Jardineiro, sem se virar para mim, continuou o seu trabalho e disse:

– Eu não estou impedindo que vivam. Só não permito que vivam no meu jardim. Aqui elas impedem as flores de se desenvolver.

Quando escutei aquilo, compreendi imediatamente onde estava o meu erro. Levantei-me, deixei o depósito para lá, voltei para a sede de Copacabana e reuni a equipe para colocar as novas diretrizes. Na minha frente, todos concordaram. No entanto, quando fui para a sala da diretoria, escutei lá fora uns sussurros em clima de insurreição:

– O que é que nós vamos fazer?

– Nada. Vamos continuar como sempre fizemos.

– É. O De é legal.

– Verdade, ele não vai cumprir a ameaça de nos afastar.

– Claro. E além do mais ele precisa da gente.

Foi a gota d’água. Sai da minha sala e lhes disse:

– Para mostrar que estou falando sério e que não preciso de ninguém, vocês estão todos dispensados.

– Mas De, quem é que vai dar aula para os nossos alunos? E quem vai cuidar do Instituto quando você estiver viajando para dar cursos?

– Não preciso de vocês, nem quero na minha casa os alunos que vocês deseducaram. Aluno de instrutor indisciplinado é indisciplinado e meio. Chega de insubordinação.

E assim coloquei ordem no galinheiro, eliminando todos os focos de indisciplina. Dispensei todos os instrutores e alunos, fechei a sede, fiz uma reforma para ajudar na mudança de egrégora e reabri sem comunicar aos antigos.

Ao longo da minha vida tive que repetir algumas vezes atitudes dramáticas como essa e sofri bastante com isso, pois tive que violentar minha natureza conciliatória e mostrar pulso firme. Mas os resultados compensaram.

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sábado, 20 de junho de 2009 | Autor:

Você já parou para pensar que suas ações são meros reflexos de um condicionamento social que a escraviza a um comportamento estereotipado, comportamento de rebanho que caminha para o matadouro, infeliz, mas resignado?

meditou no fato de que você não usa o seu livre arbítrio nem um pouco e que você pensa, fala, sente e age de acordo com aquilo que os outros esperam de você?

Onde está o ser inteligente que se distingue do resto dos animais pelo seu poder de volição e de decisão? Ele está manifestado em você? Vamos, sinceridade. Você faz o que quer – ou, ao menos, atreve-se a pensar o que quer? Ou pensa aquilo que a família, a sociedade, os amigos, as instituições querem que você pense?

Não, não pare de ler. Ou só vai ler as coisas amorosas que eu escrever? Enfrente pelo menos um pedaço de papel que lhe diz na cara que você não se assume. Que você tem sido tão influenciável pela opinião dos outros, que está se tornando uma pessoa sem vontade, sem personalidade.

Não estou zangado, não. Estou é tentando sacudir você tão bem que talvez consiga despertar. Afinal, você é inteligente e sabe a enorme variedade de doenças físicas e psíquicas que advêm da frustração, da auto-mentira, da infelicidade crônica do dia-a-dia sem sentido, do stress causado pela rotina medíocre e mesquinha.

Você já achou o sentido da sua vida?

A vida é dinamismo, é movimento e não estagnação. Estagne-se pelo medo de agir e se deteriorará como as tantas esposas e mães que vivem frustradas e arrependidas por não se terem deixado arrebatar por uma grande causa… e hoje trazem no semblante os vincos indeléveis da infelicidade incurável, essa mesma infelicidade que não hesitam em oferecer como herança malsã às suas filhas para que vivam as as mesmas pressões, mesmas depressões, as mesmas conversas, as mesmas fofocas, a mesma impotência para um orgasmo pleno ou para uma opinião própria, as mesmas lamentações, as mesmas lágrimas…

Você tem um compromisso cósmico agora! Mas tem, também, a liberdade de não aceitá-lo. O karma lhe deu a liberdade de opção que constitui a chave mestra de um fardo chamado responsabilidade. Só que, ingrata, você recusa essa dádiva e se obstina em não querer assumir a responsabilidade da decisão.

Você se acomoda indolentemente na almofada fofa da inércia. Simplesmente por medo de enfrentar uma mudança.

Já parou para pensar na idade que tem? Não acha que já está na hora de ter um pouco mais de maturidade?

Vamos! Utilize uma pontinha de sinceridade e responda: essa é a vida que você queria? Ela a realiza? Você já pensou como é que vai ser o seu futuro se tudo continuar nessa covardia e nessa acomodação?

Vamos, Criatura! Aventure-se, corra o risco que a vida é isso. A vida vale a pena quando se tem uma boa causa pela qual se possa sorrir ou chorar, pela qual se possa viver ou morrer.

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sexta-feira, 19 de junho de 2009 | Autor:

“Gracinha” cometida por um jovem ao apresentar sua noiva.

Esposa (ou marido), às vezes, tem prazo de validade. Ex-mulher é para o resto da vida. Este é o espírito da nossa política de boa vizinhança com projeção no futuro. Vamos explicar.

Quando você tiver uma relação afetiva, a cada palavra, a cada flor, carinho ou carta de amor, você deve estar o tempo todo aplicando o “Alcance da Visão” lá na frente: você precisa investir no seu relacionamento como o fazem as empresas mais sérias e responsáveis ao cuidar do cadastro de clientes, isto é, precisa administrar o respeito, a parceria e todas aquelas atitudes que vão garantir uma amizade eterna entre os dois ex.

Pois é. Como diretor e como instrutor é a mesma coisa. A maior parte dos alunos acabará se transformando em ex-alunos, mesmo que seja daqui a cinco, dez ou vinte anos. A maioria dos instrutores que você preparar eventualmente desistirá da carreira ou optará pelo solipsismo, pois aí não precisará cumprir normas, não precisará estudar para os exames da Federação de Yôga do seu estado e poderá dar aulas de qualquer modalidade legítima ou não de Yôga.

Então, como no exemplo anterior, do relacionamento afetivo, desde agora vamos investir cada vez mais nos futuros ex (ex-namorados, ex-cônjuges, ex-alunos, ex-instrutores e nos futuros ex-membros da nossa egrégora, enquanto eles ainda estão dentro), para que continuem sempre nossos amigos, admirando e respeitando o SwáSthya, a Uni-Yôga, o instrutor dele e o codificador da Nossa Cultura mesmo depois que saírem.

Complemente este post, lendo o “Dissidente não é inimigo“.

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terça-feira, 16 de junho de 2009 | Autor:

Rodrigo Vivas

Falando de amigos, hoje comemoramos o aniversário do nosso estimado amigo o professor Gustavo Marson de Joinville/SC.
Parabéns! Muitas felicidades.
Grande abraços
Rodrigo Vivas – Bal. Camboriú/SC

terça-feira, 16 de junho de 2009 | Autor:

“Não precisa ser homem ou mulher. Basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo, saber ouvir. Tem que gostar de poesia, da madrugada, de pássaros, de Sol, da Lua, do canto dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar. Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja de todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de ser amigo. Deve sentir pena das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários.

“Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações da infância. Precisa-se de um amigo para não enlouquecer, para contar o que viu de belo e de triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.

“Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vide é bela, mas porque já se tem um amigo.

“Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que bata nos ombros sorrindo e chorando, mas que nos chame de amigo para ter-se consciência de que ainda se vive.”

Recebi este texto em 24 de julho de 1979 assinado “de Mara e Nirka, suas eternas alunas e amigas.”  Passados trinta anos, tenho a oportunidade de publicar aqui o mesmo texto e ofertá-lo a todos os meus alunos e amigos, inclusive os do passado e os do futuro. Principalmente, os eternos!

Fernanda Neis

Tinha que ser do Vinicius…

Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles. A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade. E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências … A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida.

Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar. Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos. Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure. E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí, e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.

Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo! Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles. E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.

Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer… Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente, os que só desconfiam – ou talvez nunca vão saber – que são meus amigos!

Vinicius de Moraes

Obrigado Fée, por me compreender e recorrer ao Vinicius para me ajudar a expressar o que eu sinto pelos meus amigos.  
Nakinagara aruku. DeRose.

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