Várias vezes na minha vida escapei por um triz de virar churrasquinho de Mestre. Na década de 1960 abri minha primeira escola no trigésimo terceiro andar do Edifício Avenida Central, novíssimo, moderníssimo e à prova de fogo, no Rio de Janeiro. Um dia, eu estava dando aula e escutei umas explosões, barulho de vidros quebrando e gritaria lá embaixo. Olhei pela janela e o prédio estava em chamas alguns andares abaixo. Tivemos que descer 33 andares pelas escadas em meio a fumaça e fogo. Bem, não torrei, pois estou aqui escrevendo.
Um dia, em Londres, tocou o alarme de incêndio. Corre todo o mundo para a rua. Tinha gente até enrolada em toalha de banho e fazia um frio britânico dos diabos naquele inverno. Anos depois a experiência se repetiu noutro hotel. A partir de então, passei a prestar mais atenção aos cuidados de primeiro mundo contra incêndios. Descobri que os ingleses são muito preocupados com esses sinistros, talvez devido às trágicas experiências vividas sob as bombas V-1 que incendiaram Londres quase que diariamente durante a Segunda Grande Guerra (denominá-la “Guerra Mundial” é tão politicamente incorreto quanto o filme 2012 ao ignorar solenemente o direito de voz e de voto dos países da América Latina: mundial ela não foi!).
No entanto, parecem não ter superado os paradigmas do passado. Notei, por exemplo, que nas estações de metrô havia sempre um dispositivo anti-incêndio. Eram baldes de areia, pintados de vermelho! Baldes de areia, no final do século vinte, no Primeiro Mundo? Será que eles não ouviram falar em extintores de água pressurizada, de pó químico, de CO2, sprinklers e tantos outros recursos que utilizamos serenamente no nosso Brasil “Terceiro Mundo”?
Certo dia, observei que os degraus das escadas rolantes da estação King’s Cross eram de… madeira! Comentei na época que isso era um desnecessário risco primário. Madeira pega fogo. Mais de meio século antes, quando este autor tinha cinco anos de idade, na Terra de Santa Cruz já utilizávamos escadas rolantes em aço inoxidável. Anos depois de eu ter feito essas observações, as escadas rolantes de madeira arderam na estação King’s Cross do underground londrino, causando um enorme incêndio que matou um monte de gente.
Nestes últimos cinquenta anos ocorreram vários “quases”. Mas no mês de dezembro de 2009 foi meu recorde. Estávamos no cinema do shopping Cidade Jardim, em São Paulo, quando o filme foi interrompido, as luzes se acenderam e simultaneamente dispararam os alarmes de incêndio. Tudo bem, o filme era bem ruinzinho. No dia 25 de dezembro estávamos no Cinemark de Buenos Aires e, novamente, as luzes se acenderam no meio da sessão. O lanterninha avisou que a sala precisava ser evacuada. Saímos em meio à fumaceira e focos de labaredas. Fomo-nos embora, cruzando com um desfile de carros de bombeiros poluindo sonoramente os nossos ouvidos com 120 decibéis de sirenes. Coitados dos soldados do fogo, que precisam aguentar essa barulheira com frequência!
Pergunto-me: seria possível praticamente acabar com os incêndios se apenas mudássemos nossos paradigmas?
Aguarde o próximo post, quando algumas soluções serão propostas.