sábado, 28 de novembro de 2009 | Autor:

Várias vezes na minha vida escapei por um triz de virar churrasquinho de Mestre. Na década de 1960 abri minha primeira escola no trigésimo terceiro andar do Edifício Avenida Central, novíssimo, moderníssimo e à prova de fogo, no Rio de Janeiro. Um dia, eu estava dando aula e escutei umas explosões, barulho de vidros quebrando e gritaria lá embaixo. Olhei pela janela e o prédio estava em chamas alguns andares abaixo. Tivemos que descer 33 andares pelas escadas em meio a fumaça e fogo. Bem, não torrei, pois estou aqui escrevendo.

Um dia, em Londres, tocou o alarme de incêndio. Corre todo o mundo para a rua. Tinha gente até enrolada em toalha de banho e fazia um frio britânico dos diabos naquele inverno. Anos depois a experiência se repetiu noutro hotel. A partir de então, passei a prestar mais atenção aos cuidados de primeiro mundo contra incêndios. Descobri que os ingleses são muito preocupados com esses sinistros, talvez devido às trágicas experiências vividas sob as bombas V-1 que incendiaram Londres quase que diariamente durante a Segunda Grande Guerra (denominá-la “Guerra Mundial” é tão politicamente incorreto quanto o filme 2012 ao ignorar solenemente o direito de voz e de voto dos países da América Latina: mundial ela não foi!).

No entanto, parecem não ter superado os paradigmas do passado. Notei, por exemplo, que nas estações de metrô havia sempre um dispositivo anti-incêndio. Eram baldes de areia, pintados de vermelho! Baldes de areia, no final do século vinte, no Primeiro Mundo? Será que eles não ouviram falar em extintores de água pressurizada, de pó químico, de CO2, sprinklers e tantos outros recursos que utilizamos serenamente no nosso Brasil “Terceiro Mundo”?

Certo dia, observei que os degraus das escadas rolantes da estação King’s Cross eram de… madeira! Comentei na época que isso era um desnecessário risco primário. Madeira pega fogo. Mais de meio século antes, quando este autor tinha cinco anos de idade, na Terra de Santa Cruz já utilizávamos escadas rolantes em aço inoxidável. Anos depois de eu ter feito essas observações, as escadas rolantes de madeira arderam na estação King’s Cross do underground londrino, causando um enorme incêndio que matou um monte de gente.

Nestes últimos cinquenta anos ocorreram vários “quases”. Mas no mês de dezembro de 2009 foi meu recorde. Estávamos no cinema do shopping Cidade Jardim, em São Paulo, quando o filme foi interrompido, as luzes se acenderam e simultaneamente dispararam os alarmes de incêndio. Tudo bem, o filme era bem ruinzinho. No dia 25 de dezembro estávamos no Cinemark de Buenos Aires e, novamente, as luzes se acenderam no meio da sessão. O lanterninha avisou que a sala precisava ser evacuada. Saímos em meio à fumaceira e focos de labaredas. Fomo-nos embora, cruzando com um desfile de carros de bombeiros poluindo sonoramente os nossos ouvidos com 120 decibéis de sirenes. Coitados dos soldados do fogo, que precisam aguentar essa barulheira com frequência!

Pergunto-me: seria possível praticamente acabar com os incêndios se apenas mudássemos nossos paradigmas?

 Aguarde o próximo post, quando algumas soluções serão propostas.

sábado, 28 de novembro de 2009 | Autor:

É muito fácil livrarmo-nos desses terríveis sinistros. Imagine o desespero e o sofrimento de uma pessoa morrendo queimada. Em grandes incêndios de edifícios, hotéis, casas de espetáculos, multiplique esse sofrimento por centenas. E parece que as pessoas consideram isso simplesmente um acidente inevitável, sobre o qual não temos nem devemos ter nenhum controle, pois pouco fazem para evitá-lo. Por que digo isto? Porque é muito simples reduzir os riscos de incêncio a quase zero.

Em primeiro lugar, precisamos reconhecer que um grande número de sinistros em empresas e residências foram e são causados por uma espécie de animal irracional chamado fumante. Já sabe que dá câncer e mais uma constelação de enfermidades graves denunciadas por lei na embalagem de cada maço de cigarros. Mas, incompreensivelmente, o hominídeo continua comprando e usando o produto mortal. Mais mortal ainda quando põe fogo na casa.

Em segundo lugar, precisamos deixar de seguir cumprindo o paradigma estúpido de utilizar produtos inflamáveis nos materiais de construção e de decoração. Tinta é inflamável. Piso de madeira e carpete são inflamáveis. Cortinas de tecido ou persianas de madeira são inflamáveis. Por que então as pessoas continuam utilizando esses materiais? Essa é mais uma demonstração da falta de visão de futuro da espécie que se autodenominou “sapiens”. Agora – diz ele –  eu quero usar estes produtos porque são mais baratos, ou porque são mais bonitos, ou porque sempre se fez assim. Depois é futuro. Pode ser que nem pegue fogo…  “Não podemos ser paranóicos.” Essa foi a frase de um amigo meu que foi assaltado um sem-número de vezes por facilitar, sofreu vários acidentes de carro por falta de previsão e finalmente morreu em um incêndio.

Na construção da minha casa, na Alameda Jaú 2000, os pisos dos cinco andares são de ardósia, pedra, que não pega fogo. Ao invés de cortinas de tecido utilizei persianas de alumínio (exceto onde precisei de uma cortina black-out). Nas paredes não há tinta e sim porcelanato refratário ao calor que tende a retardar a propagação de algum incêndio ocorrido no prédio vizinho.

Além disso, em cada andar encontram-se vários extintores de incêndio a CO2 que pode ser usado inclusive em eletricidade. Embora a probabilidade de incêndio numa casa construída dessa forma seja quase nula, projetei em cada andar uma porta de escape que dá diretamente para a rua. Entre as medidas de segurança, estamos a cinco minutos de um corpo de bombeiros.

No entanto, só poderemos considerar que demos um passo efetivo na prevenção de incêndios quando utilizarmos fontes frias de energia. Eletricidade, gasolina, álcool ou carvão são fontes que produzem incêndios e nem compreendo como não ocorrem com muito mais frequência. Quando utilizarmos energia aeólica, energia geomagnética e outras com as quais ainda nem sonhamos, isso somado à utilização de materiais não-combustíveis nas construções/decorações e quando os fumantes estiverem extintos, muito menos gente será supliciada em incêndios perfeitamente evitáveis.

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terça-feira, 24 de março de 2009 | Autor:

Se pela manhã o divertimento era plantar e regar, à tarde íamos à fonte buscar água fresca que levávamos para casa em pesados tonéis de madeira os quais, felizmente, eram transportados rolando sobre suas laterais que funcionavam como rodas e eram puxados por meio de uma alça entalhada de cada lado. Como toda criança, eu cobria minha mãe de perguntas e queria saber por que não utilizávamos as búfalas para a tração do tonel. Minha mãe explicava que não era tão grande nem tão pesado quanto me parecia a mim que era pequeno, e que os animais tinham outras funções mais importantes.

Chegando em casa, a água era transferida para a cisterna, apoiando-se o tonel numa reentrância escavada no arenito especialmente para esse fim, de forma a encaixar a abertura numa posição baixa, capaz de deixar escoar quase toda a água quando retirávamos a tampa de resina. Depois, era só dar mais um sacolejão com o tonel já bem mais leve, e o restante do líquido escorria para fora.

Algo que sempre me impressionou era a engenharia do fornecimento de água da nossa casa. Na cidade, dispunham de canais que conduziam pequenas quantidades de água, suficientes, porém, para as necessidades de todos. Nós vivíamos fora da cidade e precisávamos nos prevenir, pois contávamos só conosco. A cisterna foi escavada no arenito, mais macio do que a rocha, mas suficientemente resistente para suster o precioso elemento. As paredes internas eram revestidas de uma seiva retirada das árvores próximas a qual, depois de seca, ficava impermeável e aromatizava a água. O reservatório me parecia enorme e precisávamos de muitas viagens diárias para enchê-lo e mantê-lo assim durante todo o período em que a nascente fornecia água. Depois vinha a estiagem e passávamos meses sem chuva, utilizando somente o que tivéssemos conseguido estocar. Cada casa possuía a sua cisterna, umas maiores, outras menores. Algumas eram beneficiadas pela topografia do terreno, como era o caso da nossa.

O caminho conduzia até a abertura superior. Pelo outro lado, havia uma abertura em baixo com um engenhoso sistema de regulagem que só permitia a saída do suficiente para manter cheia uma cuba de pedra onde íamos buscar as quantidades necessárias para lavar-nos ou para beber e cozinhar.

Algumas vezes ocorriam vazamentos e faltava suprimento de água para alguma das famílias da aldeia. Então os vizinhos se cotizavam e cada um dividia sua água na medida do possível. Sempre deu para todos.

Como as funções eram alternadas, quando não precisávamos buscar água, íamos trazer as cabras e os búfalos para guardá-los perto da choupana.

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