terça-feira, 14 de junho de 2011 | Autor:

Bom dia Mestre!

Com este texto me lembrei de um uma conversa que tive com um amigo. Estávamos em um bar, ele tomava cerveja e fumava um cigarro, eu tomava um suco e respirava oxigênio, tomando cuidado com a direção do vento. Meu amigo me disse de sua dificuldade em deixar o cigarro (que já o acompanhava por anos) e eu resolvi falar sobre a minha dificuldade em entender esta dificuldade. Contei que já havia experimentado, não apenas uma vez (fui insistente), o tal bastão nicotinoso, porém nunca me senti no impulso e muito menos na compulsividade em fumar; por isso, quando decidi, ou bercebi, que aquilo não funcionaria para mim, simplesmente nunca mais provei nem senti vontade. Conversa tranquila sem pregações.
Dois meses depois nos reencontramos e ele disse: “Bruno, sabes que depois daquela conversa parei de fumar!?” Eu pedi até desculpas, não era minha intenção convencê-lo a deixar algo de que gostava. Ele então me disse que eu não o convenci, eu o contaminei. Contaminei com meu posicionamento e atitude.
Então percebi que minha forma de ativismo não era mesmo a de fazer passeatas nem discursar chateações às pessoas. O exemplo é muito mais poderoso.

Obrigado pela oportunidade de fazer parte deste exército de disseminadores de idéias. Vamos contaminar o mundo com boas maneiras.

Um abraço apertado, e até breve!

Bruno Mazetto
Unidade Londrina

quinta-feira, 22 de abril de 2010 | Autor:

Olá Mestre,

Como recordação de Portugal, gostaria de deixar aqui um texto de Gil Vicente, retirado do “Auto da Lusitânia” (1531). Acho que tem um jogo de linguagem fabuloso.

Na segunda parte do auto, assiste-se ao casamento de Portugal, cavaleiro grego, com a princesa Lusitânia. Dois demônios, Belzebu e Dinato, vêm presenciar o casamento e escutam o diálogo entre um rico mercador, “Todo o Mundo” e um homem pobre, “Ninguém”:

“Entra Todo o Mundo, rico mercador, e faz que anda buscando alguma cousa que perdeu; e logo após, um homem, vestido como pobre. Este se chama Ninguém e diz:

Ninguém: Que andas tu aí buscando?

Todo o Mundo: Mil cousas ando a buscar:
delas não posso achar,
porém ando porfiando
por quão bom é porfiar.

Ninguém: Como hás nome, cavaleiro?

Todo o Mundo: Eu hei nome Todo o Mundo
e meu tempo todo inteiro
sempre é buscar dinheiro
e sempre nisto me fundo.

Ninguém: Eu hei nome Ninguém,
e busco a consciência.

Belzebu: Esta é boa experiência:
Dinato, escreve isto bem.

Dinato: Que escreverei, companheiro?

Belzebu: Que Ninguém busca consciência.
e Todo o Mundo dinheiro.

Ninguém: E agora que buscas lá?

Todo o Mundo: Busco honra muito grande.

Ninguém: E eu virtude, que Deus mande
que tope com ela já.

Belzebu: Outra adição nos acude:
escreve logo aí, a fundo,
que busca honra Todo o Mundo
e Ninguém busca virtude.

Ninguém: Buscas outro mor bem qu’esse?

Todo o Mundo: Busco mais quem me louvasse
tudo quanto eu fizesse.

Ninguém: E eu quem me repreendesse
em cada cousa que errasse.

Belzebu: Escreve mais.

Dinato: Que tens sabido?

Belzebu: Que quer em extremo grado
Todo o Mundo ser louvado,
e Ninguém ser repreendido.

Ninguém: Buscas mais, amigo meu?

Todo o Mundo: Busco a vida a quem ma dê.

Ninguém: A vida não sei que é,
a morte conheço eu.

Belzebu: Escreve lá outra sorte.

Dinato: Que sorte?

Belzebu: Muito garrida:
Todo o Mundo busca a vida
e Ninguém conhece a morte.

Todo o Mundo: E mais queria o paraíso,
sem mo Ninguém estorvar.

Ninguém: E eu ponho-me a pagar
quanto devo para isso.

Belzebu: Escreve com muito aviso.

Dinato: Que escreverei?

Belzebu: Escreve
que Todo o Mundo quer paraíso
e Ninguém paga o que deve.

Todo o Mundo: Folgo muito d’enganar,
e mentir nasceu comigo.

Ninguém: Eu sempre verdade digo
sem nunca me desviar.

Belzebu: Ora escreve lá, compadre,
não sejas tu preguiçoso.

Dinato: Quê?

Belzebu: Que Todo o Mundo é mentiroso,
E Ninguém diz a verdade.

Ninguém: Que mais buscas?

Todo o Mundo: Lisonjear.

Ninguém: Eu sou todo desengano.

Belzebu: Escreve, ande lá, mano.

Dinato: Que me mandas assentar?

Belzebu: Põe aí mui declarado,
não te fique no tinteiro:
Todo o Mundo é lisonjeiro,
e Ninguém desenganado.”

Beijinhos lusitanos!

Susana Sousa
Espaço Lifestyle – Lisboa