Caro Comendador DeRose,Peco-lhe o favor de divulgar o Curso.
Abraco, Caros amigos, Segue convite para o Curso sobre a Família Imperial do Brasil, José Fernando Cedeño de Barros
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AO LONGO DE CINCO MIL ANOS MUITA DETURPAÇÃO PODE ACONTECER
Nossa filosofia tem 5000 anos de existência. Nesses cinco milênios, foi desvirtuado sucessivas vezes pelas invasões que a Índia sofreu. Façamos uma comparação. Estamos no século XXI da Era Cristã. Muito bem. Existe uma luta chamada Capoeira, que é legitimamente brasileira. Tem suas raízes em tradições africanas, porém nasceu no nosso país. Imaginemos que dentro de alguns anos, a Amazônia será invadida por uma outra nação com o pretexto de ocupá-la para salvar tão precioso patrimônio da humanidade das mãos desses latino-americanos irresponsáveis que a estão destruindo.
Tal como os drávidas que viviam na Índia há 5000 anos, os brasileiros não têm tradição guerreira. Já os invasores, esses sim, contabilizam uma história de guerras, conquistas e império, tal como os sub-bárbaros arianos que invadiram a Índia a 1500 a.C. e cometeram o primeiro grande desnaturamento do Yôga.
Como ocorreu com o Império Romano, que ia incorporando outras culturas (ao absorver do Lácio o latim, da Grécia a arquitetura, escultura, mitologia etc.), esse novo império absorve a Capoeira. Em pouco tempo, digamos, um século, classificam-na como dança (“afinal, eles não dançam?”). E a reestruturam, pois isso de bater atabaques e tocar um instrumento de cordas com uma corda só é muito primitivo. Eliminam os tambores e substituem o berimbau pela guitarra eletrobioplásmica, com acompanhamento de “sincretizador” (que substituirá o computador, aquela máquina primitiva que vivia “dando pau” e pegando vírus).
Passam-se mil anos. Lá pelo ano 3000 da era Cristã, ocorre outra invasão. O Brasil é ocupado por uma terceira etnia e novos Mestres de Capoeira introduzem uma codificação que a define como religião (“afinal, eles não se benzem antes de jogar?”). Uma dança religiosa, uma dança ritual. Surgem mosteiros, templos e igrejas do culto Capoeirista. Essa vertente passa a ser conhecida como Capoeira Clássica.
Passado mais um milênio, e em torno do ano 4000, já não se fala a mesma língua, nem habita neste território o mesmo povo. Surpreendentemente, a Capoeira sobreviveu e tem mesmo um sólido sistema cultural que a preserva. Só que agora, após alguns concílios, decidiram que Capoeira é uma terapia. Passa a ser uma dança espiritual terapêutica.
Mais um milênio se passa. Estamos lá pelo ano 5000 d.C. Ninguém mais se lembra das suas origens. Criam mitologias. Surgem versões negando que a Capoeira tenha surgido em uma nação mítica chamada Brasil, a qual teria existido há tanto tempo que caiu no esquecimento. Alguns eruditos defendem que a Capoeira teria sido criada pelos negros escravos, mas a etnia então dominante nega-o peremptoriamente, e ameaça de punição quem se atrever a insistir nessa invencionice subversiva. A Capoeira é institucionalizada como uma prática para a terceira idade. Torna-se uma dança espiritual terapêutica para idosos.
Outros mil anos são transcorridos. Estamos agora no ano 6000 da Era Cristã. Todas as evidências de uma civilização latino-americana desapareceram, apagadas intencionalmente pelos cientistas e religiosos desse novo período histórico. A opinião pública de então, decide que Capoeira é para mulheres, que é ótima para TPM, gestação, rugas, celulite, varizes e que rejuvenesce. A Capoeira passa a ser classificada como uma dança espiritual, terapêutica, para idosos e para mulheres. Quem afirmar que a Capoeira legítima é uma luta, destinada a pessoas jovens e saudáveis, passa a ser acusado de discriminar os enfermos, os idosos e as mulheres; é acusado de ser polêmico; torna-se perseguido e severamente castigado com a difamação, exclusão, execração e ameaças de morte.
Bem, no caso da Capoeira, nós só abordamos 4000 anos de deturpações, do ano 2000 ao ano 6000 d.C. No caso do Yôga precisamos computar mais um milênio de distorções, já que essa filosofia conta com cinco mil anos de existência.
Oh! Céus! Eu disse filosofia? Foi sem querer. Juro. Eu quis dizer uma terapia mística para enfermos, mulheres e idosos.
Distintivo do yôgin
Um dia sonhei com meu Mestre ofertando-me um objeto carregado de força ancestral, algo que se materializara em meio a um torvelinho de luz dourada na palma da mão dele, bem diante dos meus olhos. Quando a névoa de luz se dissipou e pude ver melhor, era uma medalha muito bonita, com aparência bem antiga e gasta pelo tempo, detentora de uma magnificência e dignidade tão evidentes que saltavam aos olhos. No centro, pude reconhecer o ÔM, símbolo universal do Yôga, em sânscrito, escrito em alfabeto dêvanágarí.
Foi apenas um sonho, sem nenhuma pretensão a precognição. Mas um sonho nítido e forte, cuja lembrança permaneceu clara em minha memória por muito tempo. Leia mais »
Mas como é na Índia?
Eu viajei para a Índia durante 24 anos. Frequentei vários tipos de estabelecimentos, desde as escolas até os mosteiros, dos mais sérios aos que já estavam contaminados pelo consumismo ocidental – e percebi as diferenças. Mas, em todos eles, ocorria um mesmo fenômeno. Os alunos indianos entravam na sala de aula com cara normal e roupa normal, muitas vezes praticando de calça e camisa. Os ocidentais, no entanto, pareciam um bando de alucinados que se destacavam dos hindus por serem os únicos a estar vestidos com “roupa indiana”, isto é, o equivalente àquelas camisas hipercoloridas e cheias de flores que os turistas estrangeiros usam no Brasil por acharem que aqui é assim que o povo se veste. Será que não percebem que nenhum brasileiro está portando aquelas camisas espalhafatosas, ou que nenhum indiano está vestindo a tal de “roupa indiana” (especialmente as famosas “saias indianas”, que nenhuma indiana veste)?
Durante a aula de Yôga, os hindus preservam a fisionomia de pessoas perfeitamente normais, sorriem, interagem com os colegas e com o instrutor, às vezes até fazem gracejos. Os ocidentais, pelo contrário, mantêm-se muito taciturnos, com cara de santo cristão e, às vezes, babam um pouco.
Frequentemente os instrutores que levei em minhas viagens, para conhecer o verdadeiro Yôga da Índia, observaram:
– DeRose, você já percebeu que os ocidentais ficam com cara de malucos quando entram numa sala de Yôga e que os indianos são como nós do SwáSthya e preservam a cara normal?
Pois é. Aí está o x da questão. O ocidental vai à Índia, olha, mas não vê. Ouve, mas não escuta. Tanto que volta falando “ióga”, embora todos lá pronunciem Yôga, com ô fechado. É uma questão de paradigma. O ocidental enfurnou no bestunto que Yôga deveria ser de uma determinada forma. Depois ele viaja para a Índia e não consegue perceber que lá é diferente do clima cristianizado, naturéba e alternativoide que grassa no Ocidente.
Uma das fantasias é que na Índia – e nas escolas de Yôga desse país – só se coma pão integral, arroz integral, açúcar mascavo e outros modismos ocidentais. Só que não é assim. Nas escolas de Yôga come-se muito bem, desfruta-se uma comida deliciosa (obviamente vegetariana!), bem temperada e, fora isso, normal. Certa vez, uma pessoa que estava no nosso grupo pediu arroz integral ao garçom do restaurante em Nova Delhi. O empregado trouxe arroz branco. A brasileira mandou voltar e instruiu-o com mais ênfase:
– Olha, meu filho, eu quero arroz integral, compreendeu? Arroz in-te-gral!
O coitado voltou com outra porção de arroz branco. Percebendo que não agradara, explicou:
– Mas o arroz está inteirinho, Madame. Eu mesmo ajudei o cozinheiro a catar só os grãos que não estavam quebrados.
Hoje já há alguns estabelecimentos com opções integrais para atender a turistas, assim como já existem escolas de Yôga para satisfazer os devaneios dos que pagam bem para que lhes vendam o que eles querem comprar, ou seja, aquilo que o ocidental pensa que o Yôga é.
Hoje, dia 13, sexta-feira, às 20 horas, vamos ter uma festa de lançamento do DVD Índia Exótica, que é um documentário muito elucidativo (e divertido também) gravado durante a viagem do jornalista Arthur Veríssimo àquele país.
Veríssimo vai fazer uma palestra descontraída e responder perguntas para satisfazer a curiosidade que a Índia, mais uma vez, está despertando no Brasil – e no mundo inteiro.
Cada pessoa que fala da Índia tem uma versão particular e isso se deve ao fato de que a Índia é muito grande, muito antiga, tem muitas etnias, inúmeras religiões, muitas línguas e incontáveis dialetos. Mesmo que dez viajantes permanecessem na mesma cidade, eles teriam dez percepções diferentes daquela cidade, dependendo do bairro, do grupo cultural com que conviveram, dos lugares que optaram por visitar: templos hindus, sikhs, budistas, jainas, mesquitas, ruínas, museus, escolas de Yôga autênticas ou arapucas para enganar trouxas, mosteiros de Vêdánta, shoppings, emporiums, hotéis desta ou daquela qualidade, lanchonetes para turistas ou restaurantes que os indianos frequentam, passeios de elefante ou de camelo, ursos dançantes, marionetes, bailarinas de Bhárata Natya, shows de música clássica (ragas) tocadas com sitar e tabla, mágicos tradicionais, festas de casamento, festivais religiosos populares. E muito mais do que isto. Como ninguém consegue ver tudo, cada viajante volta com uma visão diferente da Índia. Por isso é importante conhecermos a visão do nosso convidado Arthur Veríssimo e passar uma noite agradável, escutando histórias.
Depois, você poderá levar um exemplar autografado do DVD Índia Exótica para reunir os amigos e mostrar a eles cenas da “real India” e entretê-los com as histórias, sempre fascinantes, que escutará na próxima sexta-feira à noite.
Para animar a festa, teremos demonstrações de coreografias de SwáSthya.
Estou esperando você na Sede Central, à Alameda Jaú, 2000 – quase esquina da Av. Rebouças. Recomendamos deixar o automóvel no estacionamento da Rua da Consolação (bem próximo à Jaú), que fecha às 23 horas. Mas é o suficiente.
Divulgue. Traga os amigos.
Os Himálayas
Chegando ao meu destino, a cidade de Rishikêsh, fiquei apaixonado pelo lugar. O rio Ganges corre límpido e caudaloso nessa região montanhosa, relativamente próxima da nascente. Pode-se meditar às suas margens, banhar-se em suas águas, cruzar o rio de barco ou pela ponte pênsil. (Ah! Quando conheci essa região a ponte nem sequer existia…)
Rishikêsh é uma cidade muito bonita e imantada com a magia dos séculos. Era uma emoção simplesmente estar ali e saber que aquele solo foi pisado por alguns dos maiores iluminados dos últimos 5000 anos. Ainda hoje, swámis (monges) e saddhus (ermitões) são vistos com frequência. Há dezenas de mosteiros, templos e Mestres de Yôga, de Vêdánta e de outras disciplinas. Os curiosos geralmente deixam-se seduzir pela multiplicidade de escolas e começam a agir como crianças à solta numa loja de chocolates. Misturam tudo, fazem uma bruta confusão e não aprendem nada.
Eu sabia o que queria. Estava indo para o Sivánanda Ashram (pronuncie Shivánanda Ashrám), um dos mais conceituados mosteiros da Índia. Nenhum outro chamariz iria me desviar da meta. Lá encontrei coisas realmente muito boas, tanto que voltei a essa entidade quase todos os anos a partir de então, durante mais de vinte anos. Nesse ashram tive a oportunidade de aprimorar mantras, conhecer mais variedades de pújá, melhorar o sânscrito (especialmente a pronúncia), desenvolver Karma Yôga, Bhakti Yôga, Rája Yôga, sat sanga, meditação, teoria Vêdánta e travar contato com o verdadeiro Hatha Yôga da Índia.
Uma coisa que me chamou a atenção nas práticas de Yôga da Índia, foi o fato de não encontrar lá aquela insistente repetição dos estribilhos comuns nas aulas do Ocidente, recitados com voz doce e de impostação hipnótica, tais como: “calma… não force… suavemente… ótimo, muito bem… cuidado… isso é perigoso…” Ao invés, encontrei ordens severas: “Força! Você pode fazer melhor do que isso! Quero ver mais empenho nessa execução! Aguente mais!”
Eu era jovem, desportista e praticava muito bem os ásanas. Não obstante, às vezes ficava com o corpo todo dolorido depois de uma aula, coisa que no Ocidente não se admite. Mais tarde concluí que a maneira deles era mais coerente, pois Hatha significa força, violência[1].
Na minha primeira prática de Yôga no Sivánanda Ashram, o instrutor mandou-me executar exercícios adiantados, como padmásana, nauli, sírshásana, vrishkásana, mayurásana e outros. E isso sem pedir nenhum exame médico, o que denota um espírito muito mais descomplicado da parte deles. Falou-se livremente sobre a kundaliní (pronuncie sempre com o í final longo), sem o professor assustar ninguém, nem exagerar seus eventuais perigos.
Outra demonstração da descontração reinante no Yôga da Índia é o fato de as aulas serem dadas num clima informal, no qual está aberta a possibilidade do diálogo e até mesmo a de uma anedota posta por um aluno em classe, como ocorreu nesse inverno de 1975. Havia um monge velhinho, cuja função era a de tocar o sino a cada hora certa. Estando muito frio às cinco da manhã em pleno inverno dos Himálayas, ele se refugiou na nossa sala de prática, onde o calor dos corpos de muitos yôgins aquecera o ambiente. No meio da aula ele começou a cochilar e pender a cabeça. Um aluno não perdeu a oportunidade de brincar:
– Olhe lá, professor! O swámiji entrou em samádhi!
O professor riu, todos riram e, em seguida, retomaram a aula com muita disciplina. Aliás, só conseguem essa descontração por existir simultaneamente um profundo senso de disciplina, respeito e hierarquia que falta na maior parte das escolas do Ocidente.
Em suma, gostei do Hatha Yôga e do Rája Yôga experimentados no Sivánanda. Para dar uma ideia do quanto esse ashram (mosteiro) me agradou, basta dizer que ele é de tendência Vêdánta e, apesar disso, recebi lá boas aulas de Sámkhya, o que constitui um raríssimo exemplo de tolerância.
Mais um eloquente exemplo é o fato de que um dos melhores livros de Tantra Yôga foi escrito pelo fundador Srí Swámi Sivánanda, sendo ele de linha oposta (brahmáchárya). Tudo isso contribuiu para, em meus retornos posteriores à Índia, acabar frequentando muito mais essa instituição do que qualquer outra, durante vinte e quatro anos de viagens à Índia.
Depois do Sivánanda Ashram, tive o privilégio de visitar e participar de aulas no Kaivalyadhama, de Lonavala; Iyengar Institute, de Puna; Yôga Institute de Srí Yôgêndra, em Bombaim (atualmente denominada Mumbai); Muktánanda Ashram, de Ganêshpuri; Aurobindo Ashram, de Delhi; todas muito boas escolas, de renome mundial, mas cada qual apresentando uma interpretação, um método e até mesmo uma nomenclatura diferente das outras. Isso me foi tremendamente educativo e ampliou minha tolerância em 360 graus. Nessas viagens conheci pessoalmente e recebi ensinamentos diretamente de grandes Mestres como Chidánanda, Krishnánanda, Nádabrahmánanda, Turyánanda, Muktánanda, Yôgêndra e outros. Segundo os hindus, eles foram os últimos Grandes Mestres vivos, os derradeiros representantes de uma tradição milenar em extinção[2].
[1] A palavra hatha é traduzida como violência, força, pelos conceituados autores e livros:
Tara Michaël ‑ O Yôga, Zahar Editores, página 166;
Iyengar ‑ A Luz do Yôga, Editora Cultrix, página 213;
Georg Feuerstein ‑ Manual de Yôga, Editora Cultrix, página 96;
Renato Henriques ‑ Yôga e Consciência, Escola de Teologia, pág. 276 (da 1a. edição);
Mircea Eliade ‑ Inmortalidad y Libertad, La Pléyade, página 223;
Theos Bernard ‑ Hatha Yôga una tecnica de liberación, Siglo Veinte, página 13;
Monier-Williams ‑ Sanskrit-English Dictionary, página 1287.
[2] No momento em que esta edição é publicada já estão todos falecidos.
Meu amigo, o jornalista Arthur Veríssimo, praticante de yoga, foi à Índia e realizou uma bela reportagem intitulada “Índia exótica”, ao nível dos grandes documentários da BBC. Ele está lançando o DVD em várias cidades, conforme as datas abaixo:
São Paulo
30 de janeiro – Saraiva Mega Store do Shopping Iburapuera às 19h
Av. Ibirapuera, 3103, Moema, São Paulo
2 de fevereiro – Livraria da Vila dos Jardins às 19h30
Al. Lorena, 1731, Jardins, São Paulo
Recife
3 de fevereiro – Livraria Cultura às 19h
R. Madre de Deus, 110, Paço Alfândega, Recife
Porto Alegre
5 de fevereiro – Livraria Cultura do Bourbon Shopping Country às 17h
Av. Túlio de Rose, 80, Passo D´Areia, Porto Alegre
5 de fevereiro – Saraiva do Barra Shopping Sul às 20h
Av. Diário de Notícias, 300, Cristal, Porto Alegre
Belo Horizonte
6 de fevereiro – Livraria Leitura do BH Shopping
Rodovia BR-356, 3049, Belvedere, Belo Horizonte
Quem já foi à Índia vai rever lugares em que já esteve e quem não foi lá vai conhecê-la sob a lente de um jornalista brasileiro, o que é sempre mais descontraído. Estamos apoiando essa realização do Arthur Veríssimo, a qual vai contribuir bastante para com a cultura geral do nosso país e ajudará também a divulgação da Índia no Brasil.