quarta-feira, 12 de dezembro de 2012 | Autor:


Nunca perca contato visual com a sua bagagem. Há mais de trinta anos eu viajo sistematicamente para países próximos e distantes, das Américas, Europa e Ásia. Jamais me furtaram coisa alguma.

Nos aeroportos existem quadrilhas especializadas em roubar as malas que são despachadas. A maioria trabalha do lado de dentro. Em viagens diretas, eles têm que trabalhar rápido para sumir com a mala ou para abri-la, mas eles têm experiência. Por outro lado, nas viagens com escala, em que você tem que descer de um avião e embarcar noutro – e suas malas também – eles trabalham mais sossegadamente. Primeiro, porque dispõem de mais tempo. Depois, porque você nunca poderia afirmar com certeza em que aeroporto ocorreu o furto.

Sempre que viajo acompanhado presencio os amigos despachando tudo, pelo ilusório conforto de embarcar com as mãos abanando. Várias vezes testemunhei o resultado: chegando ao destino, a bagagem roubada ou extraviada, meus amigos não tinham nem uma muda de roupa. Nada!

Mas não é só a mala despachada que vira fumaça. Basta olhar para o lado e adeus bagagem. Levando grupos de amigos para a Índia, percebi porque as pessoas são furtadas. A maioria se virava de costas para a bagagem para falar com alguém, olhar alguma coisa que lhes chamara a atenção ou para responder a algum espertinho contratado para desviar suas vistas da mala. Felizmente, eu estava por perto para evitar que o distraído ficasse sem a equipagem.

O truque é nunca perder contato visual com a sua mala. Mas melhor mesmo é jamais perder contato físico. Tem que fazer check-in? Ponha o pé em cima da mala. Vai tomar um lanche no bar ou pagar algo no caixa? Pé em cima da mala. Vai esperar o próximo vôo, sentado mais ou menos confortavelmente, num marasmo que pode dar sono? Recoste-se sobre a mochila, enrosque a alça da bolsa no seu braço, apoie-se na mala de tal jeito que se alguém a mover você caia.

Nos restaurantes, tanto em viagem quanto na sua cidade, mantenha a bolsa não apenas à vista, mas presa da melhor forma possível no encosto. Se alguém tentar levá-la embora, a cadeira vai junto.

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quinta-feira, 10 de setembro de 2009 | Autor:

Quinta-feira às cinco da manhã acordamos e nos preparamos para sair às cinco e meia a fim de levar a petizada ao Aeroporto de Cumbica para embarcar a New York City. Eu havia dormido menos de duas horas. Voltando para casa, surpreendido por um engarrafamento monstro, só não dormi ao volante graças a muito pránáyáma. Chegando à Jaú, dormi uma hora e meia e saí para o meu próprio voo ao Rio. Cheguei ao Aeroporto de Congonhas às 14 horas para embarcar às 15 no voo 3946. Fiz o check-in normalmente, mas o número do meu voo não aparecia no painel. Fui à TAM me informar e disseram que meu voo fora cancelado e que, se houvesse lugar, me acomodariam no próximo voo. “O cavalheiro pode aguardar sentado na sala de embarque.” Só que o cavalheiro aqui tem muita experiência com aeroportos e com a incompetência humana. Ao invés de sentar-me, fiquei em pé junto à porta de embarque. Foi muito bom, pois alguns minutos depois, sem chamar os que estavam sentadinhos na sala de embarque, um dos funcionários TAM avisou sem microfone (portanto, só foi escutado pelos que estavam junto à porta de embarque), que haveria alguns poucos lugares – e quem estava ali, embarcou. Embarquei. Por sorte, eu estava bem cansado. Sentei-me e adormeci. Sorte, porque a aeronave não decolou. Ficou uma hora e meia parada com todo o mundo dentro. Então, ouve-se o aviso funesto: “Senhores passageiros, queiram desembarcar. O Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, está fechado e o Aeroporto do Galeão está congestionado.”

Desembarcamos e recebemos um cartão de reembarque. A partir daí foi um caos. Nenhuma informação precisa era transmitida. Na verdade, não havia meios de precisar quando a chuva iria parar e quando o Aeroporto iria reabrir. Mas o Homo stupidus (descendente do Homo malignus) é pouco lúcido e muito agressivo. Talvez eu fosse o único ali que não estava estressado, que não gritou, que não insultou os pobres funcionários da companhia transportadora. Afinal, eles são só funcionários. Cumprem ordens. Não cabe a eles autorizar ou desautorizar decolagens. Mas a turba multa é vândala e irracional: duzentos cariocas querendo voltar para casa e não podendo, sob o fantasma de não poder retornar nem na quinta e muito menos na sexta-feira, véspera de feriado e com previsão de mais chuva, logo se converteram em duzentos “cereal” killers. Se vissem algum Corn Flakes pela frente naquela hora, sem dúvida o triturariam até que não restasse nada. Um dos passageiros justificava sua fúria assassina em altos brados: “Tô aqui só com o café da manhã e só tenho dois reais no bolso.” Bem, eu tinha mais reais, mas café da manhã, nem isso eu tinha. Nem dava para nos afastar, sequer para ir ao toalete, pois podiam chamar para embarque a qualquer momento. Já imaginou sair do banheiro e não encontrar mais ninguém? “Cadê todo o mundo?” E escutar: “Já embarcaram enquanto o senhor estava lá dentro.” Então, ninguém ia.

De fato, em dado momento avisaram (sem microfone, como de praxe) que “devido ao reposicionamento da aeronave” o embarque seria pela porta número zero dois (sic). E toca a manada a desembestar para essa outra porta.

Transcorreram-se ao todo sete horas de espera, cinco das quais em pé. Finalmente, às 21 horas embarcamos para o Rio, onde chegamos às 22. Fernanda chegou a New York antes que eu chegasse ao Rio de Janeiro! 

Eu tinha agendada uma conversa com os alunos da Unidade Downtown para as 21 h. Paciência. Remarcamos para segunda-feira às 19 horas.

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