segunda-feira, 19 de setembro de 2011 | Autor:

Namastê, é uma saudação laica e leiga; quer dizer apenas algo como “bom dia”, “boa tarde” ou “boa noite” para quem chega e para quem parte. Consulte http://www.sanskrit-lexicon.uni-koeln.de/mwquery/

Um forte abraço.

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Fui pesquisar para entender mais como estas palavras foram ïntroduzidas nesta cultura moderna do jeito que eu lhe escrevi e achei isto, no Wikipedia:

As it is most commonly used, namaste is roughly equivalent to “greetings” or “good day,” in English, implicitly with the connotation “to be well”. As against shaking hands, kissing or embracing each other in other cultures, namaste is a non-contact form of respectful greeting and can be used universally while meeting a person of different gender, age or social status.

Namaskār (Devnagari/Hindi: नमस्कार) literally means “I bow to [your] form”.

“The spirit in me respects the spirit in you,” “the divinity in me bows to the divinity in you,” and others, are relatively modern interpretations, based on literal translations of the Sanskrit root of namaste.[citation needed] They are usually associated with western Yoga and New Age movements.

[O negrito e sublinhado é nosso para chamar a atenção ao fato de que essa interpretação é fantasiosa, inventada pelo Yôga ocidental e saladas mistas New Age.]

Ou seja, esta interpretaçao “mais moderna” deve ter uma distorção de quem quis dar um sentido mais “esotérico” a um cumprimento milenar….

 

Cheguei hoje do Rio e tive a satisfaçao de receber seu Pocket Zen Noção, o qual já devorei e gostei bastante. O capitulo que discorre sobre como o mundo trata seus luminares me deixou irriquieto E sorridente, pois é fato que a mediocridade impera E sinto-me como um peixe fora da água em várias de minhas atitudes e pensamentos…

Bom, fiquei feliz com nosso encontro e as possibildiades que se abriram. Estou com a agenda bastante tumultuada, pois estas viagens me quebram o ritmo, mas sei que em breve estaremos juntos para conversar, pois assim o desejo e o convite já houve.

Boa noite!

Daniel Heuri

quinta-feira, 12 de março de 2009 | Autor:

Um dia resolvi procurar os saddhus, sábios eremitas que vivem em cavernas, nas montanhas geladas dos Himálayas. Para ter mais certeza de encontrá-los e também por medida de segurança, contratei um guia, Pratap Sing. Era minha primeira viagem àquela região, eu era novinho e ainda não conhecia nada de Índia.

Acordamos cedo e começamos a subir a montanha ao nascer do sol. Uma densa neblina cobria a floresta, mas o guia dava passos seguros morro acima.

– Sir, vou levá-lo para conhecer um grande yôgi, sir!

– Como é o nome dele? – Perguntei. O guia me disse o nome de um conhecido guru, muito famoso no Ocidente. Então, retruquei-lhe que não estava interessado em conhecê-lo e se esse tipo de mestre era o que ele considerava um grande yôgi, podíamos voltar dali mesmo, pois iria dispensar os seus serviços. Ele sorriu e abriu o jogo:

– Sir, o senhor entende mesmo de Yôga. Vamos, então, para o outro lado, sir.

– Mas, se você sabia que esse não é um verdadeiro yôgi, como ia me levar lá?

– Sir, eu ganho uma gratificação para cada turista que encaminhar. Mas vou levá-lo para conhecer saddhus de verdade se me pagar dobrado, sir.

Bem, o fato é que subimos a montanha durante mais de quatro horas. Durante a caminhada surgiram vários saddhus, mas dessa vez o guia cumpriu o trato e seguiu em frente sem se deter em nenhum deles. Eu já estava exausto quando fui surpreendido por uma figura que parecia saída dos contos de fadas. Era um saddhu, realmente, daqueles que não se encontram mais nas aldeias, nem em ocasiões especiais. Uma imagem impressionante. Completamente nu, pele curtida pelo frio e pelo sol, quase negro, todo coberto de cinzas, o que lhe conferia um tom violáceo, semelhante ao da representação da cor da pele de Shiva nas pinturas. Cabelos e barbas completamente brancos e muito longos. Um olhar forte e penetrante, olhos injetados de poder. Recordou-me Bhávajánanda.

Não tive tempo de falar nem fazer nada e ele já estava me dando ordens, passando instruções em língua hindi, num tom marcial, com o guia traduzindo apressadamente. Ensinou-me novos mantras, mudrás, ásanas e meditação. Se eu não acertasse em executar o exercício exatamente como ele queria, o Mestre rugia uma admoestação intraduzível.

Por vezes, o guia tentava falar com o saddhu, mas ele o ignorava. Não respondia e ainda dava-lhe as costas. Falava só comigo, porém, eu não entendia o idioma hindi e precisava do cicerone para traduzir. Apesar desse inconveniente, foi a ocasião em que aprendi o maior volume e a melhor qualidade de técnicas em tão pouco tempo. Foram umas poucas horas de aprendizado, umas sete ou oito, e o guia já estava inquieto, insistindo para irmos embora imediatamente. Depois de uma certa insistência, concordei, muito a contragosto. Levara a vida inteira para encontrar um saddhu de verdade e, no melhor da festa, precisava largar tudo e ir embora! Cheguei a aventar a hipótese de passar a noite lá, mas o guia ficou histérico com a possibilidade. Mais tarde descobri a razão.

Então, agradeci ao saddhu e cumprimentei-o da forma tradicional, fazendo o pronam mudrá, curvando-me até o chão e tocando-lhe os pés. Deixei-lhe minha sacola como pújá. Dentro havia uma manta, um livro meu (Prontuário de SwáSthya Yôga) e alguma comida.

Começamos a descer a montanha e logo compreendi o motivo da preocupação. Nas outras quatro horas que durou a descida, danou a esfriar e, no final da caminhada, começou a escurecer. Segundo o guia, se escurecesse conosco na floresta, nem mesmo ele conseguiria encontrar o caminho de volta e morreríamos devido ao frio. Numa viagem posterior à Índia, descobri que aquela região inóspita ainda tinha elefantes selvagens os quais atacavam quem se aventurasse por seus domínios, além de tigres e serpentes para viajante nenhum botar defeito. Como é que o saddhu conseguia sobreviver lá? E pela aparência já devia ter muitos anos de idade vividos, quem sabe, ali mesmo.

Nessa noite fez tanto frio que tive de acordar algumas vezes no meio da madrugada para praticar bhastriká, um respiratório que eleva a temperatura do corpo, e, só assim, consegui dormir de novo. Aí pensei: estou cá em baixo onde a temperatura é mais amena, estou dentro de um alojamento fechado, numa cama, com roupas de lã e cobertores. Como é que sobrevive aquele velho saddhu lá em cima, onde é muito mais gelado, sem roupas, dormindo no chão, dentro de uma caverna de pedra úmida, que não tem nem portas para evitar o vento gélido?

No dia seguinte partimos mais cedo, antes de amanhecer, para dispormos de mais tempo com o Mestre. Pensei que fosse encontrar um picolé de saddhu, mas qual nada. Logo que chegamos, ele, super energético, começou novamente a dar ordens e instruções. Achei interessante o fato de que ele havia me ensinado certos ásanas no dia anterior e insistido para que os executasse de uma determinada maneira. Neste segundo dia, ensinara ásanas (pronuncie “ássanas”) novos e revisara os do dia anterior, só que queria que eu os fizesse de outra forma. E no terceiro dia ia querer de uma outra maneira. Talvez fosse para me tirar a imagem estereotipada de que só há uma forma estanque de executar e mostrar-me que diversas variações podem estar igualmente corretas. Ou, possivelmente, seria sua intenção produzir um resultado evolutivo, diferente a cada dia.

Mandou-me sentar à sua frente e repetir os mantras que fazia. Quando não vocalizava exatamente igual, ele rosnava alguma coisa em hindi, cuja tradução era perfeitamente dispensável. Depois fez o mesmo com a meditação. Assim que me dispersava, ele grunhia, como se estivesse vendo o que se passava dentro da minha cabeça.

Novamente o guia começou a ficar nervoso, só que desta vez atendi logo. Deixei um pújá, despedi-me da forma convencional e descemos o mais rápido que conseguimos.

O terceiro dia foi o melhor de todos. Dava para sentir a energia no ar. Percebi que estava entrosado. O Mestre não rugiu nem rosnou nenhuma vez. Em dado instante, enquanto eu executava um ásana, ele me passou o kripá, um toque que transmite a força e confere ao iniciado o poder de, por sua vez, transmiti-la aos seus discípulos.

Após o kripá, o próprio saddhu considerou encerrada a aula e, pelo visto, o curso. Mandou-nos embora como quem já tinha feito o que devia e entrou na caverna.

Na manhã seguinte, subimos outra vez, só que não encontramos mais o Mestre. Não estava na caverna nem nas imediações. Esperamos até tarde. Ele não voltou. Assim, compreendemos que havia considerado completa a iniciação que me conferiu nos três dias. Descemos e não subimos mais.

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terça-feira, 10 de fevereiro de 2009 | Autor:

Rosana Ortega, Presidente do Sindicato Nacional dos Profissionais de Yôga, enviou-nos este link:

httpv://www.youtube.com/watch?v=mYoPqerXHuI 

Já mencionei noutro post que achei uma coincidência (ou sincronicidade) interessante que algumas semanas antes de ser divulgado o nome da novela O Caminho das Índias, eu tenha sido agraciado em Portugal com o título de Grão-Mestre da Ordem do Mérito das Índias Orientais. Acontece que ninguém mais utiliza a forma “Índias”, nem cá no Brasil, nem lá em Portugal. Hoje, chama-se “Índia”, no singular (isso, no Ocidente, já que o nome do país é Bhárata, em sânscrito, ou Bhárat, em hindi). Pois tanto o título da novela, quanto o título honorário a mim concedido, ambos aplicam a forma arcaica, no plural.

Não bastasse isso, dando continuidade aos livros menores que constituem extratos dos livros maiores (como ocorreu com os livros Karma e dharma, Chakras e kundaliní, A síntese do SwáSthya Yôga, ÔM – o mais poderoso dos mantras, Yôga tem acento) acabo de concluir um sobre as viagens à Índia.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009 | Autor:

Um dia li o seguinte texto:

“Não compre produtos feitos a partir de espécies protegidas

Casacos de pele e artefatos de marfim são bons exemplos de produtos dos quais você deve passar longe, uma vez que foram feitos a partir do sacrifício de animais à beira da extinção. Eles continuam sendo mortos apenas porque ainda há consumidores. Se você não comprar e denunciar essa venda às autoridades locais, estará salvando milhares de espécies.”

 

Mas isso não é o suficiente. Então não devemos usar artefatos de marfim, mas podemos utilizá-los de osso de boi? Não devemos comer carne de baleia, mas podemos tranquilamente comer carne de vaca porque essa espécie não está ameaçada de extinção? Pergunte à vaca que está esperando a sua vez no matadouro o que ela acha disso. Não estará ela em risco de extinção imediata?

Às vezes, penso que alguns ambientalistas não estão preocupados com a ética nem com o respeito à vida ou à preservação do bem-estar dos animais, mas apenas com as conveniências do ser humano. Por exemplo, a maioria das escolas de veterinária não está interessada em cuidar dos animais pelo bem-estar deles e sim para que sirvam melhor ao ser humano. Saturam-nos de antibióticos e de hormônios, não pensando neles, mas para que tenham menos doenças e proporcionem mais lucros ao criador até o momento do abate. Abate esse que quanto mais cedo, melhor. Quantas churrascarias oferecem “bife de bebê” (baby beef)?

Reconheço que para calçados e outras peças de vestuário, em algumas situações ainda precisamos utilizar o couro. Contudo, há alternativas para que utilizemos cada vez mais as matérias primas que o estão substituindo. Os calçados são um bom exemplo. O chamados tênis (no Brasil) levam uma porção cada vez menor de materiais de origem animal, são mais confortáveis e duram uma vida.

No passado, o ser humano tinha a justificativa de que precisava sacrificar os animais e escravizá-los para sobreviver. Hoje, não existe mais tal pretexto.  Eu ainda uso sapatos de couro, cintos etc., mas estou me policiando para substituí-los progressivamente por artefatos fabricados com outros materiais.

Lembre-se, você que é vegetariano, de que muitos cosméticos são elaborados com matéria prima extraída dos corpos mortos dos animais, ou testados com o martírio desses coitados, antes de liberar tais produtos para uso humano. Por exemplo, pingando xampu (champô, para Portugal, do hindi chhámpná, massagear, passando pelo inglês shampoo) nos olhos de cães e macacos para ver o quanto arde e o quanto inflama os olhos deles; ou esfregando papel higiênico no ânus desses infelizes até ficar em carne viva, para testar o índice de abrasão, antes de colocar o produto no mercado.

Procure no Google as listas de indústrias que fazem testes dessa natureza em animais, para denunciá-los aqui no nosso blog. E, em contrapartida, vamos divulgar as empresas que não fazem testes em animais.

Camila
[email protected] | 189.62.20.187

Boa Noite Mestre,

Primeiramente gostaria de dizer o quanto gosto do blog, quando os instrutores da unidade Anália Franco recomendaram a leitura imaginei que o assunto seria UNICAMENTE Swásthya Yôga e fiquei supresa com todos os temas que são abordados :) Estou tentando parar de comer carne desde quando comecei a prática (pouco menos de um mês, e acho realmente difícil, mas lendo o seu livro sobre alimentação vegetariana finalmente encontrei a motivação necessária) porém sempre me preocupei em comprar cosméticos que não fossem testados em animais, por isso sempre olho o site da PEA (Projeto Esperança Animal), que acredito ser uma instituição séria, a lista das empresas que não testam seus produtos em animais bem como a lista das empresas que testam para evitar a compra de produtos dessas empresas:
http://www.pea.org.br/crueldade/testes/naotestam.htm
http://www.pea.org.br/crueldade/testes/testam.htm
As mesmas estão um pouco desatualizadas (ultima atualização 20/10/08) mas ainda assim é o único lugar onde acho esse tipo de informação além do próprio site do PETA que divulga lista de empresas internacionais.

Obrigada pelas informações divididas nesse blog e pelo canal de comunicação ;)

Beijos Camila

Lerivan Ribeiro
http://www.YogaKobrasol.com.br | [email protected] | 189.101.252.44

Esta é a lista da PEA – Projeto Esperança Animal
Produtos Não Testados em Animais

http://br.geocities.com/testesemanimais/site.html

Daniel Tonet – Goiânia / GO
http://www.yoga-go.com.br | [email protected] | 201.22.179.89

Oi, Mestre. A Revista dos Vegetarianos publicou na sua décima quinta edição uma matéria com oito opções de desodorantes formulados à base de produtos naturais e com garantia de que não foram testados em animais:

Energy Fresh – Nivea
Carpe Diem – O Boticário
Pump Blue – Giovanna Baby
Deódorant Hypoallergénique – Anna Pegova
Avanço – Monange
Desodorantes Salvia, Rosa e Citrus – Weleda
Stick Refrescante Verbena – L’Occitane
Talco antisséptico – Granado

Para ler a matéria completa: http://www.europanet.com.br/revistadigital/viewer/?id_produto=9946015

Alessandra Dorante
[email protected] | 82.155.154.222

Oi Dê!
Aqui vai um site que lista as empresas que testam e as que não testam em animais:
Caring Customer.
beijos,
Alessandra

Felipe Lengert
http://lapidatio.wordpress.com | [email protected] | 189.123.206.199

Olá Mestre,

tem um vídeo interessante no YouTube intitulado Save the Planet, que fala um pouco sobre a hipocrisia de querer salvar as baleias, o planeta, quando o objetivo é salvar a nós mesmos.

httpv://www.youtube.com/watch?v=X_Di4Hh7rK0

Um pouco controverso mas vale a pena. Também escrevi algo sobre isso no meu blog.

Um forte abraço

Fernanda Neis
http://yoganosjardins.com.br | [email protected] | 201.6.49.73

Tem uma marca que é ótima, de cosméticos e coisinhas cheirosas e também não usa nada de origem animal e nem faz testes em animais.
Se chama Body Shop e infelizmente não tem no Brasil e nem na Argentina. Sempre que eu vou à Europa ou EUA, refaço o meu estoque e trago de presente para os amigos. Vale a pena conferir.
Beijos

Juliana Viscone
[email protected] | 189.100.107.149

Olá!
Tem também a Ecologie, uma marca de cosméticos bem fácil de encontrar no Brasil que não testa em animais.
http://www.ecologie.com.br
Beijos!

Lerivan Ribeiro
http://www.YogaKobrasol.com.br | [email protected] | 189.101.252.44

Existe um documentário muito bom sobre os testes feitos em animais: “Não matarás”, do Instituto Nina Rosa.
Para quem ainda não viu confira no you tube, são 7 partes.
http://www.youtube.com/watch?v=wvyEbQa0-E0&feature=PlayList&p=1C96C0202EDB3CB8&index=0&playnext=1

Fiquei muito indignado quando assisti a este documentário.

 

 httpv://www.youtube.com/watch?v=SITqq48ZMDI

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sexta-feira, 23 de janeiro de 2009 | Autor:
Extrato do nosso livro Quando é Preciso Ser Forte

A partida para a Índia

Chegado o momento certo deixei Paris e voei para Delhi. Foi um choque cultural enorme, contudo, bastante ilustrativo.

A primeira emoção foi sobrevoar o deserto de Thar. O avião voava a 900 km por hora e já havia quase meia hora de areia, às vezes clara, às vezes avermelhada, mas, por certo, sempre escaldante. Num dado momento, um oásis! Que sensação indescritível. Reagi quase como se estivesse caminhando lá embaixo, sedento. Era só um tufo de pequenas palmeiras e grama verde, mas… que imagem bonita e tão rica em vida, comparada com aquelas areias estéreis e inclementes.

Às vezes aparecia um povoado em torno de um oásis, outras vezes sem ele. Dava para enxergar as trilhas de camelos, marcadas na areia mais dura, como verdadeiras estradas, tão longas que perdiam-se no horizonte sem um cruzamento sequer. Todos já vimos isso em fotos ou filmes, mas estar ali em cima era outra coisa. Nas rarefeitas aldeias, aquela gente isolada do mundo, vivia de quê? Se não havia agricultura, água, matérias primas? Viveriam só de pastorear cabras, a um calor de 50oC de dia e 10 negativos à noite, e nunca pensaram em sair dali?

Começaram, então, a aparecer nacos esparsos de vegetação desértica, amarelada. Ao longe, uma visão inesquecível: o fim do deserto. Eu imaginava que os desertos fossem acabando pouco a pouco, com a modificação gradativa do tipo de solo. No entanto, visto lá de cima era impressionante. Aquele deserto acabava de repente, numa linha bem demarcada, onde as areias bruscamente paravam. Vegetação verde, estradas asfaltadas e uma incrível multiplicidade de vilarejos, marcava o início da, assim chamada, civilização.

O oposto dessa experiência foi um outro voo, sobre os Himálayas. O avião estava poucos metros acima das geleiras e uma senhora perguntou ao comissário de bordo, por que estávamos voando a tão pouca altitude.

– Não estamos voando baixo, madame. As montanhas é que são muito altas!

Que coisa linda! Milhares de quilômetros de montanhas cobertas de neve, enrugadas, comprimidas umas contra as outras, algumas altivas, destacando seus picos majestosos. De um lado batia o sol e do outro havia sombra, num contraste de cores enriquecido pela dinâmica da aeronave, proporcionando um espetáculo inimaginável. E saber que, tal como no deserto, não havia quase ninguém lá embaixo, a não ser o Yeti e uma ou outra aldeia encravada num vale. E estes, como será que sobreviviam ali? O ser humano é mesmo obstinado!

Em minhas viagens passei por mais uma experiência que eu gostaria de repartir com você. Já assistiu a um pôr-do-sol que não acabasse? Estávamos viajando numa direção em que acompanhávamos o sol em seu descenso. O céu ficara alaranjado e violeta em toda a extensão da linha do horizonte. O sol, vermelho, podia ser observado sem ferir os olhos e estava descendo lentamente. Dentro do avião, tudo parou para observar o crepúsculo. Exclamações de admiração e cliques de câmeras pipocando, longe de perturbar, até enriqueceram a magia do momento. Só que o “momento” não terminava! Habituados à curta duração de um fenômeno assim, visto do chão, todos a bordo comentavam a beleza que estava sendo, poder observar à vontade e ainda jantar à luz desse pôr-de-sol que durou quase uma hora.

Tudo isso move a minha gratidão à profissão de instrutor de Yôga. Se não fosse por ela, eu não teria podido viajar tanto e vivenciar experiências tão fascinantes.

Outra grande emoção foi quando os trens de aterrissagem do avião tocaram o solo da Índia. Senti-me comover. Eu estava mesmo na Índia, aquele país legendário do qual ouvira falar desde criança. A Índia dos filmes de aventura, dos contos fantásticos e dos livros de Yôga. A Índia dos faquires e dos marajás, dos elefantes e dos templos. E eu estava lá!

Dali para frente foi um misto de surpresas e decepções, alegrias e tristezas. Afinal era como devia ser, pois a Índia tornou-se conhecida como o país dos contrastes.

Primeiro, fiquei um pouco embaralhado com a confusão à saída do aeroporto. Todos os indianos são tão solícitos que um quer levar a mala, outros querem providenciar o táxi e mais uns quantos disputam para indicar o hotel. Dei azar. Aceitei a indicação do mais simpático e acabei num hotel tão distante do centro de Nova Delhi que parecia outra cidade. No dia seguinte mudei-me para um mais bem localizado e menos dispendioso. Se um dia você for a Delhi, é aconselhável ficar em algum hotel próximo a Connaught Place e Janpath Street, onde estão situadas quase todas as coisas mais importantes de Nova Delhi para o viajante: companhias aéreas, agências de turismo, o Tourist Office do Governo, restaurantes, cinemas e um variadíssimo comércio de artesanato, tecidos, roupas, estatuetas, pinturas, incenso, instrumentos musicais, henna, japamalas e tudo o que a sua imaginação nem conseguiria pressupor. Livros, não. É melhor comprá-los em Velha Delhi, na livraria Picadilly Circus.

Adorei a comida da Índia desde o primeiro instante e, como eu, todos quantos a conheceram. Além de saborosíssima, pode-se aceitar o que vier, pois o país é vegetariano e não há perigo de a comida vir com carne de boi, de peixes ou de aves. Por outro lado, se o paladar é superlativo, precisei me adaptar a um pormenor. Tudo vem hipercondimentado com gengibre, cominho, cravo, canela, cardamomo, coentro, curry e chili. Este último é mais ardido que a própria pimenta baiana. Como ainda não estava habituado a comidas tão ricas em especiarias, no segundo dia pedi uma salada de vegetais crus, pois assim, pensava eu, viriam seguramente sem tempero. De fato, recebi uma salada sem sal, sem azeite e sem tempero algum. Comecei a comer e gostei, apesar da falta total do paladar exacerbado dos condimentos. A fome é o melhor tempero. Com apetite, localizei, lá no meio, uma pequena vagem verde. Simpatizei com a cara daquela vagenzinha tão inocente. Mastiguei e engoli. Era o próprio chili! Nunca na minha vida havia tido uma sensação igual… parecia que ia morrer. Imaginei que beber ácido sulfúrico não devia ser pior. Salvou-me uma garrafa de refrigerante, que sorvi de uma só vez.

Tendo passado por esse batismo de fogo (literalmente de fogo), segui no meu curso de Índia. Nos primeiros dias, era pôr o pé na rua e constatar que mais uma falsa imagem ruía. A primeira fora a alimentação, pois os livros de Yôga, em geral, aconselham usar pouco condimento. Mas mesmo as escolas e mosteiros mais espartanos serviam a comida com um paladar bem requintado e forte. Aí, entendi: para eles, aquilo é que era pouco condimentado. A culinária ocidental seria considerada “à moda de isopor”.

Outra fantasia da nossa desinformação é supor que os indianos comuns tenham conhecimento de sânscrito. O sânscrito para o hindu é como o latim para nós. Tentei comprar um dicionário de sânscrito, mas não foi fácil encontrar. A cada livraria era o mesmo ritual: eu chegava, o livreiro vinha solícito, com um sorriso nos lábios. Porém, quando lhe pedia o dicionário, ele fechava a cara, respondia rispidamente que não tinha e virava as costas. Pensei até que tivessem alguma coisa contra o sânscrito. Depois descobri: é o jeitão do indiano. O sim, diz-se com muita amabilidade e o não, com rispidez. Faz parte da dramatização da linguagem. Após ter compreendido isso, não me aborreci mais. No nosso país é diferente. Quando precisamos dizer não, fazemo-lo com cara e voz de quem está desolado e, frequentemente, acrescentamos uma série de justificativas. Assim também já é demais.

Nós esperamos ainda que todo indiano entenda de Yôga. No entanto, um número relativamente pequeno de indianos dedica-se a essa filosofia. No Brasil temos proporcionalmente muito mais instrutores de Yôga do que na Índia, com mais de um bilhão e tanto de habitantes espremidos num território cerca de três vezes menor que o nosso.

Primeiramente, tinha que me ambientar e conhecer a cidade. Visitei templos de várias religiões (hindus, muçulmanos, sikhs, budistas, jainistas etc.), mercados, palácios, museus, ruínas, monumentos. Fui ao Memorial do Gandhi, erigido no local onde ele foi cremado. Visitei o Forte Vermelho, palco de tantas batalhas. Não podia deixar de conhecer o Qtub Minar, a torre inclinada da Índia, ao lado do qual encontra-se o poste de ferro construído há séculos, deixado desde então ao tempo e à chuva e, apesar disso, não enferruja. Essa curiosidade científica é comentada com algum sensacionalismo por Von Daniken em seu livro Eram os deuses astronautas?.

                                                           

Enfim, perfiz o indefectível roteiro de qualquer turista comum. A maioria fica por aí, dá-se por satisfeita e volta para cá cantando de galo, sem ter feito, visto ou aprendido absolutamente nada que prestasse em termos de Yôga.

Tão logo me familiarizei com o território, saí à procura dos bons Mestres. Em Delhi não fui feliz. Certamente, há boas escolas por lá, mas nessa primeira investida não encontrei nenhuma que satisfizesse as minhas expectativas. Eu dispunha de um catálogo publicado pelo Governo da Índia com os endereços de um grande número de entidades selecionadas, porém não senti empatia por nenhuma delas. Comecei então a colher indicações dos próprios indianos e verifiquei um consenso. A esmagadora maioria declarava que determinado professor era o melhor, embora seu nome não constasse do meu guia. No entanto, quando eu questionava:

– O que leva você a considerá-lo o melhor?

Todos, unanimemente respondiam:

– É porque ele vai à televisão(!).

Ora, também estou sendo seguidamente entrevistado pela TV, mas seria um demérito se o povo dissesse que sou bom Mestre somente por essa razão.

Em vista disso, preferi não conhecê-lo. Cansei de procurar na capital e decidi seguir para os Himálayas.

Aguarde a continuação: Os Himálayas

 

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