domingo, 24 de abril de 2011 | Autor:

Bem, o tópico número três desta série não é de abrangência mundial, pois até onde sei só influenciou o Brasil.

Desde 1960, ensinávamos o Terceiro Grau de Meditação, hoje restrito aos instrutores. No entanto, durante os primeiros vinte anos não havia instrutores suficientes (e nos dez primeiros não havia instrutor algum!) a quem pudéssemos transmitir esse ensinamento a fim de que não se perdesse. Então, transmitíamos aos alunos que, como todos sabem, sempre foram jovens em sua maioria.

Não vou dar aqui muitos dados, contudo os instrutores vão compreender perfeitamente bem. Os shástras hindus referem-se a som de grilos à noite quando praticamos essa modalidade de meditação. Ora, nós a ensinávamos abertamente desde 1960. Lá por 1970 já estava instalada pela juventude a expressão “esse cara é grilado” para designar os que praticavam Yôga e meditação, porque eram jovens que ficavam dando nó em pingo dágua, eram complexos, falavam de filosofia hindu…  Ou “não tem grilo” para expressar que não havia complicação. Também naquela altura, surgiu (principalmente em São Paulo) o termo “bicho-grilo” para designar os jovens hipongas, naturébas, que na época eram muito envolvidos com vegetarianismo e Yôga.

Mas ninguém sabe que fomos nós, do Método DeRose, que introduzimos mais essa gíria no nosso país.

sexta-feira, 15 de abril de 2011 | Autor:

Às vezes, não temos noção de como o Método vem influenciando o comportamento das pessoas de vários países ao longo das décadas. Conseguirmos influenciar o mundo a partir de propostas divulgadas em língua inglesa, é fácil. No entanto, tê-las tornado conhecidas a partir do português, isso foi realmente algo de que podemos nos orgulhar pela validade e impacto que contêm.

A partir da década de 1960, inspirados na filosofia Shakta e em esculturas hindus, começamos a propor a depilação pélvica total como sinal de civilidade, por razões estéticas e higiênicas. Como surgira no Rio de Janeiro, cidade de praia, a ideia foi muito bem aceita, pois facilitava a vida das mulheres. A partir do Rio, centro gerador de modas e tendências, costume se espalhou pelo país. No início, somente as praticantes femininas aderiram. Os homens queriam permanecer peludos. Depois, como é natural em uma cultura matriarcal, as mulheres passaram a educar os homens ensinando-lhes a adotar essa atitude, mais elegante e civilizada. Passados uns anos, essa prática brasileira ganhou o mundo e hoje é conhecida em vários países como brazilian waxing.

O brazilian waxing teve origem na Nossa Cultura, na escola do Rio de Janeiro, na década de 1960. Mas não foi só esse conceito comportamental que tivemos o privilégio de inserir no mundo. Continue frequentando nosso blog e você ficará impressionado com a abrangência e relevância do Método.

sexta-feira, 25 de março de 2011 | Autor:

O Prof. Camacho nos enviou o seguinte texto:

Encyclopedie des Arts Martiaux de l’Extreme Orient, de Gabrielle e Roland Habersetzer, uma referência ao Tándava. Encontra-se na entrada Kalaripayat. Diz o autor que ‘de acordo com a lenda, este estilo de combate provirá do Samhara-Tándava, dança da dissolução cósmica do deus Shiva, na qual existem movimentos de ataque e de defesa com base no princípio da dualidade Homem-Mulher (Shiva-Shaktí).’ (p. 290, edição de Setembro de 2 000).”

É possível que o casal Habersetzer tenha chegado bem perto e desenterrado dados do Shiva Natarája nyása com outro nome, ou de outra fonte. Sabemos que, por ser muito antigas, as tradições hindus se nos apresentam sob mais de uma versão. As próprias técnicas do Yôga surgem-nos com diferentes nomes. E as histórias da mitologia hindu não raro possuem duas ou três versões diferentes. Por tudo isso, fiquei bem otimista em face ao texto acima. DeRose.

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Querido Grande Mestre

Deixo-lhe mais alguma documentação que confirma os ensinamentos da nossa escola no que respeita ao Shiva Natarája nyása. Desde logo, Kim Min-Ho, doutor em antropologia e membor do CNRS (Centre nationale de la recherche scientifique) em França, no livro L’origine et le développement des arts martiaux. Pour une anthropologie des techniques du corps, afirma que «na Índia, existem métodos de combate estruturados, baseados nas técnicas de Yôga» (p. 24, edição de 1 999, ed. L’Harmattan).
Por sua vez, Patrick Denaud, no livro Kalaripayat. L’origine des arts martiaux (edição de 1996, Editions Budostore), declara alguns aspectos bastante interessantes. Desde logo que nesta arte marcial indiana »as técnicas utilizadas são próximas das do Yôga.» (p. 12). Sobre as origens do Kalaripayat diz esta autor que «se confunde por vezes com as origens do Yôga» (p. 15). Denaud refere uma das origens miticas desta arte marcial:
Mas o mais interessante é chegar, neste livro à secção “Limpeza e purificação do corpo”. Isto quando o autor começa a descrever as técncias utilizadas, como os pontapés, os socos, o ticro com arco, etc… Mas na limpeza e purificação este autor compila as seguintes técnicas:
Dhauti: «Empregam-se quatro procedimentos para purificar o corpo: a lavagem estomacal (antardhauti), a limpeza da cavidade bocal (dantadhauti), a limpeza da peito (hrddhauti) e a purificação do reto (múláshôdhana).» (p. 121). E indica ainda outra técnicas contidas no shat karma, nomeadamente vasti (p. 125), nêti (p. 126), laulikí (p. 126), trátaka (p. 126), kapálabhati (p. 126).

Um grande abraço

João Camacho

 

 

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011 | Autor:

Aquele que lê maus livros não leva vantagem sobre aquele que não lê livro nenhum. (Mark Twain)

Antes de se ter algum tipo de relação profissional com livros,
não se descobre quão ruim é a maioria deles. (
George Orwell)

Nos meus primeiros livros, eu recomendava uma bibliografia eclética e me orgulhava disso. Afinal, um estudante nosso travaria contato com uma profusão de autores e tradições. Depois de vinte anos de magistério, precisei reconsiderar minha posição. Hoje, são já mais de cinquenta anos de profissão e a postura adotada se mostrou positiva e saudável. É sabido que recomendo aos meus estudantes o cultivo de uma cultura geral bem abrangente através do hábito da leitura. Ocorre que a quase totalidade dos livros deste segmento embaralham Yôga com o que não é Yôga, misturam Yôga com sistemas apócrifos e mesclam Yôga com filosofias que são conflitantes com ele.

No afã de acrescentar mais alguma coisa, o autor frequentemente embaralha alhos com bugalhos, como foi o caso de um livro intitulado Mudrás, que começa descrevendo os mudrás do hinduísmo e no meio passa a ensinar mudrás de outras tradições, que não têm nada a ver com o Yôga. Só que a autora se esquece de deixar isso bem claro – pois não basta mencioná-lo en passant. Se o leitor tratar-se de um estudante em formação de instrutorado, quando formado ensinará aquela salada mista numa classe, sem nem sequer tomar conhecimento da barafunda. O pior é que tal comportamento tornou-se uma pandemia no planeta e todos acham que a misturança não tem nada de mais. No entanto, seria como ensinar um katí de Kung-Fu no meio de uma classe de Karatê, ou sair dançando gafieira numa aula de balé clássico. Uma verdadeira heresia!

Comecei a perceber isso bem cedo, mas demorei para tomar uma atitude porque estava com paralisia de paradigma e achava que, se todos faziam mesclas, não seria eu a adotar uma postura antipática, correndo mesmo o risco de exprobração pública.

Um dia, estava eu na sala do meu, então, editor (há muito tempo já não trabalho mais com aquela editora) quando fui apresentado ao jardineiro da empresa. Bem, ninguém me disse que ele era o jardineiro, mas suas roupas, seu linguajar e suas unhas o denunciavam. Entretanto, ao ser apresentado, meu editor declarou:

– DeRose, você conhece o Chico?

– Não –  respondi.

– Claro que conhece. Ele é o autor de sessenta livros desta editora, entre eles os livros sobre astrologia, numerologia, biorritmo, sucos, física quântica, maçonaria, reiki, florais, cristais, homeopatia, budismo…

Meio constrangido, supus que meu apressado julgamento anterior tivesse sido afetado pelo preconceito. Afinal, ele podia ter tido origem humilde, mas ser um gênio. Só que aí o editor acrescentou:

– Talvez você não o conheça de nome porque cada livro ele escreve sob um pseudônimo diferente. O da cura pelas frutas, por exemplo, ele assina como Dr. Fisher.

A essa altura comecei a considerar que meu julgamento original não estava tão mal assim. Se alguém já começa um livro mentindo sobre o seu próprio nome, quanto mais não inventará no conteúdo? Mesmo assim, dirigi-me ao profícuo escritor e lhe perguntei:

– Como você consegue escrever tanto? Eu levo anos para finalizar um livro!

Sua resposta foi surpreendente:

– É simpre. Eu a uma bisbilhoteca e pego tudo o que eles tiver sobre quarqué assunto que me parece com o tema do meu futuro livro. Levo os volume pra casa, abro tudo em cima da mesa e vô copiano uma frase de um, uma frase do outro… Em uma semana o livro tá prontim. Adespois a editora faiz uma revisão e tira os erro de portuguêis.

Fiquei tão ultrajado que nunca mais quis editar um livro meu por aquela editora. Sim, porque senti que eu estava sendo julgado um elemento da mesma laia daquele vigarista, enganador, plagiador e mais uma porção de adjetivos que não me permito escrever. Ainda expressei minha indignação antes de deixar para sempre a referida editora. Mas a justificativa do editor foi o pior:

– Esse é o mercado, DeRose. Um livro não vende mais por ser mais sério. Ele vende mais por dizer as mentiras que as pessoas querem ouvir, por ter um título apelativo e uma capa da moda.

Foi então que resolvi provar que obras sérias poderiam vender bastante e dediquei a minha vida a escrever e divulgar tais livros. Foi também, a partir de então, que nunca mais indiquei aos meus alunos ou leitores uma seleção bibliográfica qualquer, e passei a recomendar estritamente os livros que são realmente confiáveis. Reduzi a recomendação a cerca de 50 livros que incluem autores de várias linhas de Yôga, mas todos eles escritores íntegros.

Quanto às traduções, quando há mais de dez anos um livro meu foi traduzido na Espanha, ao efetuar a revisão encontrei nada menos que 3500 erros! Alertado por mim, o editor conseguiu corrigir 90% deles, o que significa que, ainda assim, o livro foi publicado com 350 erros. Que tipo de erros? Em certa passagem eu escrevi que determinada técnica era para bombear comburente para os pulmões. Referia-me, obviamente, ao oxigênio, que iria acelerar as queimas de gorduras e intensificar a característica ígnea da kundaliní. A tradutora fez constar que era para bombear combustível para dentro dos pulmões. Imagine uma coisa dessas lida por uma pessoa inculta, ou muito crédula, ou um pouco desequilibrada. Não duvido que obedecesse à risca e fosse capaz de bombear gasolina para dentro dos pulmões! Conclusão: as traduções mal feitas são perigosas e praticamente todas as traduções são mal feitas, donde surgiu o ditado “tradutore, traditore“.

Faço questão de revisar meus livros em espanhol, francês, inglês e italiano, línguas que conheço o suficiente para detectar erros de conteúdo. No entanto, sei que os demais autores não têm esse cuidado nem dominam outras línguas. O português, por exemplo, nenhum deles fala (ou falava, quando vivo). Além disso, a maioria já havia falecido à época das traduções. Calcule a quantidade de erros que coalham seus livros. Isso já descartaria da nossa lista as obras traduzidas. No entanto, sou obrigado a indicar algumas delas, respaldado no bom nome do autor e na impossibilidade do leitor médio brasileiro ler em inglês ou francês.

Os esclarecimentos deste artigo são para que você valorize os livros recomendados, para que você os leia primeiro e para que compreenda nossas reservas quanto ao aluno inexperiente e sem nenhum lastro cultural sair por aí lendo qualquer coisa.

Deve-se ler pouco e reler muito. Há uns poucos livros totais, três ou quatro que nos salvam ou que nos perdem. É preciso relê-los sempre e sempre, com obtusa pertinácia. E, no entanto, o leitor se desgasta, esvai-se em milhares de livros mais áridos do que três desertos. (Nelson Rodrigues)

terça-feira, 13 de julho de 2010 | Autor:

Mas como é na Índia?

Eu viajei para a Índia durante 24 anos. Frequentei vários tipos de estabelecimentos, desde as escolas até os mosteiros, dos mais sérios aos que já estavam contaminados pelo consumismo ocidental – e percebi as diferenças. Mas, em todos eles, ocorria um mesmo fenômeno. Os alunos indianos entravam na sala de aula com cara normal e roupa normal, muitas vezes praticando de calça e camisa. Os ocidentais, no entanto, pareciam um bando de alucinados que se destacavam dos hindus por serem os únicos a estar vestidos com “roupa indiana”, isto é, o equivalente àquelas camisas hipercoloridas e cheias de flores que os turistas estrangeiros usam no Brasil por acharem que aqui é assim que o povo se veste. Será que não percebem que nenhum brasileiro está portando aquelas camisas espalhafatosas, ou que nenhum indiano está vestindo a tal de “roupa indiana” (especialmente as famosas “saias indianas”, que nenhuma indiana veste)?

Durante a aula de Yôga, os hindus preservam a fisionomia de pessoas perfeitamente normais, sorriem, interagem com os colegas e com o instrutor, às vezes até fazem gracejos. Os ocidentais, pelo contrário, mantêm-se muito taciturnos, com cara de santo cristão e, às vezes, babam um pouco.

Frequentemente os instrutores que levei em minhas viagens, para conhecer o verdadeiro Yôga da Índia, observaram:

– DeRose, você já percebeu que os ocidentais ficam com cara de malucos quando entram numa sala de Yôga e que os indianos são como nós do SwáSthya e preservam a cara normal?

Pois é. Aí está o x da questão. O ocidental vai à Índia, olha, mas não vê. Ouve, mas não escuta. Tanto que volta falando “ióga”, embora todos lá pronunciem Yôga, com ô fechado. É uma questão de paradigma. O ocidental enfurnou no bestunto que Yôga deveria ser de uma determinada forma. Depois ele viaja para a Índia e não consegue perceber que lá é diferente do clima cristianizado, naturéba e alternativoide que grassa no Ocidente.

Uma das fantasias é que na Índia – e nas escolas de Yôga desse país – só se coma pão integral, arroz integral, açúcar mascavo e outros modismos ocidentais. Só que não é assim. Nas escolas de Yôga come-se muito bem, desfruta-se uma comida deliciosa (obviamente vegetariana!), bem temperada e, fora isso, normal. Certa vez, uma pessoa que estava no nosso grupo pediu arroz integral ao garçom do restaurante em Nova Delhi. O empregado trouxe arroz branco. A brasileira mandou voltar e instruiu-o com mais ênfase:

– Olha, meu filho, eu quero arroz integral, compreendeu? Arroz in-te-gral!

O coitado voltou com outra porção de arroz branco. Percebendo que não agradara, explicou:

– Mas o arroz está inteirinho, Madame. Eu mesmo ajudei o cozinheiro a catar só os grãos que não estavam quebrados.

Hoje já há alguns estabelecimentos com opções integrais para atender a turistas, assim como já existem escolas de Yôga para satisfazer os devaneios dos que pagam bem para que lhes vendam o que eles querem comprar, ou seja, aquilo que o ocidental pensa que o Yôga é.

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sábado, 10 de julho de 2010 | Autor:

O outro lado do encontro com o Mestre

 

Estou com 18 anos de idade. Leciono Yôga desde os 16. Pratico Yôga há 5000 anos. “Nestas roupagens e nestas paragens” não sei ao certo quando comecei. Foi gradual. Um dia, um mudrá. Noutro dia, um pránáyáma. Noutro mais, um dhyána. Mais tarde, assisti à entrevista de um desportista que praticava coisas semelhantes às minhas e declarou que aquilo era Yôga. Certa vez, caiu-me nas mãos um livro de Rája Yôga, de Vivêkánanda. Nele, encontrei uma série de conceitos e técnicas que vinha desenvolvendo sozinho. Suspirei aliviado: “Então eu não era maluco! Havia mais alguém que pensava como eu!” Com o livro, descobri que aquilo já existia e tinha nomes em sânscrito.

Em pouco tempo devorei centenas de livros. Não apenas os de Yôga, pois esses citavam outros e eu recorria também a eles como fonte de apoio e conhecimento. Logo percebi que a maioria era puro engodo ou devaneio de seus autores. Contudo, no meio havia obras sérias e respaldei-me nessas. Hoje, aos 18, já li toda a bibliografia disponível e pratiquei tudo o que podia, com uma disciplina espartana. Sou estudante, vivo com meus pais, portanto, não preciso trabalhar para viver. Dedico tempo integral ao Yôga, inclusive o período escolar, pois passo as aulas de Física, Química, Matemática, Latim, a estudar os livros de Yôga.

Para que meus amigos não interferissem convidando-me a passeios, festas e namoros, pedi aos meus pais que me matriculassem no colégio interno, assim poderia praticar mais. Tive um grande progresso no desenvolvimento da musculatura e no incremento da saúde. Consegui um avanço razoável quanto às paranormalidades e estados de consciência. Mas estaria no caminho certo?

Todos os livros enfatizavam a necessidade de ter um Mestre de carne e osso. Então, procurei alguns autores de livros de Yôga. Mas, ao expor-lhes minhas experiências e estados de consciência expandida conquistados com a prática, todos, sem exceção, assumiam uma atitude de falsa humildade e diziam: “Oh! Quem sou eu para lhe ensinar? Eu não sei nada sobre Yôga. Não posso ser Mestre de ninguém.” Até que um dia perdi a paciência e questionei:

– Se você não sabe nada, como é que ousou escrever um livro sobre Yôga? Estava plagiando outros autores? Ou estava inventando? Acaso não sabe que, ao publicar isso, as pessoas leem de boa fé e acreditam nas suas palavras, nos ensinamentos de quem “não sabe nada”?

Não percebi na hora, mas esse meu desabafo feriu o orgulho disfarçado daquele professor e ele viria a se tornar um arquiinimigo implacável pelo resto da vida. Como ele era um homem poderoso durante a ditadura, desencadeou em todos os adeptos da ióga um hábito de me excluir, perseguir e difamar. Depois, um imitava o outro sem saber nem por que o fazia, mas agia assim porque “cão mordido, todo o mundo quer morder”.

Continuei praticando sozinho. Não obstante, alguns autores hindus alertam para os perigos de praticar só. Notei logo um problema. Meu ego foi tão esvaziado que começo a ter dificuldades de conversar com as pessoas, pois não consigo mais conjugar os verbos sem a primeira pessoa do singular. Como dizer “eu gosto de você”, sem o eu? Ainda que não pronunciasse a palavra eu, esse sujeito estaria oculto na frase, mas estaria lá – pois não há sentença sem sujeito. Teria que usar construções como “este ser gosta de você” ou “este corpo está com fome”. Mas aí, mesmo meus alunos de Yôga considerariam muita excentricidade. Então, fico calado. Afinal, não eram os próprios monges hindus que louvavam o silêncio? Alguns desses swámis recomendavam: “Quem pratica Yôga fala o mínimo possível para não gastar energia, e não sorri pelo mesmo motivo”. Só que outros livros criticam essa atitude, denunciando que o Yôga nunca aconselhou tal coisa e que os monges afirmavam que sim por viver num monastério – que é sabidamente lugar silencioso – e confundiam a norma monástica com o Yôga em si.

Os que criticam a austeridade dizem que tal comportamento poderia conduzir a distúrbios psíquicos, alienação, perda de contato com a realidade. Estaria eu descambando para um caminho errado? Só um Mestre de carne e osso poderia me orientar, mas não há ninguém!

Li, em vários livros, histórias de discípulos que contestavam seus Mestres, que os desobedeciam ou traíam. Que ingratos! Tudo o que eu quero na vida é ter um Mestre, e eles o têm e desprezam-no!

Estou tão só na senda! Às vezes, elevo o pensamento ao meu Mestre, pois ele deve existir e deve estar em algum lugar. Imploro-lhe que me apareça e não consigo conter a emoção: as lágrimas lavam-me o rosto.

Começam as férias escolares. Passo a praticar muito mais. Acordo às 3 horas da manhã para iniciar as práticas às 4 em ponto na praia deserta. Apesar do verão, a essa hora faz frio. Mas sou um brahmáchárya cumpridor. Controlo o frio, o calor, a fome, a sede, o sexo, a dor, tudo… Algo me diz que isto não está certo. Ir contra a natureza não pode ser saudável. No entanto, os livros que apoiam essa minha convicção são poucos. A maioria é extremista. O que fazer? A quem recorrer? Não quero ser indisciplinado, portanto, evito a colocação: “eu não concordo”. Quem sou eu para não concordar? Devo recolher-me à minha insignificância de discípulo e acatar tudo. Porém, estou apenas seguindo livros. Se eu encontrasse um Mestre que me dissesse o que fazer, poderia assumir uma posição definida. Se ele me dissesse que estou errado e que é preciso negar a Natureza e exercer controle absoluto sobre minha sensorialidade eu prosseguiria nessa linha sem pestanejar. Ou, se ele ensinasse que a Natureza deve ser observada e que nosso comportamento deve ir a favor e não contra ela, eu pararia de me violentar como conseqüência da leitura de livros de linha vêdánta-brahmáchárya.

É difícil compreender que alguém contando com a felicidade de ter um Mestre, possa desacatar sua orientação. Deve ser ego! Muito ego! Quando o discípulo está pronto o Mestre aparece. Então, eu não devo estar pronto. Quem sabe, eu iria questionar e desobedecer. Talvez, até trair? Não! Trair, não!

Passei a dedicar longas horas a um honesto exame de consciência para saber se esse é o problema. Para descobrir se o Mestre não aparece por eu não ter ainda a maturidade, a disciplina, a fidelidade que se precisa devotar ao Mentor.

Lembrei-me de um desenho que fiz quando era mais novo, de um rosto ancião. Seria ele? Teria eu capturado sua imagem diretamente dos planos superiores? Por que, então, não o vejo? Por que não o ouço? Que droga!

Desenvolvi algumas aptidões, mas nenhuma delas me permite ver coisas ou ouvir os seres dos planos sutis. Afinal, as pessoas do ambiente que freqüento nas fraternidades espiritualistas, restaurantes vegetarianos e livrarias orientalistas, todos vêm e ouvem uma profusão de Mestres, entes e coisas. Aprendo muito com a intuição, porém, devo convir que ela não é tão espetacular quanto a clarividência e a clariaudiência. Contudo, semana passada (julho de 1962), conversando com um aluno meu de Yôga que é psiquiatra, tive a satisfação de saber que não ver nem ouvir coisas me deixa mais perto da faixa da normalidade. Já é um alívio. Então, me conformo. Mas só um pouco.

Escrevi um texto que leio todas as noites, no qual comprometo-me a respeitar, amar e acatar tudo o que vier do meu Mestre, se eu vier a ter um, mesmo as reprimendas e punições, com a mesma humildade e carinho:

Compromisso de fidelidade.

Ao meu Mestre, prometo valorizar seus ensinamentos e cumpri-los sem questionamento. Prometo ser leal e fiel. Prometo ser grato por tudo, para todo o sempre. Mesmo que eu não possua lucidez ou evolução suficientes para compreender, prometo acatar suas palavras e retribuir com lealdade, fidelidade e serviço. Meu lema é Aprender e Servir. Ainda que o Mestre me imponha as mais duras provas e as mais ríspidas punições, prometo aceitar a tudo com humildade. E, por piores que sejam as sanções, meu amor pelo Mestre será preservado e crescerá a cada dia.”

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terça-feira, 15 de junho de 2010 | Autor:

Na verdade, não mudamos nada. A grande novidade é que não temos novidade nenhuma. Com o incremento do Método DeRose, apresentamos uma nova abordagem, mas o conteúdo é antigo e nada mudou. Trata-se de apenas uma visão mais expandida, uma outra percepção da mesma cultura, só que agora, sem estarmos espremidos e asfixiados pelos estereótipos da civilização ocidental que não nos permitiam ser compreendidos pelos nossos amigos e familiares, pela sociedade e pela Imprensa, que nos enxergavam sob a lente colorida e distorcida de um fundo de garrafa por causa do rótulo oriental carregado de pré-concepções.

Como algumas pessoas só leem os posts mas não se deteem nos comentários dos colegas, vou transcrever, abaixo, aos nossos leitores, algumas respostas dadas por eles. Acho que elas podem vir a ser úteis e esclarecedoras para muita gente.

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Fiquei bem feliz com o seu comentário, Emerson. É isso mesmo. Você compreendeu cem por cento. Eu só não diria que “hoje mudou”, porque na verdade não mudou nada. Apenas tomamos consciência de que nestes 50 anos de magistério o Método foi se formatando e se expandindo muito gradualmente, de forma natural, e num dado momento assumimos que fazemos outra coisa. Mas que essa coisa, o Método, continua contendo o Yôga em seu acervo, na parte das técnicas. Por isso, em sala de classe, continuamos pronunciando a palavra mágica. Por isso, continuamos escrevendo e publicando livros sobre esse assunto. Apenas precisamos compreender que o Método engloba essa filosofia hindu milenar, mas não se restringe às suas técnicas e abrange muito mais. O “muito mais” são os conceitos, proporcionando uma visão livre de estereótipos, sem sânscrito e que nos permitirá mudar o mundo. Os conceitos são propostas comportamentais que nos permitem reeducar todos quantos estiverem receptivos para melhorar e crescer, inclusive em civilidade, responsabilidade social e consciência ambiental. Os conceitos juntamente com as técnicas constituem uma cultura. Por isso é importante ter claro que não mudamos nada. Não há nenhuma novidade no conteúdo. É uma nova abordagem de um conteúdo antigo que preservamos com muita reverência. Um beijão para você e seja bem-vindo de volta à egrégora que lhe tem muito afeto.

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luis roldao
Unidade Marquês de Pombal – Lisboa – Portugal

Bom dia, Mestre!

Os jovens hoje estão a começar todas as experiências mais cedo, inclusive as mais destrutivas. Mas entre as aceites pela sociedade, estão sempre a inventar outras, como por exemplo misturar medicamentos.
Mas a ideia que me vem à cabeça é o título daquele post “Nós não temos ideia da nossa relevância”. Com toda a segurança é muito mais forte do que nós nos apercebemos, diariamente. Mesmo há pouco tempo, uma das novas alunas comentava isso comigo, a alegria de todos sem ser preciso beber álcool ou tomar drogas. É lindo!

Grande abraço
Luís Roldão – Unidade Marquês de Pombal/Lisboa

Sempre digo que se tudo o que propomos (respiratórios, técnicas orgânicas etc.) fosse uma inóqua ilusão, ainda assim nosso trabalho mereceria todo o apoio dos pais, da sociedade e da imprensa unicamente pelo fato de manter tantos jovens longe das drogas, do fumo e do álcool.
Um forte abraço, Luís.

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Sou praticante do Centro Cívico.
Vamos ver se eu entendi…
Afirmo, ao indagador, que pratico o Método DeRose no lugar de Swásthya Yôga. Que faço coreografia do Método DeRose e não coreografia de Swásthya Yôga. Não digo a palavra mágica (Yôga) quando mencionar o Método DeRose.
Estou com uma dúvida: No dia 18 de fevereiro que é o dia do Yôga, tenho que evitar associar o termo Yôga com o Método no dia ou vai ser mudado para dia do Método DeRose? Ou então o que digo, uma vez que eu sempre faço a prática no parque aqui em Curitiba neste dia e sempre tem a imprensa entrevistando os praticantes?
Abraço. Alceu

Muito boa questão, Alceu. Muita gente deve estar com a mesma dúvida. Lá vai o esclarecimento:
Quando se tratar de Yôga (por exemplo, quando se comemora o Dia do Yôga) não se menciona Método DeRose. Continuaremos publicando livros de Yôga. Neles, a palavra Yôga, obviamente, aparece. Nesse caso, evitamos usar Método DeRose no texto dos livros. Esse tropeço ainda acontece, mas vamos limpando aos pouquinhos. Numa aula de Yôga, de SwáSthya, dizemos essa palavra várias vezes porque aí estamos tratando da parte técnica do Método e o Yôga está embutido aí, na parte técnica. Assumimos com os nossos alunos que essa palavra pode ser usada sem restrições dentro das nossas escolas, pois quando um de nós verbaliza “Yôga” o outro entende e sabe a quê estamos nos referindo; mas da porta da escola para fora, não usaremos a palavra mágica com os nossos amigos, conhecidos, desconhecidos, colegas de trabalho ou familiares, porque eles entendem outra coisa completamente diferente por essa mesma palavra – e talvez seja isso que ainda está faltando: que os nossos instrutores dêem esta explicação, desta forma, aos seus alunos.
Obrigado por nos ajudar. Um forte abraço para você.

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Luisa Sargento

Mudando um paradigma

Dizem que o Homem é um animal de hábitos e, como tal, usamos isso como desculpa para sistematicamente não acompanharmos o ritmo DeRose, sem perceber o quanto isso prejudica o trabalho geral da egrégora e todo o esforço do mentor para nos levar na direcção certa.

Quem já utiliza o Método DeRose, quando se refere à Nossa Cultura, sabe o interesse que desperta no outro e como isso marca o diferencial, abrindo portas para actuarmos e mostrarmos quem somos e o que é a Nossa filosofia de vida.

Já todos comprovámos o que a palavra mágica induz no outro e como isso prejudica o nosso envolvimento na sociedade e fico muito admirada quando observo que, apesar disto, alguns de nós continuam a usar a dita palavra que se refere apenas à técnica e não engloba os conceitos comportamentais nem teóricos usados por nós.

Ora se nós estamos a caminhar para uma Nova Abordagem de três filosofias ancestrais, cujo nome erudito engloba a tal palavra mágica, mas não queremos que os estereótipos de abordagens diferentes nos acompanhem, temos de urgentemente mudar o paradigma e usar o nome real daquilo com que trabalhamos, sem confundir quem nos ouve.

Um exemplo:
eu chego a uma loja de cupcakes e pergunto à empregada se são queques e ela responde: são uma espécie de queques!
O que é q eu vou pensar: ah afinal são só queques!!!

A mesma situação com resposta diferente:
eu chego a uma loja de cupcakes e pergunto à empregada se são queques e ela responde: não, são bolos que levam estes ingredientes e são ornamentados desta forma, conferindo um aspecto fantástico e um sabor maravilhoso!
O que é que eu vou ficar a pensar: uau vou experimentar, até que os ingredientes são parecidos com os dos queques mas parece-me que são algo mais e não apenas um queque banal.

Assim, acho que temos todos seriamente que pensar no assunto e fazer tudo com a consciência que o Nosso Método nos induz, tendo em atenção os detalhes e actuando de forma profissional, atenta e responsável, pois se assim não for prejudicamos uma egrégora inteira.

beijinhos para todos

Luísa.

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Mario Vendas

Olá Mestre,

Como está? Espero que esteja tudo maravilhoso!

Aproveitando o link deste assunto, será que não corremos o risco da imagem visual do nosso logótipo (o yôgin) passar uma mensagem associada à famigerada palavra mágica?

Queremos afastar a ligação da palavra mágica do Método porém, na mensagem visual podemos criar uma brecha para que possa acontecer isso mesmo, isto pela forte associação da imagem com a palavra em questão.

Penso que ao mantermos o desenho do yôgin ligada à nova abordagem, seria como querer que as pessoas associassem a cor vermelha do semáforo com uma nova perspectiva: de avançar.

Espero que tenha conseguido passar esta perspectiva da melhor forma.

Com admiração,

Mário Vendas

Querido Amigo, ainda estamos em fase de transição. Quase concluída, é verdade, mas todas estas dúvidas que estão sendo respondidas nos trazem à realidade de que a mudança de paradigma está em curso. O ícone do yôgin estabelece o link. Está previsto para em algum momento no futuro não usarmos mais esse ícone. Talvez seja substituído pela nossa flor-de-lis. Talvez por outra coisa. Talvez por nenhum símbolo. Ou, ainda, talvez, quem sabe, permaneça – já que ficou tão bonito. Esperemos que no futuro a palavra mágica e os conceitos a ela atrelados passem a ocupar uma posição mais justa e perfeita na percepção da opinião pública e da Imprensa.

Quanto ao fato de que a presença do yôgin no logo do Método seria como se acendêssemos a luz vermelha de um semáforo e quiséssemos que as pessoas avançassem, devo lhe informar que no Brasil é assim. A luz vermelha do semáforo significa  avançar com cuidado (extra-oficialmente, é claro!). É o que estamos fazendo com o ícone do yôgin.

Um beijão para você, Mário. Suas contribuições neste blog são sempre muito importantes.