Olá Mestrão.
Estamos nos preparando para receber muita gente para o próximo DeRose Culture in New York. Será de 8 a 10 de outubro de 2010, próximo ao feriado nacional no Brasil e Argentina.
Recomendamos que providenciem passaporte e visto para os EUA (aos que não são da Comunidade Européia). Segundo a experiência dos amigos que recentemente passaram pelo processo, está fácil conseguir o visto de turista.
Estamos selecionando os docentes para ministrar vivências, instrutores assistentes para ashtánga sádhana em inglês e demonstradores de coreografia para o evento. Please, escrevam para mim [email protected] .
Vejam neste vídeo como foi fantástico nosso DeRose Culture in New York 2009!
httpv://www.youtube.com/watch?v=6BSmHt6yPMc
Kisses a todos,
Marcelo Tessari
DeRose Method Studio in SoHo – NY
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Na Índia, os mágicos pertencem a uma sub-casta específica e seus truques vêm sendo ensinados de pai para filho há centenas de anos. Graças a isso, desenvolvem sua arte até às raias do impossível. E fazem-no sem nenhum recurso tecnológico, pois exercem na rua, no chão de terra, onde não há possibilidade de truques com espelhos ou fundos falsos.
Em uma das viagens, nosso grupo foi abordado na rua por um desses mágicos, que logo propôs:
– Se não gostarem não precisam pagar.
Aceitamos, mesmo sabendo que acabaríamos tendo que pagar de qualquer jeito. Sentamo-nos em círculo e ele no meio. Começou com o truque elementar das três cabaças e uma bolinha de pano, para que a assistência adivinhasse sob qual delas estaria a bolinha. Mostrou as cabaças e a bolinha. Todos as examinaram. Ele colocou a bolinha sob uma das cabaças e as embaralhou propositadamente devagar, sobre o chão de terra, na rua. Quando achou que bastara de movimentar as peças, perguntou:
– Onde está a bolinha?
Todos apontaram para a mesma cabaça, pois ele embaralhara tão lentamente que era fácil acertar. Ele levantou a cuia e… não estava lá! Olharam dentro da cabaça. Não estava mesmo. Bem, quem sabe, nesta outra? Também não. Então, tem que estar nesta última. Mas… também não estava! Ele explodiu numa sonora gargalhada. Olhou para o vento e invocou:
– Charlie!
Voltou-se para nós e mandou que recolocássemos, nós mesmos, as cabaças emborcadas no chão e as embaralhássemos. Aí levantou a primeira: a bolinha estava lá! Com um sorriso maroto levantou a segunda: também havia uma bolinha ali. Levantou a terceira: também estava lá. Outra gargalhada. E outra invocação ao vento:
– Charlie!
Mandou que puséssemos as três bolinhas sob uma só cabaça e embaralhássemos. Ficamos de olho. Ele foi direto nela. Levantou-a: não havia nada ali. Levantou a segunda: lá estavam as três. Levantou a terceira: rolaram tantas lá de dentro que depois foi impossível recolocá-las, pois não cabiam mais no mesmo espaço!
Era impossível. Não havia mangas, nem fundos falsos. Era dia claro e estávamos todos em torno dele, à frente, atrás, dos lados, com espertos olhos, observando atentamente. Pedíamos que repetisse e olhávamos todos juntos, bem de perto. Nada. O truque era mesmo perfeito.
Pegou uma bolinha e pôs na boca. Quando a retirou ela estava em chamas. Truque barato. Então soltou a fumaça que havia ficado na boca. Em seguida mais fumaça. E mais. E mais, mais, muito mais. Ficamos envoltos em fumaça saída da boca do mágico, como se ele fosse um dragão com dispepsia. Que truque poderia fazer aquilo acontecer diante dos nossos olhos?
Alguém lembrou-se de advertir:
– Cuidado com as carteiras e passaportes, que podem aproveitar o fog para fazer a limpa!
Aí, ele tirou uns pregos tortos e enferrujados de dentro da boca. A essa altura já não nos impressionávamos com isso. Mas ele começou a regurgitar uma quantidade enorme, infindável, de pregos enferrujados e secos. Sim, secos, sem um mínimo de suco gástrico. Não podiam estar vindo do seu estômago.
Depois, mandou que déssemos um nó num lenço. E que cada um puxasse de um lado para que ficasse bem apertado. Pegou o lenço numa extremidade, sacudiu-o e… o nó sumiu.
Após uma variedade de truques sofisticados, mandou que cada um de nós pensasse num perfume e em seguida friccionasse o dorso das mãos e cheirasse. Quem pensou em rosa, lá estava esse perfume. Quem pensou em jasmim, lá estava ele. Quem pensou sândalo, lá estava sândalo. Para nos precavermos contra a possibilidade de alguma hipnose coletiva, cada um cheirou a mão do outro sem saber em que perfume ele havia pensado. E constatamos: o perfume estava lá e conferia.
Sempre antes de cada fenômeno ele invocara o tal de Charlie. Então, contestamos:
– Assim não vale. Você disse que era mágico. Usando poderes paranormais e invocando o elemental Charlie, é fácil. Isso não é mágica: é siddhi.
Ele respondeu:
– Se me pagarem mais vinte rupias eu ensino o truque e aí vocês vão constatar que é ilusionismo.
Pagamos e constatamos. Era mesmo truque!
Já imaginou se um desses prestidigitadores quisesse fazer-se passar por Mestre espiritual, usando seus “poderes” para convencer as pessoas? É o que ocorre com muita frequência, tanto na Índia, quanto no Ocidente.
Dois sequestros no Oriente
Com tantos anos de viagens à Índia, era inevitável que alguns contratempos ocorressem vez por outra. Os mais inconvenientes foram sequestros dos aviões em que eu viajava.
No Irã
Em 1980, ocorreu a invasão da Embaixada Estadunidense no Irã e fizeram vários reféns que ficaram presos até 1981. Nesse ano, quando eu viajava novamente para a Índia, nosso avião desceu para abastecer na capital iraniana, Teerã, e as autoridades locais não permitiram mais que a aeronave decolasse.
Também não permitiram que os passageiros desembarcassem. Fazia um calor de quarenta graus. Os pilotos não tinham autorização para ligar as turbinas que acionariam o ar condicionado, o que tornou o calor insuportável. A água potável a bordo, acabou! Eu bendisse, mais uma vez, o fato de ter um excelente controle da sede. Os banheiros foram ficando cada vez mais emporcalhados, pois o uso do sanitário químico é previsto para um determinado número de utilizações, o qual foi superado cem vezes, pelo tempo e pelo medo que os passageiros sentiam. O mau cheiro na cabine era indescritível. As mulheres choravam, os homens tinham chiliques, pessoas passavam mal…
Não havia informações. Só sabíamos que as autoridades francesas estavam negociando por meios diplomáticos a nossa libertação. Hoje, imagino que foi uma sorte ter viajado pela Air France. Se tivesse sido pela Pan American, a situação teria sido bem pior.
De vez em quando uns militares passavam mandando que mostrássemos os passaportes. Nunca na minha vida gostei tanto de ser brasileiro. Eles foram bem rudes com os europeus e agrediram fisicamente os estadunidenses. Mas quando viram o meu passaporte – pasme! – foram muito cordiais, sorriram para mim e mencionaram o Pelé!
Lá ficamos por uma eternidade (o tempo não é distorcido pela emoção?). Finalmente, as negociações do Governo Francês deram certo e Teerã autorizou que o nosso avião levantasse voo. Pensei cá comigo: “Que ideia de jerico sair do conforto da minha casa e viajar para o Oriente! Nunca mais irei à Índia!” Mas, depois dessa experiência, voltei a fazer a mesma viagem por mais dezenove anos…
No Paquistão
Tempos depois, sobrevoando o Paquistão, passamos por um estresse ainda maior. Dois caças da Força Aérea Paquistanesa emparelharam com o nosso avião. Desta vez, era Pan American! Dispararam alguns tiros de advertência com seus canhões (víamos os projéteis traçantes passando rentes à fuselagem da nossa aeronave) e obrigaram o piloto a descer em Karachi.
Assim que aterrissamos, um pelotão armado invadiu a cabine de passageiros, recolheu os passaportes de todos, mandou que desembarcassem e entrassem nos caminhões do exército que estavam à nossa espera. Nesses veículos fomos conduzidos a uns alojamentos. Como era noite e estava muito escuro, não sei ao certo se eram instalações militares, se eram cárceres ou se eram quartos de algum hotel de duas estrelas abaixo de zero. Pedidos de informações ou de esclarecimentos eram respondidos com a coronha dos fuzis, como você já deve ter visto no cinema.
Trancaram-nos e nos deixaram lá a noite toda, sem alimento, sem água, sem comunicação uns com os outros. Eu dormi a noite toda, mas teve gente que não pregou o olho. Na manhã seguinte, fomos escoltados de volta para o avião, decolamos e fomos felizes para sempre!