Apoteose
Era madrugada e ele aguardava o alvorecer com uma moderada tristeza, mas pressentindo uma crescente alegria que brotava no mais íntimo do seu ser.
Olhou o céu, escuro, e desejou ser ele. Inspirou fundo e sentiu esse prazer nostálgico dos que partem.
Voltou seu pensamento aos que lhe eram caros e confirmou que só deixaria boas lembranças, carinho e afeto, como pegadas indeléveis na senda limpa que trilhou. E expirou aliviado, relaxou os músculos e penetrou na gratificante experiência do pós-vida.
Que leveza e frescor reconfortantes ao ficar livre dos grilhões da carne! Que paz! Eis que já era vento, brisa, alento… a caminhar silente pelas alamedas do eterno.
Ainda uma vez, voltou seu afeto aos que deixara no vale de lágrimas; e numa prece calada pediu ao Senhor que concedesse a cada um dos seus amados um passamento assim, pleno de felicidade e isento de remorsos.
Olhou para o alto e viu sua nova gente: seu Mestre que o aguardava de braços abertos e sua nova família incorpórea que o envolvia em eflúvios róseos de intenso amor:
“Há muito que te esperávamos. Deixaste-nos ansiosos por teu renascer. Mas serás, afinal, um parto fácil. Agora, vem descansar, tu o mereces.”
E por entre o brilho inconstante das inumeráveis estrelinhas de energia sutil, sentiu-se embalar pela harmonia das esferas entoada por um coro de sentimentos sublimes.
DeRose