sexta-feira, 23 de março de 2012 | Autor:

ÔM é o símbolo universal do Yôga, para todo o mundo, todas as épo­cas e todos os ramos de Yôga. No entanto, cada Escola adota um tra­çado particular que passa a ser seu emblema. Uns são mais corretos, outros menos; uns mais elegantes, outros nem tanto; e alguns são inici­áticos, outros, profanos. Isto pode ser percebido por um iniciado pela simples observação da caligrafia adotada, ou então prestando atenção no momento em que o símbolo é grafado.
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quinta-feira, 22 de março de 2012 | Autor:


Distintivo do yôgin

 

Um dia sonhei com meu Mestre ofertando-me um objeto carregado de força ancestral, algo que se materializara em meio a um torvelinho de luz dourada na palma da mão dele, bem diante dos meus olhos. Quando a névoa de luz se dissipou e pude ver melhor, era uma medalha muito bonita, com aparência bem antiga e gasta pelo tempo, detentora de uma magnificência e dignidade tão evidentes que saltavam aos olhos. No centro, pude reconhecer o ÔM, símbolo universal do Yôga, em sânscrito, escrito em alfabeto dêvanágarí.

Foi apenas um sonho, sem nenhuma pretensão a precognição. Mas um sonho nítido e forte, cuja lembrança permaneceu clara em minha memória por muito tempo. Leia mais »

quinta-feira, 15 de março de 2012 | Autor:

MEDITAÇÃO (DHYÁNA)

Meditação é uma palavra inconveniente para definir a prática chamada dhyána em sânscrito, já que essa técnica consiste em parar de pensar a fim de permitir que a consciência se expresse através de um canal mais sutil, que está acima da mente, mas o dicionário define meditar como pensar, refletir.

Na verdade, o termo dhyána pode ser usado tanto para designar o exercício de meditação, quanto o estado de consciência obtido com essa prática. Ela consiste em concentrar-se e não pensar em nada, não analisar o objeto da concentração, mas simplesmente pousar a mente nele até que ela se infiltre no objeto. “Quando o observador, o objeto observado e o ato da observação se fundem numa só coisa, isso é meditação”, dizem os Shástras. Portanto, o melhor termo em nossa língua para definir esse fenômeno é contemplação.

Por outro lado, não queremos alimentar o falso estereótipo popular de que os praticantes de Yôga sejam “contemplativos”. Assim sendo, essa palavra que melhor define dhyána torna-se inconveniente no momento atual.

Então, resta-nos uma outra designação. O estado de consciência que os britânicos do século XVIII arbitraram chamar de meditation é, na verdade, um tipo de intuição, ou seja, o mecanismo que possuímos para veicular a consciência, o qual está localizado acima do organismo mental. Intuição, todos já tivemos uma manifestação desse fenômeno, alguns mais outros menos. Trata-se de um canal que nos traz o conhecimento por via direta, sem a interferência do intelecto. Foi intuição aquele episódio familiar ou profissional no qual você sabia do fato, embora ninguém lhe tivesse dito, telefonado, escrito, telegrafado ou comunicado por meio racional algum. Simplesmente, você o sabia. Profissionalmente, academicamente, cientificamente, talvez você o tenha deixado passar por não dispor de um respaldo racional, uma do- cumentação, uma pesquisa, uma bibliografia… No entanto, se tivesse lançado mão daquele conhecimento intuicional, teria passado à frente da concorrência, teria feito uma grande descoberta científica muito além do seu tempo. Depois, bastaria procurar a documentação adequada, ou as estatísticas necessárias para fundamentar o que você já sabia – fundamentá-lo apenas para que os seus pares não pudessem questionar as suas fontes.

A intuição comum é como o flash de uma câmera fotográfica, só que não tem dimensão em termos de tempo. É um insight. Mas, sob treinamento, é possível desenvolver uma outra forma de intuição que se manifesta como o flash de uma filmadora, que acende e permanece aceso por um átimo. Chamamos a esse fenômeno intuição linear, quando conseguimos manter a intuição fluindo voluntariamente por um segundo inteiro – ou mais. Essa é a definição perfeita para o termo sânscrito dhyána.

Porém, não podemos usá-lo, já que ninguém saberia a que queríamos nos referir. Somos, portanto, obrigados a voltar para a opção inicial e utilizar mesmo o vocábulo meditação, pois, embora inexato, é aceito universalmente, inclusive na Índia.

QUASE NINGUÉM SABE O QUE É MEDITAÇÃO

 

Por outro lado, quase ninguém sabe o que é meditação. Nem no Ocidente, nem no Oriente. São poucos os Mestres que sabem de que estão falando e menos ainda são os discípulos que os compreendem.

Muita gente acha que meditar é reduzir a consciência, mas é o contrário. É aumentá-la, é expandi-la, é adquirir mais lucidez. Por isso, seu veículo é chamado superconsciente.

Há muitos grupos de meditação que não sabem explicar o que fazer para atingir esse estado expandido de consciência e mandam simplesmente você se sentar e ficar quieto.

DESPERTE!

Já escutei um orientador declarar que “quando termino de dar meditação, as pessoas despertam mais felizes e relaxadas” (!) Como assim despertam? Por acaso estavam dormindo? É exatamente o contrário. Quando alguém entra em meditação sente como se tivesse estado a dormir por toda a sua vida e agora, na meditação, tivesse acordado. Meditar é o despertar. Não meditar ou terminar a meditação e voltar ao estado mental é entrar num processo de hibernação da consciência. É como blindar a lucidez com uma pesada armadura de lógica e raciocínio.

Lembro-me de uma “professora” que me visitou há mais de 20 anos, querendo dar aulas de meditação na minha escola. Por uma questão de cortesia, procurei dar-lhe um pouco de atenção e perguntei qual era a sua linha. Ela me respondeu que era de todas. Bem, a partir daí, percebi que não tinha conhecimento algum, pois uma pessoa não pode ser de todas as linhas, uma vez que elas são antagônicas. Então, perguntei como era o seu método. Respondeu-me que mandava a pessoa sentar-se, fechar os olhos e meditar. “Sim – questionei –, isso é o que o praticante faz com o corpo. Mas e para meditar, qual é a técnica?” Ela repetia a mesma fórmula e quanto mais eu procurava entender, mais irritada ficava, pois, simplesmente, não sabia o que dizer. Conseguia enganar um leigo, no entanto, ao perceber-se defrontada com uma pessoa que conhecia o assunto, tornara-se acuada.

MEDITAÇÃO É UMA TÉCNICA?

Há cerca de 30 anos eu participava de um programa semanal na TV Bandeirantes e sempre no mesmo dia, todas as terças-feiras, também dissertava o conceituado filósofo brasileiro Huberto Rodhen. Embora meu amigo pessoal, no programa nós defendíamos pontos de vista divergentes sobre a meditação. Rodhen, notável espiritualista, não podia admitir que uma prática “espiritual” (no seu entender) pudesse ser alavancada por uma simples técnica. Então, todas as terças-feiras ele ia ao ar antes de mim e me alfinetava:

– Tem gente que diz que é possível alcançar a meditação por meio de técnica. Isso não é admissível, pois a espiritualidade não se conquista com técnicas, mas por merecimento.

E, todas as terças-feiras eu ia ao ar logo em seguida e rebatia elegantemente, sem discordar abertamente, mas ensinando:

– Bem, vamos agora praticar a técnica de meditação que o Yôga milenar transmite há séculos, com inquestionável sucesso.

Depois, terminado o programa, ríamos de nossas divergências filosóficas e íamos juntos tomar um chá. Sempre respeitei muito esse que considero o maior filósofo brasileiro, um dos mais relevantes do século passado. Relato aqui esta história para exemplificar que discordâncias fundamentalistas não devem tornar os debatedores inimigos entre si.

MEDITAÇÃO É PARTE DO YÔGA

Meditação (dhyána) é parte integrante do acervo de técnicas do Yôga. Sacar a meditação do seu contexto não é recomendável. Sem as demais técnicas do Yôga, tentar meditar pode ser prejudicial. A meditação surgiu dentro do Yôga, porém, várias correntes filosóficas apoderaram-se somente dessa parte e desprezaram as outras que lhe dariam suporte. Resultado: (a) sem as demais técnicas torna-se bem mais difícil meditar; e (b) se conseguir meditar isso poderá ser mais prejudicial do que útil. Vamos tentar explicar de duas formas.

Primeiro exemplo

Imagine uma pessoa que pratique esportes. Essa pessoa desenvolve toda a musculatura do corpo de forma equilibrada, ou quase. Mas o que ocorreria se um desportista resolvesse só exercitar braço e não pernas, nem tórax, nem abdômen, nem dorsais, e pior: só um braço? Praticaria rosca de bíceps com cada vez mais peso só com o seu braço direito, para poder exibi-lo na praia. O resultado cultivaria um aleijão, com perninhas de periquito, barriguinha de chopp e um braço mais forte que o outro como um caranguejo patola ou uma vítima de elefantíase. Se não tivesse feito nenhum exercício físico poderia estar fora de forma, poderia ser magrela ou gorducho, mas sempre tenderia a uma certa harmonia dentro do seu biotipo. Não seria uma anomalia.

Quando alguém pratica só um anga, por exemplo, só meditação, ou só mantra, ou só ásana etc., o resultado é o desequilíbrio como o do exemplo acima. Melhor seria não praticar nada, pois, nesse caso, a natureza manteria uma relativa harmonia de conjunto.

Segundo exemplo

A meditação é o fenômeno produzido pelo funcionamento do ájña chakra, situado entre as sobrancelhas. Os chakras, como estudaremos no respectivo capítulo, são dinamizados pelo influxo da kundaliní. Logo, se o praticante não preparar seu sistema biológico para que a energia formidável da kundaliní ascenda gradualmente, chakra após chakra, até o ájña, a energia não conseguirá subir, o que equivale a dizer que o praticante não conseguirá meditar. Poderá iludir-se e pensar que está meditando, mas não estará. E se insistir muito, durante muito tempo, e acabar conseguindo atrair a energia para esse chakra, pior ainda. Pois a energia da kundaliní é física e deverá fluir medula espinhal acima, por dentro de meridianos de força que precisam estar perfeitamente desobstruídos, através de uma coluna vertebral flexível e mediante uma série de outros cuidados. Tal energia não poderá sair pelo lado de fora do corpo, por onde não existe a anatomia dos canais de vascularização pránica, e chegar ao ájña; nem poderá aparecer nes- se chakra por um toque de mágica.

Se a insistência em fazer meditação criar uma sucção da kundaliní na região da cabeça e essa energia for forçada a subir sem que haja canais desobstruídos, ela o fará rompendo e queimando tudo o que encontrar pela frente. Poderá, ainda, romper algum duto e vazar, destruindo os tecidos dos órgãos adjacentes. Nesse caso, ocorreriam distúrbios no sistema nervoso e outros.

MEDITANTES QUE NÃO PRATICAM YÔGA

Foi feita uma pesquisa nos Estados Unidos com meditantes que não praticavam Yôga, mas eram adeptos de grupos, seitas ou associações de meditação. O resultado foi estarrecedor. Mais de 99% apresentavam distúrbios psiquiátricos seriíssimos. No entanto, os pesquisadores confessaram que ocorrera um erro no controle da experiência. Não conseguiram detectar se tais sujets já tinham anteriormente distúrbios e por isso foram procurar coisas estranhas e exóticas para praticar, ou se foram essas práticas que os conduziram a estados patológicos. A boa notícia é que no grupo que praticava meditação como parte do Yôga, menos de 1% apresentou problemas.

Shivánanda explica em seu livro Autobiografia, na página 102: “o desenvolvimento unilateral não é muito benéfico”; e na página 142: “um desenvolvimento unilateral não o ajudará”. Portanto, cultivar um desenvolvimento só com ásana, só com mantra, só com meditação etc., não é recomendável. Não se deve praticar um fragmento de Yôga ou um Yôga truncado. É recomendável praticar todos os angas.

Se você pratica Yôga, observe que se praticar um minuto cada anga do Yôga Antigo (mudrá, pújá, mantra, pránáyáma, kriyá, ásana, yôganidrá e samyama) terá realizado uma prática de oito minutos. Com um minuto de meditação (realizada no anga samyama) você terá conseguido meditar com muito mais facilidade e terá ido muito mais fundo. No entanto, você que pratica Yôga, no dia em que resolver não realizar uma prática completa em oito partes, mas só meditar, verificará que mesmo com dez vezes mais tempo investido na meditação, encontrará muito mais dificuldade para galgar esse estado e se o conseguir, ele será mais superficial. Conclusão, a meditação é mesmo parte de um contexto e não deve ser praticada fora dele.

A PARÁBOLA DA LAGOA

No fundo da lagoa que abastecia de água a aldeia Vajrakutir, havia um diamante. Dois homens resolveram procurar a valiosa gema observando a partir da superfície. A face norte da lagoa era assolada por ventos que encrespavam a superfície das águas. Do outro lado, na face sul, as montanhas protegiam-na dos ventos e a superfície era serena. Assim, o homem que tentou ver o fundo da lagoa pelo norte nada enxergou, pois havia uma barreira de turbulência entre ele e a pedra preciosa. Mas o que divisou pelo sul, conseguiu ver o fundo da lagoa e o tesouro que lá estava.

A lagoa é a mente. O diamante é o Púrusha, o Self, a Mônada. A superfície encrespada é a turbulência das ondas mentais (chitta vritti). A superfície serena corresponde à supressão da instabilidade da consciência (chitta vritti nirôdhah).

quarta-feira, 14 de março de 2012 | Autor:

Uma gravação ensinando a pronúncia correta

A fim de pôr termo na eterna discussão sobre a pronúncia correta dos vocábulos sânscritos, numa das viagens à Índia entrevistamos os Swámis Vibhodánanda e Turyánanda Saraswatí, em Rishikêsh, e o professor de sânscrito Dr. Muralitha, em Nova Delhi.

A entrevista com o Swámi Turyánanda foi muito interessante, uma vez que ele é natural de Goa, região da Índia que fala português e, assim, a conversação transcorreu de forma bem compreensível. E também pitoresca, pois Turyánandaji, além do sotaque característico e de ser bem idoso, misturava português, inglês, hindi e sânscrito em cada frase que pronunciava. Mesmo assim, não ficou confuso. É uma delícia ouvir o velhinho ficar indignado com a pronúncia “yóga”. Ao perguntar-lhe se isso estava certo, respondeu zangado:

– Yóga, não. Yóga não está certo. Yôga. Yôga é que está certo.

Quanto ao Dr. Muralitha, este teve a gentileza de ensinar sob a forma de exercício fonético com repetição, todos os termos sânscritos constantes do glossário do nosso livro Tratado de Yôga. Confirmamos, então, que não se diz múdra e sim mudrá; não se diz kundalíni e sim kundaliní; não se diz AUM e sim ÔM, não se diz yóga e sim Yôga; e muitas outras correções.

Recomendamos veementemente que o leitor escute e estude essa gravação. Se tratar-se de instrutor de Yôga, é aconselhável tê-la sempre à mão para documentar sua opinião e encurtar as discussões quando os indefectíveis sabichões quiserem impor seus disparates habituais.

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Nota: os vocábulos dessa gravação podem ser escutados no site http://uni-yoga.org/cultura-e-entretenimento/glossario/.

terça-feira, 13 de março de 2012 | Autor:

O Yôga é termo masculino

Quanto ao aportuguesamento da palavra, isto é, passando a grafá-la com i e convertendo-a para o gênero feminino, não podemos ignorar a regra para o uso de estrangeirismos incorporados à nossa língua a qual manda preservar, sempre que possível, a pronúncia e o gênero do idioma de origem. Por exemplo: le chateau, resulta em português o chatô e não a xateáu, e la mousse resulta em português a musse, e não o musse.

Ao mudar o gênero, altera-se o sentido de muitas palavras que passam a significar coisas completamente diferentes. Por exemplo: a moral significa código de princípios e o moral refere-se a um estado de espírito, auto-estima, fibra; meu micro designa um equipamento e minha micro é um tipo de empresa. O mesmo ocorre com a capital e o capital; a papa e o Papa; etc. Portanto, aceitemos que no Brasil o Yôga tem um significado diferente de “a yoga” ou, pior, “a ioga”.

Além do mais, declarar que Yôga precisa ser feminino só por terminar com a, é uma desculpa esfarrapada, pois estamos cheios de exemplos de palavras masculinas de origem portuguesa ou incorporadas à nossa língua, e todas terminadas em a[1]. Duvida? Então lá vai:

o idiota, o canalha, o crápula, o pateta, o trouxa, o hipócrita, o careta, o facínora, o nazista, o fascista, o chauvinista, o sofisma, o anátema, o estigma, o tapa, o estratagema, o drama, o grama, o cisma, o crisma, o prisma, o tema, o trema, o samba, o bamba, o dilema, o sistema, o fonema, o esquema, o panorama, o clima, o puma, o profeta, o cosmopolita, o plasma, o mioma, o miasma, o fibroma, o diadema, o sósia, o soma, o telegrama, o telefonema, o cinema, o aroma, o altruísta, o homeopata, o sintoma, o careca, o carioca, o arataca, o capixaba, o caipira, o caiçara, o caipora, o coroa, o cara, o janota, o agiota, o planeta, o jornalista, o poeta, o ciclista, o judôca, o karatêca, o acrobata, o motorista, o atalaia, o sentinela, o pirata, o fantasma, o teorema, o problema… et cætera.

Para reforçar nosso argumento, invocamos o fato de que todos os cursos de formação de instrutores de Yôga em todas as Universidades Federais, Estaduais e Católicas, onde ele vem sendo realizado desde a década de 70, a grafia adotada foi com y, o gênero foi o masculino e a pronúncia foi a universal, com ô fechado. Por recomendação da Confederação Nacional de Federações de Yôga do Brasil, a partir de 1990 todos esses cursos passaram a adotar o acento circunflexo.

Adotamos o circunflexo pelo fato de o acento já existir na grafia original em alfabeto dêvanágarí.

No inglês não há acentos. Como foram os ingleses que primeiramente propuseram uma transliteração para o sânscrito, a prática de não acentuar essa língua universalizou-se. Tal limitação do idioma britânico não deve servir de pretexto para que continuemos em erro. Mesmo porque, na própria Inglaterra esse erro está começando a ser corrigido.

Sempre que no sânscrito o fonema for longo, já que no português dispomos de acentos para indicar o fenômeno fonético, devemos sinalizar isso, acentuando. Um excelente exemplo é o precedente do termo Judô. Em língua alguma ele tem acento. Nem mesmo em português de Portugal![2] Não obstante, no Brasil, tem. Assim, quando alguém quiser usar como argumento a suposição de que a palavra Yôga não levaria acento em outras línguas, basta invocar o precedente da palavra Judô. Com a vantagem de que o dêvanágarí, ao contrário do japonês, é alfabeto fonético, logo, o acento é claramente indicado.

Esse acento é tão importante que mesmo em livros publicados em inglês e castelhano, línguas que não possuem o circunflexo, ele é usado na palavra Yôga (vide Aphorisms of Yôga, de Srí Purôhit Swami, Editora Faber & Faber, de Londres; Léxico de Filosofía Hindú, de F. Kastberger, Editorial Kier, de Buenos Aires; a utilização do acento é ratificada pela Encyclopædia Britannica, no verbete Sanskrit language and literature, volume XIX, pag. 954, edição de 1954.).



[1] Algumas destas palavras podem ser usadas nos dois gêneros, pormenor que não invalida a força do exemplo.

[2] A falta do acento na palavra Judô (Judo) faz com que em Portugal seja pronunciada Júdo. Talvez devido a um fenômeno linguístico semelhante, alguns brasileiros pronunciem yóga, pela falta do circunflexo. No entanto, repetimos que o acento circunflexo não é utilizado para fechar a pronúncia e sim para indicar crase de vogais diferentes (a + u = ô).

segunda-feira, 12 de março de 2012 | Autor:

A grafia com Y

Quanto à escrita, o y e o i no sânscrito têm valores fonéticos, semânticos, ortográficos e vibratórios totalmente diferentes. O i é uma letra que não se usa antes de vogais, enquanto que o y é fluido e rápido para se associar harmoniosamente com a vogal seguinte. Tal fenômeno fonético pode ser ilustrado com a palavra eu, em espanhol (yo, que se pronuncia mais ou menos “”, em Buenos Aires “”) e em italiano (io, que se pronuncia “ío”). Mesmo as palavras sânscritas terminadas em i, frequentemente têm-na substituída pelo y se a palavra seguinte iniciar por vogal, a fim de obter fluidez na linguagem. Esse é o caso do termo ádi que, acompanhado da palavra ashtánga, fica ády ashtánga.

Vamos encontrar a palavra “ioga” sem o y no Dicionário Aurélio, com a justificativa de que o y “não existia” no português! Só que no mesmo dicionário constam as palavras baby, play-boy, playground, office-boy, spray, show, water polo, watt, wind surf, W.C., sweepstake, cow-boy, black-tie, black-out, back-ground, slack, sexy, bye-bye, railway, milady e muitas outras, respeitando a grafia original com k, w e y, letras que “não existiam”. Por que será? Por que usar dois pesos e duas medidas? (Aliás, eu gostaria de saber para que queremos o termo railway! Não utilizamos estrada de ferro?). Palavras tão corriqueiras quanto baby, playboy etc., deveriam então, com muito mais razão, ter sido aportuguesadas para beibi e pleibói. Por que não o foram e “a ioga”, sim? E o que é que você, leitor, acha disso? Não lhe parece covardia dos linguistas perante seus patrões anglo-saxônicos?

É, no mínimo, curioso que o Dicionário Michaelis da língua portuguesa, registre as palavras yin e yang com y, ao mesmo tempo em que declara que o y não podia ser usado na palavra Yôga, porque “não existe na nossa língua”![1]

Pior: no Dicionário Houaiss encontra-se registrado até yacht (iate), yachting (iatismo), yanomami [do tupi-guarani], yen [do japonês], yeti [do nepalês], yom kippur [do hebraico], yama, yantra, yoni [do sânscrito], todos com y, mas o Yôga, não. Isso é uma arbitrariedade.

O próprio Governo do Brasil nunca admitiu que as letras y, k e w não existissem, pois sempre as colocou nas placas dos automóveis! Em Brasília, desde 1960, existe a Avenida W3 (W de West!!!). E se é o povo que faz a língua, nosso povo jamais aceitou que quilo fosse escrito sem k, como no resto do mundo, assim como recusa-se a acatar que a palavra Yôga não seja grafada com y, como no país de origem (Índia) e nos países de onde recebemos nossa herança cultural (França, Espanha, Itália, Alemanha e Inglaterra). Basta fazer uma consulta popular para constatar que a vox populi manda grafar Yôga com y.

Se tivéssemos que nos submeter à truculência do aportuguesamento compulsivo, deveríamos grafar assim o texto abaixo, de acordo com as normas atuais da nossa ortografia, palavras estas citadas pelo Prof. Luiz Antonio Sacconi, autor de vários livros sobre a nossa língua:

Declarar que a palavra ioga deve ser escrita com i por ter sido aportuguesada, está virando eslogã. Mas basta um flexe com uma amostragem de opinião pública para nos dar ideia do absurdo perpetrado. Podemos utilizar o nourrau de um frilâncer e entrar num trole para realizar a enquete. Perguntemos a um ripe, um panque, um estudante, um desportista e um empresário, como é que se escreve a palavra Yôga. Todos dirão que é com y . Isso não é um suipsteique. É muito mais um checape. Se, passado o râxi, você pedir uma píteça igual à que está no autedor, e ela vier sem muçarela e com excesso de quetechupe, não entre em estresse. A vida na jângal de uma megalópole tem que passar mesmo por um runimol de tensões. Por isso é que aconselhamos a prática de algum róbi, tal como jujutso, ioga ou mesmo a leitura de um bom livro cujo copirráite seja de autor confiável e o leiaute da capa sugira uma obra séria. Em último caso, ouvir um longuiplei em equipamento estéreo com uótes suficientes de saída. Se você não possuir tal equipamento, sempre poderá ir a um xópingue comprá-lo ou tentar um lísingue. Caso nada disso dê certo, console-se com um milque xeque e com a leitura de um livro brasileiro sobre o aportuguesamento de palavras estrangeiras. Garanto que você vai rir bastante e será um excelente márquetingue a favor da minha tese que reivindica a manutenção do y na palavra Yôga. (Texto composto seguindo rigorosamente o vocabulário corrigido de acordo com as normas de aportuguesamento vigentes em 1996.)

Se um tal texto não parece adequado, também não o é grafar Yôga com i, nem colocá-lo no feminino (“a ioga“). Recordemos ainda a norma da língua: “os vocábulos estrangeiros devem ser pronunciados de acordo com seu idioma de origem”. Por isso watt virou uóte e não váte; e rush virou râxi e não rúxi. Demonstrado está que deve-se pronunciar o Yôga com ô fechado, como na sua origem.



[1] Com o novo acordo ortográfico, o y foi reintegrado à nossa língua. Quer apostar como vão conseguir uma desculpa para que o Yôga continue desfigurado, escrito com i ?

 

quinta-feira, 8 de março de 2012 | Autor:


Extraído do livro “Yôga, Mitos e Verdades”, 1992.

Ele existe, sim! E, por incrível que pareça, é mesmo a maioria. Alguns dos exemplos anteriores é que são as exceções. Felizmente!

O discípulo ideal é simpático, gosta de colaborar, compreende nossas razões e tem satisfação em cumprir todas as determinações.

Leu todos os textos com uma disposição positiva, compreendeu e não comete erros, pois considera tudo tão simples, claro e óbvio, que ele não entende a confusão que alguns fazem.

Ao ler Um Tranco do Mestre procurou pensar bem se alguma daquelas advertências podia servir para ele. E, honestamente, concluiu que não. Mesmo assim, consultou seu Mestre, só para confirmar!

Paga tudo irrepreensivelmente, quantias corretas nas datas certas. Revalida pontualmente, prepara novos instrutores todos os anos, seus alunos são disciplinados e, pelo olhar deles, percebe-se que gostam da gente.

Comparece a todos os cursos, congressos, festivais, estágios, seminários, convocações. Divulga tudo e traz mais gente, promove cursos e eventos, convida o Mestre para ministrar cursos e nunca deixa a egrégora de fora quando realiza algo.

Não mistura o Método DeRose com nenhuma outra disciplina, arte, ciência ou filosofia. Não participa de cursos apócrifos. Não frequenta instituições concorrentes. Não confraterniza com nossos detratores nem com os dissidentes. É leal, disciplinado, amoroso e ético.

Consulta sempre seu Mestre. Dá sugestões, mas sem críticas nem cobranças. Quer servir e ajudar. Por outro lado, aceita críticas sem se ofender, e até mesmo as pede. Aliás, não se ofende nunca, uma vez que o amor em seu coração pelo Mestre é tanto que não sobra lugar para suscetibilidades.

Pela frente, trata o Mestre com carinho; por trás, defende-o com lealdade. Para este, está tudo certo e perfeito: os cursos, as normas, as revalidações, a supervisão, o Swásthya, o Método DeRose, até mesmo as guinadas do Mestre.

Reencontrá-lo é sempre uma festa, conversar com ele, uma descontração. É uma pessoa que queremos como nosso amigo pessoal.

Ao ler esta descrição ele se identifica, reconhece o seu valor e fica feliz por saber que nós o valorizamos pelo que ele é.