sexta-feira, 23 de janeiro de 2009 | Autor:
Extrato do nosso livro Quando é Preciso Ser Forte

A partida para a Índia

Chegado o momento certo deixei Paris e voei para Delhi. Foi um choque cultural enorme, contudo, bastante ilustrativo.

A primeira emoção foi sobrevoar o deserto de Thar. O avião voava a 900 km por hora e já havia quase meia hora de areia, às vezes clara, às vezes avermelhada, mas, por certo, sempre escaldante. Num dado momento, um oásis! Que sensação indescritível. Reagi quase como se estivesse caminhando lá embaixo, sedento. Era só um tufo de pequenas palmeiras e grama verde, mas… que imagem bonita e tão rica em vida, comparada com aquelas areias estéreis e inclementes.

Às vezes aparecia um povoado em torno de um oásis, outras vezes sem ele. Dava para enxergar as trilhas de camelos, marcadas na areia mais dura, como verdadeiras estradas, tão longas que perdiam-se no horizonte sem um cruzamento sequer. Todos já vimos isso em fotos ou filmes, mas estar ali em cima era outra coisa. Nas rarefeitas aldeias, aquela gente isolada do mundo, vivia de quê? Se não havia agricultura, água, matérias primas? Viveriam só de pastorear cabras, a um calor de 50oC de dia e 10 negativos à noite, e nunca pensaram em sair dali?

Começaram, então, a aparecer nacos esparsos de vegetação desértica, amarelada. Ao longe, uma visão inesquecível: o fim do deserto. Eu imaginava que os desertos fossem acabando pouco a pouco, com a modificação gradativa do tipo de solo. No entanto, visto lá de cima era impressionante. Aquele deserto acabava de repente, numa linha bem demarcada, onde as areias bruscamente paravam. Vegetação verde, estradas asfaltadas e uma incrível multiplicidade de vilarejos, marcava o início da, assim chamada, civilização.

O oposto dessa experiência foi um outro voo, sobre os Himálayas. O avião estava poucos metros acima das geleiras e uma senhora perguntou ao comissário de bordo, por que estávamos voando a tão pouca altitude.

– Não estamos voando baixo, madame. As montanhas é que são muito altas!

Que coisa linda! Milhares de quilômetros de montanhas cobertas de neve, enrugadas, comprimidas umas contra as outras, algumas altivas, destacando seus picos majestosos. De um lado batia o sol e do outro havia sombra, num contraste de cores enriquecido pela dinâmica da aeronave, proporcionando um espetáculo inimaginável. E saber que, tal como no deserto, não havia quase ninguém lá embaixo, a não ser o Yeti e uma ou outra aldeia encravada num vale. E estes, como será que sobreviviam ali? O ser humano é mesmo obstinado!

Em minhas viagens passei por mais uma experiência que eu gostaria de repartir com você. Já assistiu a um pôr-do-sol que não acabasse? Estávamos viajando numa direção em que acompanhávamos o sol em seu descenso. O céu ficara alaranjado e violeta em toda a extensão da linha do horizonte. O sol, vermelho, podia ser observado sem ferir os olhos e estava descendo lentamente. Dentro do avião, tudo parou para observar o crepúsculo. Exclamações de admiração e cliques de câmeras pipocando, longe de perturbar, até enriqueceram a magia do momento. Só que o “momento” não terminava! Habituados à curta duração de um fenômeno assim, visto do chão, todos a bordo comentavam a beleza que estava sendo, poder observar à vontade e ainda jantar à luz desse pôr-de-sol que durou quase uma hora.

Tudo isso move a minha gratidão à profissão de instrutor de Yôga. Se não fosse por ela, eu não teria podido viajar tanto e vivenciar experiências tão fascinantes.

Outra grande emoção foi quando os trens de aterrissagem do avião tocaram o solo da Índia. Senti-me comover. Eu estava mesmo na Índia, aquele país legendário do qual ouvira falar desde criança. A Índia dos filmes de aventura, dos contos fantásticos e dos livros de Yôga. A Índia dos faquires e dos marajás, dos elefantes e dos templos. E eu estava lá!

Dali para frente foi um misto de surpresas e decepções, alegrias e tristezas. Afinal era como devia ser, pois a Índia tornou-se conhecida como o país dos contrastes.

Primeiro, fiquei um pouco embaralhado com a confusão à saída do aeroporto. Todos os indianos são tão solícitos que um quer levar a mala, outros querem providenciar o táxi e mais uns quantos disputam para indicar o hotel. Dei azar. Aceitei a indicação do mais simpático e acabei num hotel tão distante do centro de Nova Delhi que parecia outra cidade. No dia seguinte mudei-me para um mais bem localizado e menos dispendioso. Se um dia você for a Delhi, é aconselhável ficar em algum hotel próximo a Connaught Place e Janpath Street, onde estão situadas quase todas as coisas mais importantes de Nova Delhi para o viajante: companhias aéreas, agências de turismo, o Tourist Office do Governo, restaurantes, cinemas e um variadíssimo comércio de artesanato, tecidos, roupas, estatuetas, pinturas, incenso, instrumentos musicais, henna, japamalas e tudo o que a sua imaginação nem conseguiria pressupor. Livros, não. É melhor comprá-los em Velha Delhi, na livraria Picadilly Circus.

Adorei a comida da Índia desde o primeiro instante e, como eu, todos quantos a conheceram. Além de saborosíssima, pode-se aceitar o que vier, pois o país é vegetariano e não há perigo de a comida vir com carne de boi, de peixes ou de aves. Por outro lado, se o paladar é superlativo, precisei me adaptar a um pormenor. Tudo vem hipercondimentado com gengibre, cominho, cravo, canela, cardamomo, coentro, curry e chili. Este último é mais ardido que a própria pimenta baiana. Como ainda não estava habituado a comidas tão ricas em especiarias, no segundo dia pedi uma salada de vegetais crus, pois assim, pensava eu, viriam seguramente sem tempero. De fato, recebi uma salada sem sal, sem azeite e sem tempero algum. Comecei a comer e gostei, apesar da falta total do paladar exacerbado dos condimentos. A fome é o melhor tempero. Com apetite, localizei, lá no meio, uma pequena vagem verde. Simpatizei com a cara daquela vagenzinha tão inocente. Mastiguei e engoli. Era o próprio chili! Nunca na minha vida havia tido uma sensação igual… parecia que ia morrer. Imaginei que beber ácido sulfúrico não devia ser pior. Salvou-me uma garrafa de refrigerante, que sorvi de uma só vez.

Tendo passado por esse batismo de fogo (literalmente de fogo), segui no meu curso de Índia. Nos primeiros dias, era pôr o pé na rua e constatar que mais uma falsa imagem ruía. A primeira fora a alimentação, pois os livros de Yôga, em geral, aconselham usar pouco condimento. Mas mesmo as escolas e mosteiros mais espartanos serviam a comida com um paladar bem requintado e forte. Aí, entendi: para eles, aquilo é que era pouco condimentado. A culinária ocidental seria considerada “à moda de isopor”.

Outra fantasia da nossa desinformação é supor que os indianos comuns tenham conhecimento de sânscrito. O sânscrito para o hindu é como o latim para nós. Tentei comprar um dicionário de sânscrito, mas não foi fácil encontrar. A cada livraria era o mesmo ritual: eu chegava, o livreiro vinha solícito, com um sorriso nos lábios. Porém, quando lhe pedia o dicionário, ele fechava a cara, respondia rispidamente que não tinha e virava as costas. Pensei até que tivessem alguma coisa contra o sânscrito. Depois descobri: é o jeitão do indiano. O sim, diz-se com muita amabilidade e o não, com rispidez. Faz parte da dramatização da linguagem. Após ter compreendido isso, não me aborreci mais. No nosso país é diferente. Quando precisamos dizer não, fazemo-lo com cara e voz de quem está desolado e, frequentemente, acrescentamos uma série de justificativas. Assim também já é demais.

Nós esperamos ainda que todo indiano entenda de Yôga. No entanto, um número relativamente pequeno de indianos dedica-se a essa filosofia. No Brasil temos proporcionalmente muito mais instrutores de Yôga do que na Índia, com mais de um bilhão e tanto de habitantes espremidos num território cerca de três vezes menor que o nosso.

Primeiramente, tinha que me ambientar e conhecer a cidade. Visitei templos de várias religiões (hindus, muçulmanos, sikhs, budistas, jainistas etc.), mercados, palácios, museus, ruínas, monumentos. Fui ao Memorial do Gandhi, erigido no local onde ele foi cremado. Visitei o Forte Vermelho, palco de tantas batalhas. Não podia deixar de conhecer o Qtub Minar, a torre inclinada da Índia, ao lado do qual encontra-se o poste de ferro construído há séculos, deixado desde então ao tempo e à chuva e, apesar disso, não enferruja. Essa curiosidade científica é comentada com algum sensacionalismo por Von Daniken em seu livro Eram os deuses astronautas?.

                                                           

Enfim, perfiz o indefectível roteiro de qualquer turista comum. A maioria fica por aí, dá-se por satisfeita e volta para cá cantando de galo, sem ter feito, visto ou aprendido absolutamente nada que prestasse em termos de Yôga.

Tão logo me familiarizei com o território, saí à procura dos bons Mestres. Em Delhi não fui feliz. Certamente, há boas escolas por lá, mas nessa primeira investida não encontrei nenhuma que satisfizesse as minhas expectativas. Eu dispunha de um catálogo publicado pelo Governo da Índia com os endereços de um grande número de entidades selecionadas, porém não senti empatia por nenhuma delas. Comecei então a colher indicações dos próprios indianos e verifiquei um consenso. A esmagadora maioria declarava que determinado professor era o melhor, embora seu nome não constasse do meu guia. No entanto, quando eu questionava:

– O que leva você a considerá-lo o melhor?

Todos, unanimemente respondiam:

– É porque ele vai à televisão(!).

Ora, também estou sendo seguidamente entrevistado pela TV, mas seria um demérito se o povo dissesse que sou bom Mestre somente por essa razão.

Em vista disso, preferi não conhecê-lo. Cansei de procurar na capital e decidi seguir para os Himálayas.

Aguarde a continuação: Os Himálayas

 

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quinta-feira, 15 de janeiro de 2009 | Autor:

Regina comentou o fato de que algumas pessoas escrevem os vocábulos sânscritos com letra cursiva. Quem for iniciante, talvez fique com dúvida ao ler seu comentário. Então lá vai o esclarecimento.

Ao escrever à mão, se utilizarmos letra cursiva (ou manuscrita) isso dificultará a legibilidade e ainda poderá causar leitura errada de alguns fonemas, pois trata-se de língua nova para alguns e desconhecida para a maioria. Isso foi o que aconteceu na publicação do livro Mantras e concentração (aqui mantras está com inicial maiúscula por se tratar do título do livro), edição espanhola, em que percebe-se, o autor escreveu à mão os originais. No Gayatri mantra (Gayatri é nome próprio), por exemplo, encontra-se a palavra “düo“, no lugar de dhyoyo. Na primeira passada d’olhos estranhei a palavra, pois no sânscrito não se usa trema! Ao ler direito o texto percebi o que ocorrera. Estava óbvio que alguém havia, primeiro, desnaturado a escrita sânscrita para adaptá-la ao leitor de língua espanhola e, depois, teria escrito em letra cursiva “diio“, fazendo com que as duas letras ii juntas e emendadas parecêssem com uma letra u com trema: ü. Na verdade, ainda teria cometido outro erro, ao suprimir um fonema.

Em tempo: ao mencionar o livro, não o estou indicando para estudo. Leia mais »

terça-feira, 13 de janeiro de 2009 | Autor:
 

Você sabe explicar por que a palavra Yôga tem acento?
sexta-feira, 2 de janeiro de 2009 | Autor:

– Como vai você?

– Vou trishulando e kalidando.

Este tipo de cumprimento e respectiva resposta dos praticantes de SwáSthya é apenas um bem-humorado gracejo que não precisa significar coisa alguma. Mas, se quisermos “traduzir”, poderemos entender que o instrutor e até mesmo o aluno desta modalidade está sempre trishulando, isto é, corrigindo os equívocos, cortando-os com o trishúla de Shiva e, por outro lado, incensando com Kálí-Danda, para analgesiar e cicatrizar, com a alma leve e o coração cor-de-rosa. É como se fosse dar um tapinha com uma mão e fazer um carinho com a outra. Se o tapas é necessário (tapinha não é o diminutivo do niyama sânscrito tapas?), o carinho é duas vezes mais importante. Leia mais »

domingo, 25 de maio de 2008 | Autor:

UMA ODE CONTRA OS FALSOS ESTEREÓTIPOS 

 

O que é o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga)

 

O Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) é uma filosofia. Todos os dicionários classificam o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) como filosofia. Todas as enciclopédias classificam o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) como filosofia. Nenhum dicionário ou enciclopédia se refere ao Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) como terapia. Nenhum considera o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) como educação física.

O problema é que a mídia internacional pontificou que o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) deve ser o que o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) não é. E a opinião pública foi atrás no equívoco sobre o que o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) deve ser. O mais grave é que o leigo se arroga o direito de entender mais do Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) do que um professor formado nessa disciplina.

Assim, quando declaramos que praticamos o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) ou que ensinamos o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga), sempre passaremos pelo dissabor de sermos confundidos com algum maluquete naturéba; ou, pior, com algum “guru” espertalhão ou curandeiro que queira iludir a terceiros com o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga), supostamente, alguma espécie de seita ou de religião (!).

A que se devem as interpretações desatinadas a respeito do Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga)? À medida que nossa cultura geral se amplia, vamos percebendo que as pessoas alimentam ideias alucinadas sobre quase todas as coisas. Por que não as nutririam com relação ao Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga)? Podemos ver em filmes de Hollywood um oficial alemão da Segunda Grande Guerra conversando com outro alemão em inglês!  Ah! Mas tudo bem: eles falavam inglês com sotaque alemão! Vemos mulheres indígenas bonitas, com sobrancelhas feitas e maquiagem da moda da época em que o filme foi feito. Com uma ingenuidade dessas você acha que conseguiriam entender o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga)?

Basta mencionar a palavra mágica (o Yôga, a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) e o interlocutor já nos pergunta automaticamente, incontrolavelmente: “Quais são os benefícios do Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga)?” Mas como assim “Quais são os benefícios do Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga)?” Alguém pergunta quais são os benefícios da filosofia de Sócrates, de Platão, de Aristóteles ou de Kant? Então, por que perguntam isso com relação à filosofia que leva o nome de Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga)? Percebe que é irracional?

Contudo, é claro que a culpa não é da pessoa que formula tão insensata questão. A responsabilidade da barafunda mental que assola o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) poderia ser atribuída à Imprensa. Acontece que ela é mais vítima do que algoz nessa crassa trapalhada, já que os jornalistas também são parte da opinião pública e estão igualmente sujeitos a sofrer paralisias paradigmáticas com relação ao Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga).

A raiz da baralhada é que o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) pertence a uma outra cultura muito diferente da nossa, com outros valores e outros parâmetros. Quando o ocidental assesta o olhar para o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga), inevitavelmente filtra esse Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) pelas suas lentes cristãs. O resultado do que ele enxerga é desastroso. O que ele vê é uma caricatura do Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga). Na verdade, além de cristianizar o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga), o ocidental também o embaralha com budismo, lamaísmo, tai-chi, macrobiótica e o que mais lhe passar pela cabeça que seja oriental ou apenas esquisito.

Agora temos também o modismo de estereotipar o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) com o “natural”. Recebi um entrevistador que veio gravar uma matéria para a televisão. Gracejei com ele e disse-lhe que já estava a postos para fazermos a matéria sobre contabilidade. Ele entrou na brincadeira e respondeu sem titubear: “Desde que seja contabilidade natural.” (!) Como assim? Isso não faz o mínimo sentido.  …  Ah! Entendi! Já que somos do Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga), devemos ser naturébas. Então, se vamos falar sobre contabilidade, deve ser contabilidade “natural”. Ha-ha-ha! Entendi…

E ponha preconceito nisso.

Creio que nunca mais vamos poder declarar que praticamos o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) ou que ensinamos o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) sem gerar um mal-entendido. Na verdade, quando conhecemos alguém em algum evento e a pessoa diz que pratica o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) já vou logo mudando de assunto para evitar conflito. É que o termo sânscrito masculino Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) significa união, porém, paradoxalmente, desune as pessoas que estudam o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) ou que praticam o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga).

Será que no mundo inteiro reina essa confusão com relação ao Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga)? No que concerne à interpretação do conteúdo e à classificação, em todo o Ocidente, o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) é uma alucinação kafkiana. Mas nós, brasileiros e portugueses, não podíamos deixar barato e fizemos melhor. Passamos a enriquecer o desatino complicando também o gênero da palavra (o que no inglês, por exemplo, não ocorre) e querendo grafar com i, sem o y, o que não ocorre no inglês, nem no francês, nem no alemão, nem no espanhol, nem no italiano… só para complicar a nossa vida! Pronto: agora o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) passa a ter uma barafunda a mais. Uma, não! Duas.  Antes que eu possa discorrer sobre o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga), preciso investir uma hora ou mais da aula ou da palestra para demonstrar que o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) escreve-se com y, que é vocábulo masculino, que a pronúncia é com ô fechado, que leva acento no seu original em alfabeto dêvanágarí…

Quando termino de proporcionar estes esclarecimentos prévios sobre o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga), acabou o tempo e as pessoas terão que se contentar em ir para casa mais confusas do que quando chegaram e sem que eu tenha podido dissertar sobre o conteúdo em si, o qual deveria ter sido o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) e não sobre a grafia, o gênero e a pronúncia da palavra Yôga (o Yôga, a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga)!

Assim, se o estimado leitor ainda não compreendeu qual é o objetivo de mencionarmos tantas vezes o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) neste pretensioso artigo, sugiro que se sente em posição de Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) e faça uma boa e profunda meditação budista. Ou macrobiótica? Ah! Tanto faz, vem tudo do mesmo lugar, aquele tal de Oriente.

Assinado: DeRose

Professor de o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga)

Deus me livre! Que confusão! Vamos combinar assim: não me qualifique mais como
professor de o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga).
Para todos os efeitos, sou consultor em qualidade de vida e administração de relações humanas
para adultos jovens e saudáveis.

 

Post scriptum: se eu soubesse que iria ser assim, não sei, não, se em 1960 eu teria optado por me tornar instrutor do Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga).

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008 | Autor:

UMA ODE CONTRA OS FALSOS ESTEREÓTIPOS 

 

O que é o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga)

 

O Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) é uma filosofia. Todos os dicionários classificam o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) como filosofia. Todas as enciclopédias classificam o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) como filosofia. Nenhum dicionário ou enciclopédia se refere ao Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) como terapia. Nenhum considera o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) como educação física.

O problema é que a mídia internacional pontificou que o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) deve ser o que o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) não é. E a opinião pública foi atrás no equívoco sobre o que o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) deve ser. O mais grave é que o leigo se arroga o direito de entender mais do Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) do que um professor formado nessa disciplina.

Assim, quando declaramos que praticamos o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) ou que ensinamos o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga), sempre passaremos pelo dissabor de sermos confundidos com algum maluquete naturéba; ou, pior, com algum “guru” espertalhão ou curandeiro que queira iludir a terceiros com o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga), supostamente, alguma espécie de seita ou de religião (!).

A que se devem as interpretações desatinadas a respeito do Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga)? À medida que nossa cultura geral se amplia, vamos percebendo que as pessoas alimentam ideias alucinadas sobre quase todas as coisas. Por que não as nutririam com relação ao Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga)? Podemos ver em filmes de Hollywood um oficial alemão da Segunda Grande Guerra conversando com outro alemão em inglês!  Ah! Mas tudo bem: eles falavam inglês com sotaque alemão! Vemos mulheres indígenas bonitas, com sobrancelhas feitas e maquiagem da moda da época em que o filme foi feito. Com uma ingenuidade dessas você acha que conseguiriam entender o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga)?

Basta mencionar a palavra mágica (o Yôga, a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) e o interlocutor já nos pergunta automaticamente, incontrolavelmente: “Quais são os benefícios do Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga)?” Mas como assim “Quais são os benefícios do Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga)?” Alguém pergunta quais são os benefícios da filosofia de Sócrates, de Platão, de Aristóteles ou de Kant? Então, por que perguntam isso com relação à filosofia que leva o nome de Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga)? Percebe que é irracional?

Contudo, é claro que a culpa não é da pessoa que formula tão insensata questão. A responsabilidade da barafunda mental que assola o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) poderia ser atribuída à Imprensa. Acontece que ela é mais vítima do que algoz nessa crassa trapalhada, já que os jornalistas também são parte da opinião pública e estão igualmente sujeitos a sofrer paralisias paradigmáticas com relação ao Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga).

A raiz da baralhada é que o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) pertence a uma outra cultura muito diferente da nossa, com outros valores e outros parâmetros. Quando o ocidental assesta o olhar para o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga), inevitavelmente filtra esse Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) pelas suas lentes cristãs. O resultado do que ele enxerga é desastroso. O que ele vê é uma caricatura do Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga). Na verdade, além de cristianizar o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga), o ocidental também o embaralha com budismo, lamaísmo, tai-chi, macrobiótica e o que mais lhe passar pela cabeça que seja oriental ou apenas esquisito.

Agora temos também o modismo de estereotipar o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) com o “natural”. Recebi um entrevistador que veio gravar uma matéria para a televisão. Gracejei com ele e disse-lhe que já estava a postos para fazermos a matéria sobre contabilidade. Ele entrou na brincadeira e respondeu sem titubear: “Desde que seja contabilidade natural.” (!) Como assim? Isso não faz o mínimo sentido.  …  Ah! Entendi! Já que somos do Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga), devemos ser naturébas. Então, se vamos falar sobre contabilidade, deve ser contabilidade “natural”. Ha-ha-ha! Entendi…

E ponha preconceito nisso.

Creio que nunca mais vamos poder declarar que praticamos o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) ou que ensinamos o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) sem gerar um mal-entendido. Na verdade, quando conhecemos alguém em algum evento e a pessoa diz que pratica o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) já vou logo mudando de assunto para evitar conflito. É que o termo sânscrito masculino Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) significa união, porém, paradoxalmente, desune as pessoas que estudam o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) ou que praticam o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga).

Será que no mundo inteiro reina essa confusão com relação ao Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga)? No que concerne à interpretação do conteúdo e à classificação, em todo o Ocidente, o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) é uma alucinação kafkiana. Mas nós, brasileiros e portugueses, não podíamos deixar barato e fizemos melhor. Passamos a enriquecer o desatino complicando também o gênero da palavra (o que no inglês, por exemplo, não ocorre) e querendo grafar com i, sem o y, o que não ocorre no inglês, nem no francês, nem no alemão, nem no espanhol, nem no italiano… só para complicar a nossa vida! Pronto: agora o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) passa a ter uma barafunda a mais. Uma, não! Duas.  Antes que eu possa discorrer sobre o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga), preciso investir uma hora ou mais da aula ou da palestra para demonstrar que o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) escreve-se com y, que é vocábulo masculino, que a pronúncia é com ô fechado, que leva acento no seu original em alfabeto dêvanágarí…

Quando termino de proporcionar estes esclarecimentos prévios sobre o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga), acabou o tempo e as pessoas terão que se contentar em ir para casa mais confusas do que quando chegaram e sem que eu tenha podido dissertar sobre o conteúdo em si, o qual deveria ter sido o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) e não sobre a grafia, o gênero e a pronúncia da palavra Yôga (o Yôga, a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga)!

Assim, se o estimado leitor ainda não compreendeu qual é o objetivo de mencionarmos tantas vezes o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) neste pretensioso artigo, sugiro que se sente em posição de Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga) e faça uma boa e profunda meditação budista. Ou macrobiótica? Ah! Tanto faz, vem tudo do mesmo lugar, aquele tal de Oriente.

Assinado: DeRose

Professor de o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga)

Deus me livre! Que confusão! Vamos combinar assim: não me qualifique mais como
professor de o Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga).
Para todos os efeitos, sou consultor em qualidade de vida e administração de relações humanas
para adultos jovens e saudáveis.

 

Post scriptum: se eu soubesse que iria ser assim, não sei, não, se em 1960 eu teria optado por me tornar instrutor do Yôga (a Yôga, a Yóga, o Yóga, o Yoga, a Yoga, o ioga, a ioga).